Integralismo

O integralismo é uma ideologia política de extrema-direita que surgiu no Brasil na década de 1930. Era liderado por Plínio Salgado e foi inspirado no fascismo italiano.

Por Daniel Neves Silva

Plínio Salgado, líder do integralismo, discursando para pessoas que fazem a saudação integralista.
O integralismo foi uma ideologia de extrema-direita inspirada no fascismo que surgiu no Brasil na década de 1930.
Crédito da Imagem: Wikimedia Commons
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O integralismo é uma ideologia política de extrema-direita, ultraconservadora e ultranacionalista que surgiu no Brasil no começo da década de 1930. Essa ideologia era fortemente anticomunista, antiliberal e foi criada por um escritor chamado Plínio Salgado, que se inspirou no fascismo italiano liderado por Benito Mussolini.

Esse movimento começou a ganhar forma por meio da Sociedade de Estudos Políticos, dando origem a um manifesto e à Ação Integralista Brasileira (AIB), em 1932. Esse grupo possuía como símbolo a letra grega sigma, além de exigir que os seus membros usassem uma camisa verde. Os integralistas se saudavam com o termo em tupi “anauê”.

Leia também: Nazismo — outra ideologia de extrema-direita derivada do fascismo

Resumo sobre o integralismo

  • O integralismo é uma ideologia política de extrema-direita ultraconservadora e ultranacionalista.

  • Surgiu no Brasil na década de 1930 sob a liderança de Plínio Salgado.

  • O integralismo foi fortemente inspirado no fascismo italiano.

  • Possuía a letra grega sigma (Σ) como símbolo, e seus membros usavam camisas verdes.

O que é integralismo?

O integralismo é uma ideologia política de extrema-direita caracterizada como ultranacionalista e fascista, criada no começo da década de 1930 pelo escritor Plínio Salgado. Essa ideologia deu origem a um movimento político que recebeu o nome de Ação Integralista Brasileira (AIB).

O movimento político que surgiu a partir dessa ideologia foi considerado o maior movimento fascista da América Latina, construído por Plínio Salgado como uma manifestação e adaptação da ideologia fascista à realidade brasileira. O integralismo possuía uma visão espiritualista da sociedade, além de ser antiliberal, antidemocrático e fortemente anticomunista.

Além disso, o integralismo era fortemente associado com o catolicismo. Seu surgimento está relacionado com um grupo criado por Plínio Salgado chamado Sociedade de Estudos Políticos (SEP) e possui como marco de origem o Manifesto de Outubro, um documento escrito pelo próprio Plínio Salgado que é considerado um manifesto de inauguração do integralismo no Brasil.

Essa ideologia e o movimento político que surgiu a partir dele possuía o seguinte lema: “Deus, Pátria e Família.” A AIB era um movimento centralizado em Plínio Salgado, chefe supremo do integralismo, embora Gustavo Barroso e Miguel Reale tenham se tornado nomes importantes. Aos filiados era exigido um comportamento correto, baseado em uma visão moralista e ultraconservadora.

Atualmente, o integralismo ainda existe por meio de grupos neointegralistas que resgatam a ideologia integralista e a adaptam ao século XXI.

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O que o integralismo defende?

A ideologia integralista era marcada por uma postura ultranacionalista, possuindo no “Deus, Pátria e Família” o seu lema primordial. Para Plínio Salgado, o lema expressava com exatidão os anseios do integralismo, pois Deus era o responsável por dirigir o destino dos povos, a pátria era o lar dos brasileiros, e a família era o início e o fim de tudo.

O integralismo reforçava a importância da autoridade, exigindo obediência total dos adeptos da ideologia. Não à toa, Plínio Salgado era considerado o líder total do integralismo, e seu poder era permanente. A ideologia integralista cultivava a ideia de que Plínio Salgado era uma espécie de profeta que guiaria os integralistas ao seu destino.

Os integralistas ainda eram críticos do liberalismo e nutriam um forte anticomunismo em sua ideologia. Os integralistas alegavam que tanto o liberalismo quanto o comunismo eram formas dos governos de dominar economicamente os povos. O sentimento anticomunista na ideologia integralista cresceu de maneira exponencial após 1935, quando houve a Intentona Comunista no Brasil.

Os integralistas ainda se opunham aos partidos políticos, defendendo a formação de um governo autoritário. Se opunham à luta de classes, um conceito muito importante da ideologia comunista, e defendiam uma ideia de harmonização social com um viés espiritualista. Essa ideia se baseava em uma concepção que defendia que os indivíduos deveriam estar em harmonia com valores religiosos, éticos e morais.

Assim, a religião era uma base moral para os integralistas e havia uma forte associação dessa ideologia com o catolicismo, tanto que muitos membros da Igreja Católica se associaram a ela na década de 1930. Apesar disso, nem todos os membros do integralismo eram católicos, havendo espaço para integrantes de outras religiões.

Havia um forte antissemitismo em alguns membros do integralismo, como Gustavo Barrosso. Esse membro do integralismo acusava os judeus de prejudicarem o Brasil, especialmente no âmbito econômico, desde que o país conquistou sua independência. O integralismo não possuía posições supremacistas, uma vez que esse discurso no Brasil não seria popular e limitaria o crescimento da ideologia.

Símbolos do integralismo

Letra do alfabeto grego sigma (Σ), o símbolo mais importante do integralismo.
A letra do alfabeto grego sigma (Σ) era o símbolo mais importante do integralismo.

Os símbolos eram muito importantes para os integralistas, apoiados pelo próprio Plínio Salgado. O símbolo mais importante do integralismo era o sigma (Σ), uma letra do alfabeto grego que é utilizada na matemática como notação de somatório. Na ideologia integralista, o símbolo representava a soma dos membros da ideologia. Além disso, o símbolo representava a ideia do integralismo de formar um Estado centralizado.

Os integralistas eram chamados de camisas verdes, uma analogia dos camisas pretas do fascismo italiano. A ideologia integralista exigia que os camisas verdes usassem camisas feitas de brim ou algodão com uma gravata preta e de tecido liso. As calças deveriam ser brancas ou pretas, e membros da zona rural poderiam usar a cor cáqui.

A camisa era vista como um item de grande importância para os integralistas, por isso os membros eram terminantemente proibidos de serem vistos publicamente dançando, jogando e consumindo álcool com a camisa integralista. Se fossem presos, eles eram obrigados a retirar a camisa integralista, exceto em situação de prisões políticas.

Havia também roupas para as mulheres, que usavam a mesma camisa verde com uma saia branca ou preta. O integralismo possuía uma bandeira que possuía o sigma em um círculo branco com um fundo azul. O azul simbolizava a atitude integralista, e o branco simbolizava a pureza e a busca pelo objetivo final dos integralistas.

Casal fazendo a saudação do integralismo. [1]
Casal fazendo a saudação do integralismo. [1]

Por fim, os integralistas possuíam uma saudação: “Anauê!”. Essa saudação foi baseada no tupi, sendo traduzida como “você é meu parente”. Era uma saudação afetiva realizada pelos membros do partido, mas também demonstrava a hierarquia no comando do integralismo. Era usada também em comemorações. Plínio Salgado era saudado por todos os integralistas com o grito de três anauês.

Integralismo no Brasil

Ação Integralista Brasileira (AIB)

Plínio Salgado, líder do integralismo, discursando em 1935. [2]
Plínio Salgado, líder do integralismo, discursando em 1935. [2]

A ideia de criar um movimento político semelhante ao fascismo no Brasil surgiu quando Plínio Salgado estava em viagem à Europa com uma comitiva brasileira que fazia uma visita oficial à Itália, governada por Mussolini. Essa visita aconteceu em 1930, e Plínio Salgado teve uma curta conversa com o próprio Mussolini.

Na ocasião, Mussolini aconselhou Plínio Salgado a criar um movimento intelectual para depois dar origem a um movimento político. E foi exatamente assim que Plínio Salgado fez. Inicialmente ele fundou a Sociedade de Estudos Políticos (SEP), um grupo que surgiu para debater um movimento político nos moldes do integralismo: ultranacionalista e conservador.

Os debates na SEP evoluíram, reunindo uma série de intelectuais, e, em 1932, Plínio Salgado sugeriu a criação de um grupo político, lançando um manifesto em outubro e dando origem à Ação Integralista Brasileira (AIB), em 7 de outubro de 1932. O movimento teve um rápido crescimento, incorporando indivíduos de diversas camadas, principalmente das camadas médias. Estima-se que no seu auge, a AIB tenha chegado a ter 200 mil membros.

O integralismo chegou a apoiar o autogolpe de Getúlio Vargas em 1937, mas os membros se voltaram contra ele quando ele proibiu todos os movimentos políticos existentes no país. Inconformados, os integralistas realizaram revoltas fracassadas contra Vargas, em 1938.

Batalha da Praça da Sé

A Batalha da Praça da Sé foi um acontecimento envolvendo os integralistas, passando-se em 7 de outubro de 1934. Esse acontecimento foi um conflito que foi realizado entre integralistas e antifascistas na Praça da Sé, em São Paulo. Na ocasião, os integralistas tinham marcado um comício para acontecer em comemoração dos dois anos de surgimento da AIB.

O conflito aconteceu porque grupos de antifascistas decidiram se reunir nas ruas de São Paulo para impedir que os integralistas realizassem o seu comício comemorativo. O confronto se concentrou na Praça da Sé, resultando em vários feridos e na debandada dos integralistas do local. O evento se tornou um marco da luta antifascista no Brasil.

A fuga dos integralistas se tornou alvo de chacota entre as forças antifascistas, que passaram a chamar o evento de A Revoada dos Galinhas Verdes.

Integralismo no mundo

O integralismo é um movimento político que surgiu no Brasil, sendo considerado uma adaptação do fascismo italiano para a realidade brasileira. No entanto, houve células de integralistas organizadas em diversos locais, como Estados Unidos, Uruguai, Argentina, Suíça, Portugal, entre outros países. Houve também um movimento político português, monarquista e conservador, chamado Integralismo Lusitano, que deu alguma inspiração a Plínio Salgado em seu movimento. Mas é importante pontuar que se tratam de movimentos políticos distintos.

Diferenças entre integralismo e fascismo

O fascismo italiano foi um movimento ultranacionalista e ultraconservador que surgiu na Itália sob a liderança de Benito Mussolini. O movimento italiano serviu de inspiração e base ideológica para o surgimento do integralismo aqui no Brasil. Entre as grandes diferenças entre os dois movimentos estão:

  • O fascismo tinha um laço com a supremacia racial que não existia no integralismo.

  • O integralismo não tinha ideais expansionistas como havia no fascismo italiano.

  • O integralismo defendia um Estado centralizador, mas a influência (e o poder) do Estado na ideologia fascista era maior.

Para saber mais sobre o fascismo, clique aqui.

Exercícios resolvidos sobre integralismo

Questão 1

O integralismo tinha como inspiração ideológica qual movimento político europeu:

A) fascismo italiano

B) socialismo soviético

C) anarquismo

D) positivismo

E) liberalismo econômico

Resolução:

Alternativa A.

O integralismo surgiu oficialmente em 1932, mas os debates para a sua formação se iniciaram em 1930. A inspiração primordial para Plínio Salgado, o fundador desse movimento, foi o fascismo italiano, regime ultranacionalista mantido por Benito Mussolini.

Questão 2

Em que contexto histórico se deu o crescimento do integralismo no Brasil?

A) Primeira República

B) Era Vargas

C) República de 1946

D) Ditadura Militar

E) República da Espada

Resolução:

Alternativa B.

O integralismo e seu movimento político, a Ação Integralista Brasileira, cresceu no contexto do entreguerras, especialmente na década de 1930. O surgimento desse movimento político e seu crescimento se deu no contexto da Era Vargas.

Créditos de imagem

[1] FGV/CPDOC (reprodução)

[2] Retro News / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. São Paulo: Edusp, 2018.

GONÇALVES, Leandro Pereira e NETO, Odilon Caldeira. O fascismo em camisas verdes: do integralismo ao neointegralismo. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2020.

SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: Uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

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