Guerra de Canudos

A Guerra de Canudos foi um conflito travado, de 1896 a 1897, entre as tropas da Primeira República e uma comunidade sertaneja da Bahia liderada por Antônio Conselheiro.

Por Tiago Soares Campos

Homens, mulheres e crianças rendidos pelas tropas do governo em 1897, no final da Guerra de Canudos.
Homens, mulheres e crianças rendidos pelas tropas do governo em 1897, no final da Guerra de Canudos.
Crédito da Imagem: Commons
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A Guerra de Canudos foi um conflito ocorrido entre 1896 e 1897 no sertão baiano. Foi um conflito armado entre o governo da recém-instaurada república brasileira e uma comunidade liderada por Antônio Conselheiro. Inserida em um contexto de grande insatisfação social e abandono governamental no Brasil pós-proclamação da república, a guerra teve como causas principais a miséria no sertão, a concentração de terras, e a oposição religiosa e política ao novo regime.

Caracterizado por quatro expedições militares, das quais a última resultou na destruição completa da comunidade, o conflito envolveu sertanejos marginalizados enfrentando as tropas do governo.

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Resumo sobre Guerra de Canudos

  • A Guerra de Canudos foi um conflito armado que ocorreu entre 1896 e 1897 no sertão baiano.
  • A guerra foi travada entre o governo da recém-estabelecida república brasileira e uma comunidade liderada por Antônio Conselheiro.
  • Antônio Conselheiro foi uma figura religiosa e política que fundou a comunidade de Canudos em 1893 e liderou um movimento de resistência contra o governo republicano.
  • As causas da Guerra de Canudos foram a miséria e o abandono social no sertão, a concentração fundiária, a oposição religiosa ao governo republicano e a percepção da comunidade de Canudos como uma ameaça política à nova ordem republicana.
  • A destruição de Canudos ocorreu em outubro de 1897, quando a quarta expedição militar do governo cercou e arrasou a comunidade.
  • A maioria dos habitantes de Canudos foi exterminada, e Antônio Conselheiro foi morto, marcando o fim trágico do movimento.
  • A Guerra de Canudos foi um dos conflitos mais violentos da história do Brasil.

Videoaula sobre Guerra de Canudos

O que foi a Guerra de Canudos?

A Guerra de Canudos foi um conflito armado que ocorreu no final do século XIX, no sertão da Bahia, Brasil, entre 1896 e 1897. O episódio foi marcado pela resistência de uma comunidade liderada por Antônio Conselheiro, que se estabeleceu na região de Canudos.

Essa guerra envolveu o governo da recém-instaurada república brasileira e os moradores de Canudos, resultando em uma das maiores tragédias da história do Brasil, com a morte de milhares de pessoas.

A Guerra de Canudos é frequentemente lembrada como um símbolo da resistência popular contra a opressão estatal e a marginalização das classes mais pobres.

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Contexto histórico da Guerra de Canudos

O Brasil do final do século XIX passava por intensas transformações políticas, sociais e econômicas. A proclamação da república, em 1889, trouxe mudanças significativas mas também gerou insatisfações, especialmente entre as populações mais pobres e desassistidas. A abolição da escravatura, em 1888, deixou milhares de ex-escravizados sem acesso a terra e a recursos, aumentando a miséria no campo.

No Nordeste, a situação era ainda mais crítica devido à seca, à pobreza e ao abandono por parte do governo central. Foi nesse contexto de insatisfação social e desamparo que surgiu o movimento liderado por Antônio Conselheiro, que pregava uma vida comunitária baseada na fé, na partilha e na rejeição ao governo republicano, visto por muitos como ilegítimo e opressor.

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Causas da Guerra de Canudos

Habitações de Canudos em fotografia de 1895, antes da Guerra de Canudos.
Habitações de Canudos em 1895. Em um contexto de extrema pobreza, a figura de Antônio Conselheiro atraiu muitos seguidores.

As causas da Guerra de Canudos podem ser divididas em sociais, econômicas, religiosas e políticas. Socialmente, o sertão baiano era uma região de extrema pobreza, onde a população sofria com a seca, a falta de oportunidades e o abandono estatal. A pregação de Antônio Conselheiro oferecia uma alternativa a essa população marginalizada, atraindo milhares de seguidores que viam em sua mensagem uma esperança de vida melhor.

Economicamente, a concentração de terras nas mãos de poucos e a exclusão dos pequenos agricultores e ex-escravizados geravam uma enorme desigualdade, fomentando o ressentimento contra os grandes proprietários e o governo.

Religiosamente, Conselheiro representava uma oposição à Igreja Católica oficial, que apoiava a república e era vista como distante das necessidades do povo. Politicamente, o movimento de Canudos era interpretado como uma ameaça ao novo regime republicano, que via na comunidade uma afronta à ordem estabelecida e uma possível restauração monarquista.

Características da Guerra de Canudos

A Guerra de Canudos foi marcada por quatro expedições militares enviadas pelo governo federal para sufocar a rebelião. As três primeiras expedições, mal equipadas e mal organizadas, foram derrotadas pelos sertanejos, que conheciam bem o terreno e lutavam com grande determinação. A quarta e última expedição, composta por milhares de soldados, cercou Canudos, e, após meses de combates intensos e um brutal cerco, conseguiu destruir a comunidade.

A guerra foi extremamente violenta, com o uso de artilharia pesada por parte das tropas governamentais e a resistência feroz dos defensores de Canudos, que lutaram até o fim, mesmo diante de condições insustentáveis. A guerra terminou em outubro de 1897, com a destruição completa da comunidade e a morte de Antônio Conselheiro e seus seguidores.

Quem participou da Guerra de Canudos?

Os principais participantes da Guerra de Canudos foram os sertanejos liderados por Antônio Conselheiro e as tropas do governo republicano. Os sertanejos eram, em sua maioria, camponeses pobres, ex-escravizados, pequenos agricultores e pessoas marginalizadas pela sociedade da época. Esses homens, mulheres e crianças formaram a comunidade de Canudos, vivendo de forma comunitária e seguindo os ensinamentos de Conselheiro.

Do outro lado, as tropas do governo eram compostas por soldados do Exército Brasileiro, reforçados por voluntários e mercenários. A liderança militar das expedições variou ao longo do conflito, sendo o general Artur Oscar de Andrade Guimarães o comandante da última e mais violenta expedição. Além dos combatentes, a guerra também envolveu a participação indireta de grandes latifundiários, que viam em Canudos uma ameaça à sua influência na região.

Quem foi Antônio Conselheiro?

Antônio Vicente Mendes Maciel, mais conhecido como Antônio Conselheiro, foi o líder religioso e político da comunidade de Canudos. Nascido no Ceará em 1830, Conselheiro viveu uma vida marcada por tragédias pessoais, o que o levou a se tornar um peregrino, pregando uma mensagem de fé e justiça social pelos sertões nordestinos. Sua pregação atraía multidões, principalmente os pobres e marginalizados, que viam nele um guia espiritual e um defensor de seus direitos.

Conselheiro era crítico do governo republicano, que ele acreditava ser ilegítimo e contrário aos valores cristãos. Ele fundou a comunidade de Canudos em 1893, onde implementou sua visão de uma sociedade justa, baseada na partilha e na religiosidade. Antônio Conselheiro morreu em 1897, durante o cerco final a Canudos, e seu corpo foi exumado e examinado pelas tropas vitoriosas, que buscavam provar que ele era louco, o que se revelou uma tentativa de desmoralizar sua figura.

Corpo de Antônio Conselheiro, líder da Guerra de Canudos.
A única foto conhecida de Antônio Conselheiro é da exumação do seu corpo.

Localização da comunidade de Canudos

A comunidade de Canudos estava localizada no sertão da Bahia, em uma área conhecida por sua aridez e dificuldades climáticas. Canudos ficava à margem do rio Vaza-Barris, em uma região de difícil acesso, o que inicialmente ajudou a proteger a comunidade das investidas governamentais.

Mapa da localização de Canudos em texto sobre Guerra de Canudos.
Localização de Canudos.[1]

O isolamento geográfico de Canudos permitiu que a comunidade crescesse sem interferências externas por alguns anos, até que suas atividades começaram a ser vistas como uma ameaça pelo governo republicano. A localização de Canudos, em um território hostil e de difícil navegação, também contribuiu para as dificuldades enfrentadas pelas tropas governamentais nas primeiras expedições.

Destruição de Canudos

A destruição de Canudos ocorreu em outubro de 1897, após meses de cerco e combates intensos. A quarta expedição enviada pelo governo republicano, composta por cerca de 12 mil soldados, finalmente conseguiu cercar e derrotar os defensores de Canudos. A artilharia pesada e a superioridade numérica das tropas foram determinantes para o desfecho do conflito.

Canudos foi completamente arrasada, com as casas sendo destruídas e a população exterminada. Os poucos sobreviventes, em sua maioria mulheres e crianças, foram mortos ou feitos prisioneiros. A brutalidade da destruição foi tamanha que a guerra ficou marcada na história como um dos episódios mais trágicos e sangrentos do Brasil. A cidade foi queimada e arrasada, e o corpo de Antônio Conselheiro foi desenterrado e exposto publicamente como uma forma de humilhar o movimento.

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Consequências da Guerra de Canudos

A Guerra de Canudos teve várias consequências para o Brasil, tanto imediatas quanto de longo prazo. Imediatamente, o conflito expôs as fragilidades do governo republicano e sua incapacidade de lidar com questões sociais profundas, como a pobreza e a desigualdade no sertão nordestino. A brutalidade com que o governo reprimiu a comunidade de Canudos gerou críticas e controvérsias, tanto no Brasil quanto no exterior, onde o conflito foi amplamente noticiado.

A guerra também deixou um legado de violência e repressão que marcaria o relacionamento entre o Estado brasileiro e as populações do sertão por décadas. Em termos históricos, a Guerra de Canudos foi um marco na luta dos oprimidos contra o poder centralizado e uma demonstração das consequências trágicas da marginalização social e econômica.

Além disso, o conflito inspirou importantes obras da literatura brasileira, como o livro Os sertões, de Euclides da Cunha, que se tornou uma referência fundamental para o estudo da guerra e de seus impactos na sociedade brasileira.

Exercícios resolvidos sobre a Guerra de Canudos

1. A Guerra de Canudos, ocorrida entre 1896 e 1897, no sertão da Bahia, foi um dos conflitos mais emblemáticos da história do Brasil.  É frequentemente estudada como um exemplo de resistência popular contra o governo central. Nesse contexto, qual das seguintes afirmações melhor explica a razão pela qual o governo republicano considerou a comunidade de Canudos uma ameaça ao seu poder?

A) Porque a comunidade de Canudos era contrária à abolição da escravatura e defendia a restauração da monarquia.

B) Porque Antônio Conselheiro liderava um movimento que pregava o retorno ao catolicismo tradicional e o abandono do regime republicano.

C) Porque Canudos se tornou um centro de poder militar, desafiando a autoridade do Exército Brasileiro na região.

D) Porque a comunidade de Canudos rejeitava o pagamento de impostos e a obediência às leis republicanas, propondo uma nova forma de organização social.

E) Porque o governo republicano temia que o sucesso de Canudos inspirasse outras regiões do país a se rebelarem contra o novo regime.

Resposta correta: E

A alternativa E é a correta, pois o governo republicano temia que o exemplo de Canudos, uma comunidade autossuficiente e independente, inspirasse outras regiões do Brasil a questionarem e se rebelarem contra a nova ordem estabelecida pela república. Essa ameaça potencial à estabilidade do regime levou o governo a reagir com extrema violência, visando não apenas a derrotar Canudos como também a desestimular qualquer outro movimento semelhante.

2. Antônio Conselheiro foi uma figura central na Guerra de Canudos, liderando uma comunidade que se formou no sertão da Bahia como uma resposta às condições de extrema pobreza e abandono enfrentadas pelas populações locais.  Considerando o papel de Antônio Conselheiro na Guerra de Canudos, qual das alternativas a seguir melhor descreve a razão pela qual sua liderança foi tão eficaz em mobilizar os sertanejos contra o governo republicano?

A) Antônio Conselheiro utilizou sua influência como ex-sacerdote para organizar um exército de mercenários profissionais.

B) Sua pregação oferecia uma esperança espiritual e social em um contexto de extrema miséria e abandono, criando uma forte coesão entre os sertanejos.

C) Ele tinha uma vasta experiência militar, que utilizou para treinar os sertanejos em técnicas de guerrilha contra o Exército Brasileiro.

D) Conselheiro prometeu a seus seguidores riquezas materiais e a redistribuição de terras conquistadas durante o conflito.

E) Sua liderança baseou-se em promessas de apoio estrangeiro para derrotar o governo republicano e estabelecer um novo governo monárquico.

Resposta correta: B

A alternativa B é a correta, pois Antônio Conselheiro conseguiu mobilizar os sertanejos oferecendo uma mensagem de esperança espiritual e social em um contexto de extrema miséria, abandono e marginalização. Sua liderança foi eficaz porque ele conseguiu criar um forte senso de comunidade e coesão entre os seus seguidores, que viam em sua mensagem uma alternativa ao desamparo em que viviam, o que foi determinante para a resistência contra o governo.

Créditos da imagem

[1] Wikimedia Commons

Fontes

CAMPOS, T. Compêndio de História do Brasil – Volume III: República. São Paulo, Cosenza, 2024.

FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2009.

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