Entrudo

O entrudo foi uma prática carnavalesca muito tradicional no Brasil entre os séculos XVII e XIX. Era manifestado por meio de folguedos nas ruas, com destaque para a molhadela.

Por Daniel Neves Silva

Pintura de Jean-Baptiste Debret retratando o entrudo.
O entrudo foi muito popular no Brasil entre os séculos XVII e XIX. [1]
Crédito da Imagem: Wikimedia Commons
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O entrudo foi uma prática carnavalesca que era realizada no Brasil e que foi muito comum entre os séculos XVII e XIX. Essa prática foi trazida para cá pelos portugueses, manifestando-se por meio de folguedos que eram muito tradicionais entre a população. O costume mais tradicional do entrudo era o jogo das molhadelas.

Nesse jogo, as pessoas usavam bexigas de cera, chamadas de “limões de cheiro”, que eram preenchidas com água ou com algum líquido malcheiroso, lançando as bexigas uns nos outros. A prática era criticada pelas elites, que lançaram uma campanha no século XIX para acabar com o entrudo. A repressão fez a prática ser abandonada no país.

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Resumo sobre o entrudo

  • O entrudo foi uma prática carnavalesca que foi realizada no Brasil.

  • Essa prática foi trazida ao Brasil pelos portugueses, sendo muito comum entre os séculos XVII e XIX.

  • O entrudo era realizado nos três dias anteriores à Quarta-feira de Cinzas.

  • O folguedo mais comum era o jogo das molhadelas, em que as pessoas lançavam bexigas com líquidos uns nos outros.

  • A campanha das elites contra o entrudo e a repressão policial fizeram a prática desaparecer do Brasil.

O que é o entrudo?

O entrudo foi uma prática carnavalesca que foi praticada no Brasil de maneira intensa entre os séculos XVII e XIX, quando então deixou de existir. Essa prática era realizada nos três dias anteriores à Quarta-feira de Cinzas, dia que marca o início da Quaresma. Os três dias anteriores eram, portanto, repleto de brincadeiras e de zombaria nas ruas, antes do período de restrições da Quaresma.

Esse costume se espalhava por diversas partes do Brasil, sendo popular, principalmente, na cidade do Rio de Janeiro, capital do Brasil. Ficou marcado pela sua manifestação popular, que tomava as ruas das cidades, mas também era realizado de maneira privada, sobretudo, pelas famílias mais ricas que não gostavam de participar da zombaria pública.

O entrudo era repleto de brincadeiras, mas a mais tradicional delas era o jogo das molhadelas, que consistia em utilizar bexigas de cera que eram cheias de líquidos e lançá-las nas pessoas que estivessem nas ruas. Enquanto uma prática popular, o entrudo foi muito criticado pelas elites que reforçaram a repressão a essa prática no século XIX.

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História do entrudo

O entrudo é um costume carnavalesco que se consolidou na Europa durante a Idade Média, acontecendo nos dias que antecediam o início da Quaresma. Esse costume era realizado em Portugal, mas também em outros países, como a Espanha e a França, por exemplo. Acredita-se que o costume tenha se consolidado em Portugal no século XI.

O costume também era muito comum na Espanha, sendo conhecido lá como antruejo. Os historiadores acreditam que a prática do entrudo na Península Ibérica possa ter sido herdada dos povos que habitaram aquela região na Idade Antiga. Por sua vez, na Idade Média, o entrudo se estabelece como um momento de festividade e de liberação dos prazeres antes da repressão desses durante a Quaresma.

Que dia é o entrudo?

A celebração do entrudo no Brasil era realizada nos três dias anteriores à Quarta-feira de Cinzas. Era uma festividade popular que tomava as ruas e que permitia que as pessoas tivessem um momento de diversão coletiva antes da Quaresma.

Por que o entrudo foi proibido?

A repressão do entrudo no Brasil tem relação com a rejeição da celebração pelas elites brasileiras e com as iniciativas dessa elite de transformar as celebrações carnavalescas no Brasil em algo mais aproximado dos padrões de festividades europeus. As elites brasileiras criticavam bastante o entrudo, considerando-o uma prática grotesca a atrasada.

Foi no século XIX que a oposição das elites ao entrudo se fortaleceu e que uma intensa campanha se estabeleceu contra essa prática. Essa campanha moralista fez um uso intenso da imprensa para condenar a prática do entrudo, buscando “moralizar” e “civilizar a celebração do Carnaval aqui no Brasil.

As elites queriam que a celebração do Carnaval do Brasil se inspirasse nos bailes carnavalescos que eram realizados na Europa. A campanha da imprensa criticava profundamente o entrudo, e a polícia, com frequência, era mobilizada para interromper a prática do entrudo e prender as pessoas envolvidas com a prática. Houve diversas proibições ao entrudo no Brasil.

Essa campanha contra o entrudo enfraqueceu esse costume no Brasil na segunda metade do século XIX, fazendo com que o costume desaparecesse totalmente no começo do século XX. O desaparecimento do entrudo fez com que novas práticas se consolidassem na cultura carnavalesca do Brasil, dando origem a outras práticas, como os ranchos carnavalescos, por exemplo.

Entrudo no Brasil

O entrudo foi uma prática carnavalesca que foi trazida ao Brasil pelos portugueses durante o período da colonização, tendo chegado aqui por volta da década de 1640. Em Portugal, o entrudo se consolidou como uma festividade popular e, aqui no Brasil, também foi uma prática que esteve mais presente nas camadas populares.

Essa prática foi muito popular no Brasil até que a campanha de repressão do entrudo fez ele perder popularidade a partir do século XIX. Enquanto foi realizado, a prática mais tradicional do entrudo era o jogo das molhadelas. Haviam outras brincadeiras que eram realizadas durante o entrudo, mas o jogo das molhadelas foi a mais comum.

Pintura de Augustus Earle retratando o jogo das molhadelas, a principal brincadeira do entrudo.
O jogo das molhadelas era a principal brincadeira do entrudo.

Nessa brincadeira, eram confeccionadas bolas de cera que eram preenchidas com algum líquido. Esse líquido poderia ser água, mas também era muito comum que as bexigas fossem preenchidas com um líquido sujo com farinha ou com outros itens que fizessem a água desenvolver um cheiro ruim, de modo que, em casos extremos, até urina poderia ser usada.

As pessoas lançavam as bexigas sobre as pessoas que caminhavam na rua, e muitos ficavam nas sacadas de suas casas lançando as bexigas de cima. Essas bexigas eram chamadas de “limões de cheiro” e eram um item importante para muitas famílias, pois havia muitas famílias que se dedicavam na preparação dessas bexigas para vendê-las durante o entrudo.

Durante o entrudo, poderia ser utilizado barro para sujar outras pessoas ou outros tipos de zombarias que aconteciam nas ruas. Muitas famílias optavam por fazer esses folguedos na privacidade de seus lares. Importante mencionar que o entrudo, apesar de ser um momento de festividade e de zombaria, não rompia com as hierarquias sociais, assim, aqueles que participavam dele evitavam desrespeitar pessoas de classes consideradas “superiores”.

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Curiosidades sobre o entrudo

  • Considera-se que o entrudo desapareceu da cidade do Rio de Janeiro no ano de 1854.

  • O entrudo também contava com a participação dos escravos nas festividades.

  • O artista francês Jean-Baptiste Debret chegou a retratar o entrudo em uma obra de arte.

Crédito de imagem

[1] Wilfredo Rafael Rodriguez Hernandez / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

ARAÚJO, Patrícia Vargas Lopes de. Os festejos de entrudo no século XIX. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/tecap/article/download/10331/8118/35616.

ARAÚJO, Patrícia Vargas Lopes de. Outros tempos, outros carnavais: brincadeiras de entrudo e de Carnaval no Brasil (século XIX). Disponível em: https://periodicoscientificos.ufmt.br/territoriosefronteiras/index.php/v03n02/article/view/994.

MONTEIRO, Débora Paiva. O mais querido “fora da lei”: um estudo sobre o entrudo na cidade do Rio de Janeiro (1889-1910). Disponível em: http://www.encontro2010.rj.anpuh.org/resources/anais/8/1276734712_ARQUIVO_MONTEIRO_2010__ANPUHRJ.pdf.

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