Guerra dos Cem Anos

A Guerra dos Cem Anos foi a disputa entre ingleses e franceses, de 1337 a 1453, por tronos e terras. Joana d’Arc lutou em um dos quatro períodos desse longo confronto.
Representação do rei Henrique V na Batalha de Azincourt, França, no contexto da Guerra dos Cem Anos.
Representação do rei Henrique V na Batalha de Azincourt, França, no contexto da Guerra dos Cem Anos.
Imprimir
Texto:
A+
A-

A Guerra dos Cem Anos foi um conflito bélico que envolveu a Inglaterra e a França entre 1337 e 1453. A disputa era pelo trono francês e teve início quando os ingleses tentaram tomar o poder, motivados por interesses comerciais com Flandres, uma importante zona de indústria têxtil.

A guerra acabou sem um tratado que marcasse seu término, ao contrário da maioria. Franceses conseguiram reaver seus territórios enquanto os ingleses estavam se consumindo internamente com a Guerra das Duas Rosas. A Guerra dos Cem Anos trouxe como uma de suas consequências principais a consolidação da monarquia absolutista da Era Moderna.

Leia também: O que foram as Cruzadas?

Resumo sobre a Guerra dos Cem Anos

  • O contexto da Guerra dos Cem Anos foi o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna.
  • O estopim da guerra aconteceu quando o rei da Inglaterra, Eduardo III, alegou ter parentesco com o monarca falecido da França, a fim de tomar o trono e fortificar as relações comerciais.
  • O primeiro período se deu entre 1337 e 1364 e considera-se que foi vencido pelos ingleses. Esse período teve uma brecha de paz, durante os quase 10 anos em que a Europa passou pela peste negra.
  • No segundo período, de 1364 a 1389, houve a importante participação de Bertrand Du Guesclin, cavaleiro que foi capaz de unificar as tropas francesas e aumentar os impostos.
  • O terceiro Período (1380-1422) foi marcado por conflitos internos de ambos os lados.
  • O quarto e último período aconteceu entre 1422 e 1453 e teve como protagonista Joana d’Arc. A participação da camponesa foi fundamental para contribuir com o fim da Guerra dos Cem Anos.
  • As consequências da guerra foram: a consolidação dos Estados Nacionais Absolutistas como forma de governo que iria dominar a Era Moderna; o fim de vez do feudalismo; França com sentimentos nacionais e de unificação mais fortes e Inglaterra sem tentar buscar terras continentais na Europa.

Videoaula sobre a Guerra dos Cem Anos

Contexto histórico da Guerra dos Cem Anos

O contexto histórico da Guerra dos Cem Anos é temporalmente a passagem da Idade Média para a Idade Moderna. Politicamente estavam sendo formados os Estados Nacionais, com as regiões passando a ser governadas por um poder centralizado, ao contrário do que acontecia durante a Idade Média, quando governavam vários senhores feudais.

No novo regime, o poder estava centralizado nas mãos dos monarcas; começavam assim a surgir as primeiras monarquias, chamadas também de Estado Nacional Absolutista. Alguns desses soberanos da Era Moderna mantiveram certo domínio desde a Idade Média, como também eram militares, eles souberam conter as várias manifestações de camponeses no final do período, assim como os conflitos com outros reinos em formação.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Quais são as causas da Guerra dos Cem anos?

Uma das causas da Guerra dos Cem Anos foi a disputa pelo trono francês. Quando o rei Carlos IV faleceu em 1328, deixando vago o cargo, a Inglaterra tentou tomar o trono, não apenas pelo poder político, mas principalmente por motivos econômicos, já que algumas regiões da França, como Flandres, eram bem-sucedidas comercialmente, especialmente na venda de tecidos.

Naquele tempo, a região de Flandres possuía uma indústria têxtil cujos maiores compradores eram os ingleses, portanto, para os flandrenses, estar sob o domínio da Inglaterra era favorável. O rei da Inglaterra, Eduardo III, alegou então parentalidade, dizendo-se neto de um monarca francês, para justificar a unificação dos dois reinos e mantê-los sob seu comando.

Leia também: Império Carolíngio — o reino dos francos sob a dinastia carolíngia

Fases da Guerra dos Cem Anos

A Guerra dos Cem Anos foi um longo período de batalhas ocorridas entre França e Inglaterra que foi subdividido em quatro períodos, como veremos a seguir:

  • Primeiro período (1337 - 1364)

A Inglaterra saiu vitoriosa no primeiro período da Guerra dos Cem Anos, nas batalhas que ocorreram entre 1337 e 1364. Isso aconteceu porque as tropas inglesas eram bem maiores do que as francesas, dessa forma, Eduardo III tomou o norte do litoral francês.

Como dito anteriormente, os flandrenses apoiaram os ingleses; mais tarde, os nobres da Bretanha fizeram o mesmo, chegando a patrocinar o exército da Inglaterra.

Durante esse período, a Europa estava sendo assolada pela peste negra, que durou de 1346 a 1352 e matou 1/3 da população europeia. Por esse motivo, as batalhas foram temporariamente cessadas.

Quando a guerra foi retomada, a Inglaterra continuou em vantagem, avançando sobre terras francesas. A França, por sua vez, não possuía unidade; via-se que os nobres não eram muito fiéis à coroa francesa, pelo contrário, além de Flandres e Bretanha, outras regiões também passaram a se rebelar contra os danos e prejuízos causados pela guerra.

Esse fato levou Carlos V, monarca francês, a dar fim ao primeiro período da guerra, assinando um tratado com Eduardo III que liberava e reconhecia as terras da França que a Inglaterra havia tomado. Para tal acordo, os ingleses se comprometeram a não requisitar mais o trono francês.  

A Batalha de Crecy, quando Eduardo III, da Inglaterra, derrota Filipe VI, da França, no 1º Período da Guerra dos Cem anos.
A Batalha de Crecy, quando Eduardo III, da Inglaterra, derrota Filipe VI, da França, no 1º Período da Guerra dos Cem anos.
  • Segundo período (1364 - 1380)

Em 1364, o mesmo rei francês, Carlos V, que tinha assinado o acordo anterior com a Inglaterra, passou a não mais reconhecer o tratado, e as batalhas recomeçaram. As tropas da França atacaram as tropas inglesas, iniciando a reversão das derrotas do primeiro período.

Grande parte das vitórias da França no segundo período foram graças a Bertrand Du Guesclin. O maior feito desse cavaleiro foi fazer a integração das tropas e utilizar a forma de guerrilha para derrotar a Inglaterra. Essa unificação comprovou a relevância da centralização do poder, pois foi dessa maneira que a França conseguiu organizar os nobres – que já estavam até apoiando a nação inimiga – e ainda aumentar os tributos.

Com a morte dos monarcas, tanto de um lado quanto de outro, a guerra ficou amortecida. Quando Eduardo III faleceu, em 1377, o seu sucessor ao trono inglês, Ricardo II, era uma criança de apenas 10 anos. Três anos depois, morreu o monarca francês Carlos V, atenuando o exército francês.

  • Terceiro período (1380 - 1422)

Durante o terceiro período da Guerra dos Cem Anos, os dois reinos enfrentavam batalhas internas em seus próprios territórios. Do lado inglês, o rei Ricardo II foi destituído pela sua própria nobreza, que colocou Henrique V em seu lugar. Do lado francês, aconteciam confrontos em Borgonha, os nobres dessa região dividiram-se entre Armagnacs e Borguinhões. Essa rivalidade se transformou em uma guerra civil entre os que apoiavam os nobres de Borgonha e os apoiadores de Orléans.

Essas batalhas duraram quase trinta anos e enfraqueceram bastante a França, que já estava em guerra com a Inglaterra há tantos anos. Para aprofundar ainda mais a crise, o rei Carlos VI era apontado como alguém sem condições para governar, devido a problemas mentais. Ele foi chamado de louco e, por fim, substituído por uma junta governativa.

Por causa de todas essas tensões internas, os franceses não conseguiram reagir a contento às investidas dos ingleses, que aproveitaram o momento de crise para avançar sobre a França. Isso ocasionou uma das fases mais importantes da guerra, quando o próprio monarca da Inglaterra, Henrique V, atracou no norte da França, na Normandia, em 1415. Nesse mesmo ano, os ingleses ocuparam também Paris.

A França, dividida, enfraquecida e ocupada pela Inglaterra, reconheceu o domínio do norte pelos ingleses em 1420. Esse reconhecimento foi firmado no Tratado de Troyes, que também destronava Carlos VI e deserdava o seu filho. Como Henrique V, rei da Inglaterra, havia se casado com Catarina, filha do rei da França, ele também tomou o trono francês. Entretanto, seu reinado não durou muito tempo, pois ele morreu apenas dois anos depois. Nesse mesmo ano, 1422, faleceu também o rei inglês Carlos VI. A nobreza francesa iniciou então um processo de retomada de territórios perdidos para os ingleses, e o novo monarca, Carlos VII, assumiu a coroa, começando pelo centro da França, em Bourges.

  • Quarto Período (1422 - 1453)

O quarto e último período da Guerra dos Cem Anos é caracterizado principalmente pela participação da famosa Joana d’Arc, uma camponesa visionária. Ela lutou na guerra, comandando um regimento (unidade militar com vários batalhões) das forças armadas francesas e alcançou êxito, conferindo diversos fracassos à Inglaterra.

Dessa vez, quem estava em conflito interno eram os ingleses, que vivenciavam a Guerra das Duas Rosas. A reação francesa organizada por Joana D’Arc começou internamente, agindo contra os ingleses em regiões que eles haviam ocupado na França, mas logo passou também para áreas do território rival, aproveitando a crise que havia se instalado na Inglaterra. A França conseguiu retomar porções de terras que estavam nas mãos dos ingleses, mas ainda assim os Borguinhões mandaram prender Joana d’Arc. Em 1430, ela foi capturada e entregue aos ingleses, sendo julgada no Tribunal da Santa Inquisição e condenada à morte um ano depois.

Vitral representando Joana d'Arc após o cerco de Orléans. Ela foi uma das grandes figuras da Guerra dos Cem Anos.[1]
Vitral representando Joana d'Arc após o cerco de Orléans. Ela foi uma das grandes figuras da Guerra dos Cem Anos.[1]

Fim da Guerra dos Cem Anos

A Guerra dos Cem Anos chegou ao fim quando os ingleses praticamente abandonaram as batalhas para contornarem conflitos internos. Ademais, Joana d’Arc, a grande guerreira condenada pela Inquisição (mas que depois virou santa), passou por um verdadeiro tormento antes de morrer. Esse sofrimento impulsionou os soldados franceses que por ela haviam sido comandados a dar continuidade à guerra, em sua memória.

Em 1943, a cidade de Bordeaux foi retomada pela França. Mesmo que não tenha tido um acordo ou tratado de paz formal, essa derradeira conquista selou o fim da longuíssima guerra, marcada por inúmeros conflitos não só externos, como também internos nos dois reinos.

Leia também: Tortura na Inquisição — os métodos empregados na busca de uma confissão

Quais foram as consequências da Guerra dos Cem Anos?

Podemos apontar como as principais consequências para os franceses:

  • a unificação;
  • o sentimento nacionalista;
  • a consolidação da monarquia absolutista.

Para a Inglaterra:

  • desistência das tentativas de domínio sob a territórios continentais europeus.

De uma maneira geral, esses longos cem anos de conflitos trouxeram as seguintes consequências para toda a Europa:

  • o sistema feudal caiu por completo;
  • a burguesia se fortaleceu, assim como o poder dos monarcas, consolidando o Absolutismo da Era Moderna.

Créditos da imagem

[1] Joaquin Ossorio Castillo / Shutterstock

Por Mariana de Oliveira Lopes Barbosa

Videoaulas