Cangaço

O cangaço foi uma forma de banditismo social ocorrida no Nordeste do Brasil entre os anos de 1830 e 1940.
Retrato de membros do chamado cangaço, no Nordeste brasileiro.
Retrato de membros do chamado cangaço, no Nordeste brasileiro.
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O cangaço foi uma forma de banditismo social ocorrida no Nordeste do Brasil entre os anos de 1830 e 1940. O termo “cangaço” provém de uma peça de madeira utilizada na cabeça do gado para fins de transporte, visto que os cangaceiros eram seminômades carregando muitos pertences.

Os cangaceiros viviam em bando com roupas de couro, rifles e facas peixeiras saqueando fazendas, sequestrando e matando fazendeiros, e impondo respeito por onde passavam. Eles viveram em um contexto em que a população passava por grandes necessidades devido à seca na região e a fome que assolava, enquanto os coronéis — grandes proprietários de terras, fazendeiros — dominavam ditatorialmente.

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Resumo sobre o cangaço

  • O cangaço foi uma forma de banditismo social ocorrida no Nordeste do Brasil entre os anos 1830 e 1940.
  • A palavra “cangaço” vem de “canga”, uma peça de madeira utilizada na cabeça do gado para fins de transporte.
  • O cangaço se caracterizou como um movimento social armado, contextualizado por disputas políticas, por terras e lutas pela honra.
  • Os primeiros cangaceiros surgiram entre os anos 1830 e 1870, mas foi em 1889, no contexto da Proclamação da República, que o movimento se popularizou.
  • Virgulino Ferreira da Silva, também conhecido como Lampião, foi um famoso cangaceiro que recebeu o título de “Rei do Cangaço”.
  • Maria Gomes de Oliveira, também conhecida como Maria Bonita, esposa de Lampião, foi a primeira mulher a ingressar em um grupo de cangaceiros.

O que foi o cangaço?

O cangaço foi uma forma de banditismo social ocorrida no Nordeste do Brasil entre os anos de 1830 e 1940. Apesar de o termo “banditismo” estar associado à criminalidade, no contexto cangaceiro é representado como prática de homicídios, sequestros e assaltos que se caracterizam como resistência à convivência civilizada. Por isso o nome “banditismo social”.

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Origem da palavra cangaço

A palavra “cangaço” vem de “canga”, uma peça de madeira utilizada na cabeça do gado para fins de transporte. Os cangaceiros tinham uma vida seminômade carregando muitos pertences em suas caminhadas, por isso a analogia da palavra.

Quais as características do cangaço?

Chapéu de couro brasileiro que remete à vestimenta típica dos cangaceiros.
Chapéu de couro brasileiro que remete à vestimenta típica dos cangaceiros.

O cangaço se caracterizou como um movimento social armado, contextualizado por disputas políticas, por terras e lutas pela honra. O cangaceiro em si foi um sertanejo seminômade que viveu em bando cometendo crimes com roupas de couro, armado com rifles e facas peixeiras. Eles eram divididos em dois grandes grupos:

  • Cangaceiros satisfatórios: eram aqueles que trabalhavam para os grandes proprietários de terras, realizando trabalhos milicianos sob as ordens dos proprietários.
  • Cangaceiros independentes: eram os “piratas na terra”, praticando crimes por conta própria.

Origem e história do cangaço

A história do cangaço se desenrolou na região semiárida do Nordeste brasileiro entre os anos finais do século XIX e início do século XX. A região era marcada pela seca e pela falta de alimentos, levando o povo às condições precárias de fome e miséria.

Os primeiros cangaceiros surgiram entre os anos 1830 e 1870, sendo Lucas Evangelista (ou Lucas da Feira) e Jesuíno Brilhante considerados os primeiros líderes do cangaço de que se tem registro, mas foi em 1889, no contexto da Proclamação da República, que o movimento se popularizou.

No século seguinte, século XX, quando predominava o coronelismo, um governo em que os coronéis — grandes proprietários de terras, fazendeiros — tinham grande status e dominavam suas terras ditatorialmente, o movimento do cangaço se expandiu, espalhando-se por quase todo o Sertão nordestino. Mas foram extinguidos no Estado Novo de Getúlio Vargas (1930–1945).

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Como foi a atuação dos cangaceiros no Sertão

Os cangaceiros agiam com violência na base de armas de fogo, principalmente com espingardas, além de facas peixeiras e punhais. Eles saíam em bando saqueando fazendas, sequestrando e matando fazendeiros, e impondo respeito por onde passavam.

Apesar de todo o radicalismo, dependendo do contexto em que os cangaceiros ameaçavam os coronéis ditadores, a população se sentia protegida e passava a apoiá-los. Entretanto, os cangaceiros não eram um grupo padronizado, pois havia outros cangaceiros que aterrorizavam a população, invadindo casas e aldeias, roubando e realizando até mesmo atos de estupro.

O primeiro grupo de cangaceiros, liderado por Lucas da Feira (ou Lucas Evangelista), atuava na região de Feira de Santana (Bahia) entre as décadas de 1830 e 1840. Outros grupos que eram liderados por Jesuíno Brilhante atuavam no Rio Grande do Norte e Paraíba na década de 1870. Já os grupos liderados por Virgílio Ferreira, conhecido como Lampião, atuavam em todos os estados do Nordeste entre as décadas de 1920 e 1930. E, por fim, o último grupo dos cangaceiros, liderado por Corisco, um ex-membro do grupo de Lampião, atuava em Alagoas durante a década de 1930.

Quem foram Lampião e Maria Bonita?

Imagem no estilo cordel do famoso casal de cangaceiros Lampião e Maria Bonita.
Imagem no estilo cordel do famoso casal de cangaceiros Lampião e Maria Bonita.

Virgulino Ferreira da Silva, também conhecido como Lampião, nascido em 1897 no Sertão pernambucano, foi um famoso cangaceiro que recebeu o título de “Rei do Cangaço”. Depois que sua família foi acusada de ter roubado animais de uma fazenda da família Saturnino, que era ligada à oligarquia dominante, Lampião decidiu entrar para o cangaço no ano de 1915 por vingança.

O nome “Lampião” é devido a sua habilidade de atirar fazendo com que o cano do rifle aquecesse e formando uma coloração semelhante à de um lampião. Liderando um bando formado por justiceiros, Lampião saqueava os comerciantes e distribuía as mercadorias para os mais necessitados.

Maria Gomes de Oliveira, também conhecida como Maria Bonita, nascida em 1911 na Bahia, foi a primeira mulher a ingressar em um grupo de cangaceiros. Depois de um divórcio complexo e ilegal, ela conheceu Lampião e passou a fazer parte do bando dele em 1930.

  • Videoaula: Maria Bonita | Grandes mulheres da História

Morte de Lampião

Na madrugada de 28 de julho de 1938, na Grota de Angico, no povoado de Poço Redondo, em Sergipe, Lampião e seu bando foram surpreendidos com rajadas de metralhadoras, um ataque comandado pelo tenente João Bezerra. Lampião e sua esposa, Maria Bonita, e mais nove cangaceiros foram mortos e decapitados. Suas cabeças foram mumificadas e expostas em Santana do Ipanema, Alagoas. Depois foram levadas para o Museu Nina Rodrigues, na Bahia, até serem enterradas em 1968.

Principais cangaceiros

  • Lampião (Virgulino Ferreira)
  • Maria Bonita (Maria Gomes de Oliveira)
  • Quinta-Feira (Jorge Horácio Villar)
  • Mergulhão (Antônio Juvenal da Silva)
  • Luís Pedro
  • Elétrico (Manoel Miguel dos Anjos)
  • Alecrim (Pedro Vieira da Silva)
  • Lucas Evangelista (Lucas da Feira)
  • Jesuíno Brilhante (Jesuíno Alves de Melo Calado)
  • Corisco (Cristino Gomes da Silva Cleto — último cangaceiro)

Fontes:

PERICÁS, Luiz Bernardo. Os Cangaceiros: ensaio de interpretação histórica. São Paulo: Editora Boitempo, 2011.

PINTO, Almir Pazianotto. Banditismo social. Migalhas, 2009. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/93275/banditismo-social.

PINTO, Monica. Entenda o legado de Lampião e do cangaço para identidade do Nordeste. Portal F5 News, 2021. Disponível em: https://www.f5news.com.br/cotidiano/entenda-o-legado-de-lampiao-e-do-cangaco-para-identidade-do-nordeste.html.

VIEIRA, Marcelo Dídimo Souza. O Cangaço no Cinema Brasileiro. 423f. Tese (Doutorado em Multimeios) – Curso de Artes – Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2007.

Por Marcell de Oliveira Ardissao

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