Pan-eslavismo

O pan-eslavismo é uma ideologia que surgiu no século XIX e defende a união de todos os povos eslavos da Europa.

Por Jair Messias Ferreira Junior

Mapa com atuais países de língua eslava na Europa.
Mapa com atuais países de língua eslava na Europa. Em verde-claro, eslavos ocidentais; em verde-escuro, os do sul; e, em verde, os eslavos orientais.
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O pan-eslavismo é a ideologia que defende que os povos eslavos, por possuírem uma mesma língua, cultura e história, devem se unir em uma nação eslava. A ideologia surgiu no início do século XIX e ganhou força durante esse período, recebendo influência do romantismo.

O pan-eslavismo dos povos eslavos do sul defendia a construção de um Estado eslavo nos Bálcãs, com autonomia em relação à Rússia. Esse objetivo foi alcançado em 1918, com a fundação da Iugoslávia.

O pan-eslavismo defendido pelos russos prega a anexação dos países eslavos da Europa oriental ao território da Rússia. Esse tipo de pan-eslavismo ainda permeia a sociedade russa, inclusive está presente no discurso de membros de partidos ultranacionalistas do país.

Leia também: Revolução Russa — o processo revolucionário que levou ao fim do czarismo

Resumo sobre o pan-eslavismo

  • Pan-eslavismo é a ideologia que defende a união dos povos eslavos da Europa.
  • O Congresso Pan-Eslavo de 1848 é considerado o primeiro momento em que lideranças de movimentos pan-eslavos de diversos países entraram em contato entre si. O azul, o branco e o vermelho foram adotados pelo congresso como as cores eslavas.
  • Foram grupos pan-eslavistas que cometeram o atentando contra Francisco Ferdinando, herdeiro da coroa austro-húngara. Esse atentado é considerado o estopim da Primeira Guerra Mundial.
  • Após o fim da Primeira Guerra Mundial, foi criada a Iugoslávia, a “terra dos eslavos do sul”.

O que foi o pan-eslavismo?

O pan-eslavismo é uma ideologia que defende a união de todos os povos eslavos. Os eslavos são uma das três principais etnias da Europa, assim como os latinos e os germânicos. Os eslavos são geralmente divididos em três grupos principais, os do oriente, do ocidente e do sul.

Fazem parte dos grupos eslavos do sul a maior parte da população da Croácia, Macedônia do Norte, Bulgária, Eslovênia, Sérvia, Bósnia-Herzegovina e Eslovênia. A maior parte dos eslavos do oriente vive na Rússia, Belarus e Ucrânia. Os eslavos ocidentais habitam principalmente regiões da Polônia, Áustria e Hungria.

Foi principalmente entre os eslavos do sul que o pan-eslavismo foi mais popular no fim do século XIX e início do XX, inspirando diversos movimentos. Os eslavos do sul foram historicamente conquistados por diversos povos, Império Bizantino, Império Austro-Húngaro e pelo Império Turco-Otomano.

Bandeira pan-eslava, proposta pelo Primeiro Congresso Pan-Eslavo.
Bandeira pan-eslava, proposta pelo Primeiro Congresso Pan-Eslavo.

Assim como o pan-germanismo, o pan-eslavismo se originou durante as guerras napoleônicas. Em junho de 1848, ocorreu o Primeiro Congresso Pan-Eslavo, em Praga. Representantes eslavos de diversas regiões de Europa debateram sobre propostas comuns para todos os eslavos. O congresso terminou com uma declaração para todos os países da Europa, nela os participantes do congresso exigiam o fim imediato de todas as violências praticadas contra eslavos por Estados europeus.

Durante a década de 1860, diversos pan-eslavistas se mudaram para a Rússia, sendo a ideologia difundida no país. Lá o pan-eslavismo se modificou e passou a propor que a Rússia controlasse toda a Europa Oriental, povoada por maioria eslava, e que restaurasse nessa região os costumes eslavos, que, na visão dos intelectuais russos, estavam sendo perdidos.

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Objetivos do pan-eslavismo

Como o pan-eslavismo é uma ideologia e inspirou diversos movimentos, vários eram seus objetivos, dependendo do local, período e de qual grupo político estamos analisando.

Na Rússia, desde o século XIX, o pan-eslavismo defendeu a união de todas as regiões de maioria eslava em um único território, que seria governado pela Rússia. Durante o período da União Soviética, o pan-eslavismo foi combatido pelo governo por ser considerado uma ideologia burguesa. Com o fim da URSS, o movimento voltou a ganhar força na Rússia.

Atualmente o partido ultranacionalista, Unidade Nacional Russa, defende que as regiões eslavas do leste da Europa devem ser integradas ao território russo. O discurso pan-eslavista, e da preservação das tradições eslavas, é utilizado para justificar a invasão russa à Ucrânia.

Entre os eslavos do sul, o principal objetivo era a criação de um Estado eslavo, independente e sem influência da Áustria-Hungria ou do Império Turco-Otomano. Esse objetivo foi alcançado após a Primeira Guerra Mundial, quando a Iugoslávia, ou “terra dos eslavos do sul”, foi criada. O novo país adotou a bandeira pan-eslava como símbolo nacional. A Iugoslávia existiu até 1992, quando se fragmentou em diferentes Estados.

Leia também: Desdobramentos da Segunda Guerra Mundial na Iugoslávia

Pan-eslavismo na Primeira Guerra Mundial

Entre os eslavos do sul, o pan-eslavismo foi muito popular na Sérvia. Diversos movimentos pan-eslavos surgiram na região, alguns deles eram armados e praticavam atentados contra autoridades civis e militares da Áustria-Hungria. Entre esses grupos, estavam a Sociedade Secreta, a Defesa do Povo, a Mão Negra e os Jovens Bósnios. Estes dois últimos planejaram e executaram em conjunto o Atentado de Sarajevo.

Representação do Atentado de Sarajevo, quando Gavrilo atira em Sofia e Ferdinando. Capa de um jornal italiano de 12/07/1914.
Representação do Atentado de Sarajevo, quando Gavrilo atira em Sofia e Ferdinando. Capa de um jornal italiano de 12/07/1914.

Em 28 de junho de 1914, o herdeiro do trono austro-húngaro, Francisco Ferdinando, e sua esposa, Sofia, desfilavam em carro aberto pelas ruas de Sarajevo quando foram atacados por Gavrilo Princip, militante pan-eslavo. Ferdinando e Sofia acabaram falecendo no atentado, e Gavrilo foi preso, morrendo anos depois na cadeia.

Os eventos causados pelo atentado levaram a Áustria-Hungria a declarar guerra à Sérvia, o que levou a Rússia, aliada da última, a declarar guerra à Áustria-Hungria, fazendo com que Alemanha, França, Inglaterra e outros países entrassem na guerra. Assim se iniciou a Primeira Guerra Mundial.

Durante a guerra, a maioria dos eslavos do sul lutou no lado da Entente, com os eslavos combatendo nas trincheiras dos Bálcãs. A exceção foi a Bulgária, cujos eslavos lutaram no lado das Potências-Centrais. Com o fim da guerra, a Iugoslávia foi criada, unindo os eslavos do sul em um único território.

Diferenças e semelhanças entre pan-eslavismo e pan-germanismo

As grandes semelhanças entre os movimentos pan-germânico e pan-eslavo eram a forte presença do nacionalismo e a ideia de que pessoas que compartilhassem a mesma história, língua e cultura deveriam viver em seu próprio território e possuir seu próprio governo.

O pan-germanismo foi liderado pela Prússia e pela sua sucessora, a Alemanha. O movimento também foi forte na Áustria, cuja maior parte da população era de origem alemã. O pan-germanismo se localizou geograficamente na Europa Central. Para saber mais sobre o pan-germanismo, clique aqui.

Fontes

BLANC, Claudio. Primeira Guerra Mundial, a guerra que acabaria com todas as guerras. Editora Camelot, 2014.

CLARCK, Christopher. Os sonâmbulos – Como eclodiu a Primeira Guerra. Companhia das Letras, São Paulo, 2014.

MAGALHÃES, Marionilde Brepohl. Pangermanismo e nazismo. Editora Unicamp, Campinas, 1998.

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