Na passagem para a Era Cristã, o Império Romano viveu seu apogeu com inúmeras conquistas militares que fizeram desta civilização a maior potência político-econômica da Antigüidade. Chegando ao século I d.C. Roma tinha alcançado o domínio sobre a região da Palestina, lugar onde enfrentaram a complicada resistência da civilização judaica. Foi nesse contexto que diversas profecias sobre salvadores do povo judeu ganharam grande força.
A promessa de um messias era alvo de uma grande contenda religiosa, pois o povo judeu divergia sobre a natureza desse salvador. O vindouro líder conduziria os judeus a um tempo glorioso pela força das armas ou com um discurso de renovação de princípios morais e religiosos? É nesse contexto que compreendemos porque a figura de Jesus Cristo causava opiniões divergentes entre a população judaica. Entretanto, outros messias também surgiram com o intuito de promover um levante militar contra Roma.
O mais famoso dos messias-guerreiro foi um zelote chamado Bar Kochba. Os zelotes compunham um grupo religioso-militar que defendia a sublevação enquanto meio capaz de dar fim à dominação romana. Entre outras crenças, os zelotes eram estritamente fiéis às tradicionais leis judaicas e não aceitavam nenhum tipo de influência cultural estrangeira. Paralelamente, acreditavam que Roma impedia que o prometido Reino de Deus viesse a ser estabelecido.
Entre os primeiro e segundo século, algumas revoltas já demonstravam claramente a presença dessa tendência política anti-romana. No governo do imperador Adriano, os conflitos entre judeus e romanos pareciam ganhar uma trégua quando essa autoridade romana permitiu que os judeus voltassem para Jerusalém e reconstruíssem o Templo Sagrado. No entanto, Adriano era favorável ao processo de helenização dos povos dominados e, por isso, criou escolas de grego na cidade de Jerusalém.
No ano de 127, deixando a situação ainda mais hostil, o imperador romano baixou um decreto proibindo a prática da circuncisão. Tal medida enfureceu a população judaica, pois esse antigo ritual consagrava a reafirmação identitária e religiosa para o povo judeu. Foi a partir de então que os zelotes começaram a arquitetar secretamente um plano para retomar o controle de Jerusalém. Entre tantos participantes, estava Simon Bar Kosiva, um destacado estrategista do grupo zelote.
Sua ação militar era bastante ousada e levava em conta a notória superioridade bélica dos soldados romanos. Por isso, o até então desconhecido Bar Kosiva preparava seus comandados em pequenas ações organizadas com o objetivo de conquistar gradualmente as posições controladas pelos romanos. Aclamado como líder militar e messias, Bar Kosiva decidiu mudar seu segundo nome para Kochba, termo que significa “filho de uma estrela”.
Por volta de 134, o grupo de Kochba conseguiu tomar o controle sobre a sagrada cidade de Jerusalém. Após a conquista, Bar Kochba tornou-se chefe político de um Estado Teocrático essencialmente preocupado em formar um exército judeu capaz de expulsar os romanos para todo o sempre. No entanto, a reação romana contou de uma ardilosa ação militar que construiu estradas com o objetivo de conquistar regiões importantes no abastecimento da cidade de Jerusalém.
Contando com o sucesso da tática adotada, os romanos conseguiram encurralar os judeus na cidade de Jerusalém e promover os primeiros confrontos naquele mesmo ano. Percebendo a inevitável derrota, Kochba e seus homens decidiram fugir para a cidade de Betar. Entretanto, em agosto de 135, o bem preparado Exército Romano reconquistou Jerusalém e prendeu o corajoso messias-guerreiro. Julgado, Kochba foi condenado à decapitação.
Depois do cumprimento da sentença, a cabeça do líder revoltoso foi apresentada ao imperador romano e uma nova política de controle recaiu sob a população judaica. A população de várias aldeias foi perseguida e assassinada pelas autoridades romanas. Além disso, mais de cinco mil fortificações encontradas na região da Judéia foram imediatamente derrubadas e os judeus foram declaradamente banidos das possessões do Império Romano.
Alvo de um interminável debate, os aficionados pela história do povo judeu não sabem dizer ao certo o que significou a ação liderada por Bar Kochba. Seria ele um fervoroso líder imbuído de uma grande fé? Ou um aventureiro ambicioso que não levou em conta a opulência de seus poderosos inimigos? Sem uma resposta definitiva, Kochba ganhou destaque especial na trajetória da civilização judaica