Por Rainer Sousa
A partir da década de 1870, o Brasil Imperial começaria a sofrer diversos tipos de oposição ao seu regime e a defesa da instalação de uma República em seu lugar. Em um primeiro momento, podemos achar que tal situação demonstrava a crise do sistema que consolidou a independência e a unidade do território brasileiro e a clara influência que o país tinha das experiências políticas europeias interessadas em decretar a extinção do Antigo Regime.
Mesmo coerente, devemos salientar que essa leitura consolida uma visão bastante limitada sobre as figuras políticas e intelectuais que participaram desse momento de transição. A questão republicana no Brasil ganha tons bastante particulares considerando que os defensores desse novo regime não promoviam uma réplica das discussões e ideais no Velho Mundo, mas também conferia uma relação específica de como a República atingiria os problemas daquele tempo.
Bastante preocupados com a questão do desenvolvimento e da modernização do país, os republicanos brasileiros acreditavam que a monarquia operava como o grande sustentáculo do escravismo. Para eles, o uso da mão de obra escrava colocava o país em posição social, econômica e moral inferior em relação às demais nações industrializadas que abandonaram esse tipo de relação de trabalho. De tal modo, o império era combatido por nutrir o próprio atraso nacional.
Desse modo, vemos que o republicanismo desenvolvido no Brasil Império parecia instaurar uma visão dicotômica entre os problemas da época e a respectiva solução para os mesmos. Em outras palavras, enquanto o governo imperial representava a origem e a manutenção de várias mazelas e atrasos, a República se postava como a mais moderna e apropriada solução para que novos tempos fossem vividos. No entanto, não cabe dizer que os republicanos pensavam o novo regime da mesma forma.
Claramente, vemos que uma parcela dos republicanos era influenciada pelo positivismo corrente no século XIX. Fortalecida em valores de natureza racional, o governo republicano estaria naturalmente mais apto em relação às tradições e desmandos que permeiam a monarquia. Além dos positivistas, também devemos destacar que alguns textos influenciados pelo socialismo utópico abraçavam a causa republicana e seus preceitos democráticos como forma de atendimento aos anseios populares.
Desse modo, ao tomar tais características, vemos que o republicanismo não só empreende a função de instrumento de ataque ao regime imperial. Ao ser tomado por diferentes tendências, a república assume a capacidade de oferecer resposta a diferentes setores da intelectualidade daquele tempo. Além de atacar a Coroa e a escravidão, a defesa de um novo modelo político nos revela as nuances do cenário político e intelectual dos fins do século XIX.
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