Comuna de Paris

A Comuna de Paris (França), implantada em 1871, durou 72 dias e é considerada a primeira forma de organização do poder operário com viés socialista da história moderna.
Barricada realizada durante a Comuna de Paris.
Barricada realizada durante a Comuna de Paris.
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A Comuna de Paris é considerada a primeira forma de organização do poder operário com viés socialista da história moderna. Foi implantada entre 18 de março e 28 de maio de 1871, na França, e esteve inserida no contexto de derrota francesa durante a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871); de intensificação das desigualdades sociais e degradação das condições de trabalho dos operários; e de veiculação e expansão dos ideais socialistas e anarquistas.

A Comuna de Paris é importante pelo que ela realizou e anunciou. Dela se extraíram ensinamentos que seriam importantes para a realização de experiências futuras, como a Revolução Russa de 1917 e a Revolução Chinesa de 1949. Além disso, ela é fundamental para a compreensão de experiências revolucionárias posteriores e atuais.

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Resumo sobre a Comuna de Paris

  • A Comuna de Paris, implantada entre 18 de março e 28 de maio de 1871, na França, é considerada a primeira forma de organização do poder operário com viés socialista da história moderna.
  • Esteve inserida no contexto de aprofundamento das desigualdades sociais em função da Revolução Industrial e da derrota francesa durante a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871).
  • Ocorreu durante a Terceira República Francesa (1870-1940), no governo do presidente burguês Adolphe Thiers. 
  • O movimento era composto predominantemente pelos proletários parisienses, influenciados por, pelo menos, três correntes teóricas, entre elas o marxismo e o anarquismo.
  • A participação feminina se deu nas discussões políticas e sociais que se estabeleciam nos sindicatos, comitês e clubes da cidade; na luta pelos direitos civis; e na formação das barricadas, inclusive pegando em armas para guardar as muralhas.
  • O presidente Thiers reprimiu fortemente a comuna com o apoio do governo prussiano, e a Terceira República saiu vitoriosa.

Videoaula sobre a Comuna de Paris

O que foi a Comuna de Paris?

A Comuna de Paris, implantada entre 18 de março e 28 de maio de 1871, em Paris, na França, é considerada a primeira forma de organização do poder operário com viés socialista da história moderna resultante das lutas operárias internacionais. Ela proclamou uma república trabalhista na França, colocando os operários no poder por 72 dias. Cidades como Paris, Toulouse, Lion e Marselha estiveram envolvidas na comuna.

Pautada na autogestão e na coletividade, a comuna defendeu ideais de igualdade, buscando a melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores. Inserida no contexto de derrota francesa durante a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), ela ocorreu durante a Terceira República Francesa (1870-1940), no governo do presidente burguês Adolphe Thiers. Foi iniciada em 18 de março de 1871, e foi fortemente reprimida pelo governo francês, com o apoio da Prússia, sendo finalizada em 28 de maio do mesmo ano.

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Antecedentes históricos e causas da Comuna de Paris

Durante o governo de Napoleão III, sobrinho de Napoleão Bonaparte e imperador do Segundo Império Francês, a França amargou a derrota na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871). O exército francês, humilhado, havia perdido muitos oficiais, e o seu líder, Napoleão III, foi capturado e preso pelo primeiro-ministro prussiano Otto von Bismarck.

Diante da situação, a França foi condenada a pagar um conjunto de pesadas indenizações, entre elas: entregar a região rica em minérios de Alsácia-Lorena à Alemanha por meio da assinatura do Tratado de Frankfurt. A Unificação Alemã, associada à derrota da Guerra Franco-Prussiana e à prisão do imperador francês, deu início à Terceira República Francesa (1870-1940), sob a liderança do presidente burguês Adolphe Thiers.

Além disso, o aprofundamento das desigualdades sociais e a precariedade intensificada em decorrência da Revolução Industrial, associados ao surgimento de teorias socialistas por Saint-Simon e Robert Owen, além da publicação do Manifesto Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels, em 1948, deram força ao movimento operário. Assim, a Comuna de Paris inseriu-se no contexto de expansão dos ideais socialistas e anarquistas; de aprofundamento das desigualdades sociais; e da derrota dos franceses para os alemães durante a Guerra Franco-Prussiana.

A situação vivida pelo povo na França era de grande insatisfação popular devido à derrota no conflito e aos altos impostos que população deveria pagar. Descontentes com a situação social, política e econômica do país, os operários saíram às ruas em 1871 para protestar. No dia 18 de março, voltaram-se contra o governo republicano de Adolphe Thiers e formaram um comitê central, dando início à Comuna de Paris.  

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Principais objetivos da Comuna de Paris

A Comuna de Paris defendeu:

  • separação entre o Estado e a Igreja (Estado laico);
  • plena igualdade civil entre homens e mulheres;
  • criação de um sistema de autogestão nas fábricas, que passariam o comando para os operários;
  • melhores condições habitacionais para a população;
  • ampliação de direitos trabalhistas;
  • diminuição da jornada de trabalho;
  • ensino gratuito e laico;
  • substituição do exército por uma guarda nacional;
  • instituição de um salário mínimo;
  • criação de uma previdência social;
  • instituição de elegibilidade para os cargos políticos;
  • proibição da acumulação de postos de trabalho;
  • limitação da jornada de trabalho para oito horas diárias;
  • adiantamento dos prazos para o pagamento de dívidas;
  • criação de medidas para controlar o aumento dos preços dos produtos;
  • defesa de medidas sociais, como a distribuição de alimentos;
  • abolição da pena de morte;
  • fim do serviço militar obrigatório;
  • possibilidade de revogação de mandados de representantes eleitos. 

Tomada de Paris e início da Comuna de Paris

No dia 18 de março, os communards — formados por operários, classe média empobrecida, mulheres, crianças, soldados, estudantes e intelectuais — voltaram-se contra o governo republicano do burguês Adolphe Thiers e formaram um comitê central. A Comuna de Paris foi composta por 90 membros próximos aos ideais socialistas e eleitos por meio do sufrágio universal.

A radicalização da comuna se deu por meio da tomada da Prefeitura e da Câmara de Paris. Temendo a situação, Adolphe Thiers fugiu para o Palácio de Versalhes, reunindo forças militares para retornar a Paris em 21 de maio, dando início à Semana Sangrenta.

O que foi a Semana Sangrenta?

A Semana Sangrenta, iniciada em 21 de maio de 1871, foi a resposta dada pelo presidente Adolphe Thiers à Comuna de Paris, após a radicalização dela. Temendo a situação, Thiers fugiu para o Palácio de Versalhes, reunindo forças militares para retornar a Paris em 21 de maio. No combate, foram mortos mais de 21 communards. Além disso, teve o saldo de 38 mil prisões e, aproximadamente, 7500 deportações.

Participação das mulheres na Comuna de Paris

Retrato de Victorine Gorget, uma liderança na Comuna de Paris.
Victorine Gorget participou ativamente da Comuna de Paris, sendo considerada uma líder.

A participação feminina foi fundamental durante o processo de formação e de defesa da Comuna de Paris. As mulheres francesas estavam submetidas ao Código Napoleônico, no qual eram consideradas civilmente incapazes. No contexto da comuna, as mulheres viviam em grande situação de desigualdade de gênero, trabalhando longas jornadas nas fábricas em situações degradantes e ganhando o equivalente à metade do salário masculino.

Apesar de nenhuma mulher ter sido eleita para a formação do Comitê da Comuna de Paris, refletindo a sociedade desigual do período, elas se mobilizaram no bairro parisiense de Montmartre, tendo como o lema “A comuna ou a morte”.

Muitas mulheres (como Élisabeth Dmitrieff, Nathalie Lemel, Louise Michel, Anne Jaclard e Victorine Gorget) participaram da Comuna de Paris por meio das discussões políticas e sociais que se estabeleciam nos sindicatos, comitês e clubes da cidade. Alguns desses lugares foram: o Clube da Revolução Social, instalado na Igreja de Saint-Michel des Batignolles; o Comitê das Mulheres de Monitoramento; e espaços criados para cuidar das vítimas de combates, como o Movimento Sindical das Mulheres para a defesa de Paris e o cuidado dos feridos.

Além disso, as mulheres foram atuantes na gestão da vida cotidiana, na defesa da ideia de emancipação econômica feminina, na luta pelos direitos civis e na formação das barricadas, inclusive pegando em armas para guardar as muralhas, enquanto os homens faziam investidas contra as tropas de Versalhes.

Ao final da revolução, mais de mil mulheres foram presas, sofrendo punições muitas vezes mais severas que as dos homens, sendo acusadas de roubo e prostituição.

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Fracasso da Comuna de Paris

Temendo o fortalecimento da comuna, o presidente Thiers conseguiu reunir aproximadamente 100 mil soldados, com o apoio da Prússia e da burguesia.  Ao final da Comuna de Paris, as medidas tomadas pelos communards foram suspensas e a ordem liberal foi restabelecida.

Apesar da derrota, os movimentos operários de outros países passaram a ter a Comuna de Paris como exemplo e modelo de possibilidade de tomada de poder por parte do operariado.

Importância da Comuna de Paris

Apesar de sua curta duração de 72 dias, a Comuna de Paris é considerada a primeira forma de governo socialista implementada na história como resultado das lutas operárias internacionais. Pautada na autogestão e na coletividade, a Comuna de Paris defendeu ideais de igualdade, buscando a melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores.

Os ideais defendidos durante a comuna serviram e ainda servem como caminhos a serem percorridos nas lutas operárias. Além disso, a comuna inspirou lutas feministas posteriores pela igualdade de gênero.

 Quais as consequências da Comuna de Paris?

A Comuna de Paris possibilitou a formação de um governo socialista, ainda que por um curto tempo, pautado na defesa dos ideais socialistas. Dela se extraíram ensinamentos que seriam importantes para a realização de experiências futuras, como a Revolução Russa de 1917 e a Revolução Chinesa de 1949. Além disso, ela é fundamental para a compreensão de experiências revolucionárias posteriores e atuais.

A significativa participação das mulheres revolucionou o movimento, servindo de exemplo de luta em prol dos direitos ao longo da história. Por fim, a comuna mostrou a possibilidade de se questionar as estruturas e de buscar a insurgência de algo novo.

Exercícios resolvidos sobre a Comuna de Paris

1. (Mackenzie 2019) Entre o final de 1870 e o início de 1871, uma guerra entre nações – França e Prússia – transformou-se em um conflito civil entre franceses que desencadeou o surgimento de um governo eleito parisiense, em março de 1871, denominado Comuna de Paris. A respeito do contexto histórico da época, podemos afirmar que

a) a Comuna de Paris foi o primeiro levante operário da história moderna a manifestar o apoio popular perante o imperador francês, motivado pelo espírito nacionalista, após a invasão do país por tropas prussianas.   

b) a maioria dos deputados monarquistas, na Assembleia Nacional Francesa, durante a Guerra Franco-Prussiana, era favorável à capitulação ante a Prússia. Porém o operariado francês em todo o país insuflou-se, lutando contra a invasão.   

c) com a captura do imperador francês Luís Bonaparte, instituiu-se um Governo Provisório, que, com o apoio da população, aceitou a capitulação da França perante a Prússia, entregando suas armas e desarmando o exército diante dos oponentes prussianos.   

d) a instauração de um primeiro governo socialista organizado por operários deveu-se à dominação política e econômica da burguesia parisiense sobre a classe operária e a derrota da Prússia pela França.   

e) a derrota sofrida na Guerra Franco-Prussiana e as péssimas condições de vida do operariado francês cooperaram para que, em 1871, em Paris, o levante dos trabalhadores tenha sido, apesar de breve, a primeira experiência de um governo socialista.  

Resposta: E. Um dos principais fatores que antecederam à Comuna de Paris foi a crise econômica na França, intensificada a partir do envolvimento do país na Guerra Franco-Prussiana. A insatisfação popular culminou na experiência de um governo socialista.

2. (Ufrgs 2018) Observe a imagem abaixo.

Ilustração traz homem segurando cartaz, no qual se lê: “Vive la Commune!”.

Considere as afirmações sobre a Comuna de Paris, que governou a cidade entre março e maio de 1871.

I. O movimento foi iniciado como monarquista, conservador e católico e tentava reconduzir o imperador Napoleão III, deposto por um golpe militar republicano em 1870, ao governo da França.

II. A comuna aboliu o serviço militar obrigatório e a pena de morte, decretou o direito dos trabalhadores de administrar empresas abandonadas e estabeleceu a separação plena entre Igreja e Estado na cidade.

III. O exército francês, durante a chamada Semana Sangrenta, com o apoio da Assembleia Nacional e do governo republicano, invadiu a cidade e reprimiu duramente os sublevados.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.   

b) Apenas II.   

c) Apenas I e III.   

d) Apenas II e III.   

e) I, II e III.  

Resposta: Letra D. A Comuna de Paris é considerada a primeira experiência de autogestão realizada por proletários. Ela buscou implantar um governo de cunho socialista na França, com o Estado laico e ensino obrigatório, gratuito e laico. Apesar de revolucionário, o movimento teve curta duração.

Fontes:

CARNEIRO, Mariana. Comuna de Paris: o lugar das mulheres revolucionárias. Disponível em: https://www.cfemea.org.br/index.php/pt/?view=article&id=5228:comuna-de-paris-o-lugar-das-mulheres-revolucionarias&catid=564.

BOITO, Armando. A comuna de Paris: na história. Xamã, 2001.

D'ATRI, Andréa. Comuna de Paris: mulheres parindo um mundo novo. Lutas Sociais, n. 25-26, p. 276-286, 2011.

HOBSBAWN, Eric. A Era do Capital 1848-1875. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

MARQUES, Edmilson. A Comuna de Paris de 1871. Revista Enfrentamento, v. 10, n. 18, 2015.

VIANA, Nildo Silva. O significado político da Comuna de Paris. 2011. 

Por Vanessa Clemente Cardoso