Por Me. Cláudio Fernandes
Logo nos primeiros anos de seu estabelecimento, a República teve de enfrentar, no Brasil, uma série de revoltas em zonas predominantemente rurais, sertanejas. Foi o caso, por exemplo, da Guerra de Canudos. No entanto, no período da chamada República Velha (que durou até o ano de 1930), houve também vários movimentos urbanos, como o tenentismo. Ao tenentismo somaram-se outros, como o anarquismo, do qual trata este texto.
O anarquismo é uma concepção político-filosófica que surgiu na Europa, no século XIX, ao mesmo tempo em que também apareceram as várias correntes do socialismo e do comunismo, proposto por Karl Marx e Friedrich Engels. O principal representante das ideias anarquistas, no século XIX, foi o russo Mikhail Bakunin. Como o próprio nome indica (anarquia = sem governo, ausência de governo), o anarquismo propagava ideias contra o Estado, isto é, as organizações institucionais, de modo geral, e contra “os patrões”, isto é, o empresariado industrial e urbano, sobretudo.
Ao longo de sua história, o anarquismo articulou-se de várias maneiras. O desdobramento conhecido como anarcossindicalismo foi o que contagiou a massa de trabalhadores urbanos brasileiros no período da República Velha. O anarcossindicalismo chegou ao Brasil principalmente por meio de imigrantes italianos, que já possuíam contato com as formas de organização dos sindicatos anarquistas europeus, que possuíam líderes como o italiano Errico Malatesta.
A entrada das ideias anarcossindicalistas no Brasil coincidiu com a formação de centros urbanos, como o de São Paulo, em que várias fábricas passavam a ser montadas, recebendo assim uma quantidade considerável de trabalhadores. Desde o século XIX havia partidos operários no Brasil, entretanto foi com o anarquismo que começaram as grandes pressões contra o empresariado. A principal arma dos anarquistas era a greve geral. Por meio desse instrumento, os anarquistas tinham por meta uma transformação radical da sociedade, ansiando eliminar a estrutura governamental, como sintetizou o historiador Boris Fausto, na sua História do Brasil:
“Os anarcossindicalistas acreditavam que seu objetivo seria atingido com a derrubada da burguesia do poder, sem um longo período de transição posterior. Isso seria alcançado por meio de uma grande ato: a greve geral revolucionária. O sindicato anarquista, dirigido por comissões que deveriam expressar a vontade dos sindicalizados e não a sua vontade própria, representava um esboço da sociedade que pretendiam restaurar. Uma sociedade sem Estado, sem desigualdade, organizada em uma federação livre de trabalhadores.” [1]
O principal feito do anarcossindicalismo no Brasil foi a Greve de 1917, que teve como um dos principais articuladores o tipógrafo e jornalista Edgard Frederico Leuenroth (1881-1968). Essa greve explodiu, sobretudo, após a morte de um anarquista espanhol que trabalhava em uma fábrica no Brás, em São Paulo, chamado José Martinez. Martinez faleceu no momento em que, junto a outros colegas de trabalho, protestava nas ruas, quando foram acossados pela polícia.
De 1917 até os anos iniciais de 1920, o anarquismo teve uma presença muito forte entre as organizações operárias brasileiras. Os focos de organização anarquista, bem como os de organização comunista, foram sufocados na década de 1930 com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder.
NOTAS:
[1] FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2013. p. 255.
*Créditos da imagem: Commons
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