Por Me. Cláudio Fernandes
A Grécia Antiga também era conhecida pelo nome de Hélade, isto é, o conjunto de cidades-estado que se desenvolveu entre os séculos VIII e V a.C, às margens do Mar Egeu, em regiões como a Ática, a Península do Peloponeso e a Anatólia (hoje extremo Oeste da Turquia). Cada pólis – cidade – possuía autonomia nos processos de organização política, socioeconômica e cultural, incluindo a forma de educação dos cidadãos. Entretanto, um fator permeou a estrutura da educação em todas essas cidades-estado: a poesia épica de Homero.
Até os nossos dias, especialistas em história e literatura antiga ainda especulam a respeito da existência do poeta Homero, que possui alguns traços de personagem mítica – era um poeta cego que teria compilado e dado ordem a um manancial de narrativas orais do chamado “Período Pré-Homérico”. A despeito de ter sido uma pessoa real ou um personagem criado por outros poetas, o fato é que os longos poemas Ilíada (que trata da guerra travada entre gregos e troianos”) e Odisseia (que narra a volta para casa de um dos heróis gregos que combateram em Troia, Ulisses), atribuídos a Homero, foram fundamentais para a formação do homem grego.
Tanto atenienses quanto tebanos ou espartanos tinham uma forma de educação aristocrática, isto é, as pessoas eram educadas a partir do modelo dos heróis das narrativas homéricas, para deles imitar as virtudes que tornariam o homem o melhor possível. Entre essas virtudes, estavam a coragem, a prudência e a astúcia. Além disso, as narrativas homéricas, lidas em grupo, proporcionavam aos jovens estudantes uma grande capacidade de compreensão da língua grega clássica, bem como do ritmo dos versos, o que facilitava a comunicação em todas as atividades, como na política, na guerra etc.
Um dos principais estudiosos da cultura antiga, Werner Jaeger, deixa claro em sua obra Paideia – a educação do homem grego, a centralidade que tinha a poesia homérica na educação helênica, apontando a sua influência em grandes figuras do Período Clássico, como Platão e Píndaro:
O desenvolvimento das formas espirituais da educação homérica da nobreza, através de Píndaro e até a filosofia de Platão, é absolutamente orgânico, permanente e necessário. Não é uma 'evolução' no sentido seminaturalista que a investigação história costuma empregar, mas um desenvolvimento essencial de uma forma original do espírito grego, que, na sua estrutura fundamental, permanece idêntico a si próprio através de todas as fases da sua história. [1]
Havia uma simbiose entre as instâncias pedagógica, ética e estética na educação grega. Os estudos dos poemas épicos de Homero tinham como função introduzir essa relação mútua naqueles que entrassem em contato com eles. Prossegue Jaeger:
[…] a importância educadora de Homero é evidentemente mais vasta. Não se limita à formulação expressa de problemas pedagógicos nem a algumas passagens que aspirem a produzir um determinado efeito moral. A poesia homérica é uma vasta e complexa obra do espírito, que não se pode reduzir a uma fórmula única. Ao lado de fragmentos relativamente recentes que revelam um interesse pedagógico expresso, aparecem outras passagens nas quais o interesse pelos objetos descritos afasta a possibilidade de pensar uma segunda intenção moral do poeta. [2]
É claro que, de cidade para cidade, muitos aspectos pedagógicos eram divergentes (como a negação de uma formação educacional completa às mulheres, no caso de Atenas, e a sua permissão, no caso de Esparta). Entretanto, a influência de Homero era notável em todas elas.
NOTAS
[1] JAEGER, Werner. Paideia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 60.
[2] Idem. p. 66.
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