“Isso nunca aconteceu antes”. Essa pode ser encarada como uma das mais usuais respostas dadas à constrangedora situação na qual o homem é assombrado pelo “fantasma” da impotência sexual. Mais do que um infortúnio, a impotência envolve valores culturais referentes às expectativas dos comportamentos sexuais de homens e mulheres. Por isso, a questão da virilidade não se limita a um estudo de caso da Biologia.
Ao longo da História, outras respostas de caráter não-científico desse “drama” sexual foram concebidas por nossa bilionária espécie. Ao contrário do que muitos pensam, essas simples crendices podem revelar como as diferentes culturas foram capazes de constituir noções de corpo, saúde e sexualidade. Bem sabemos que, ainda hoje, as razões biológicas ficam em segundo plano quando algumas pessoas tentar dar uma primeira resposta a esse tipo de problema.
Nas primeiras sociedades primitivas, a procriação tinha grande importância entre as sociedades. A extensão da prole era um assunto de importância bem maior, em comparação à capacidade de o homem realizar o ato sexual. As primeiras e mais destacadas indagações sobre a impotência surgem nas civilizações da Antigüidade Clássica. Entre gregos e romanos, onde a liberdade sexual era bastante perceptível, a impotência poderia ser motivo de grande chacota.
A virilidade do pênis era considerada um tipo de representação material do poderio de um homem. A capacidade de penetração era algo que demonstrava o apetite sexual, seja qual fosse o tipo de relação constituída. Para superar as dificuldades com a disfunção erétil existiam receitas naturais envolvendo alho triturado, folhas de mandrágora ou caldo de aspargos. Caso o problema fosse mais grave a dieta alimentar sofria alterações mais incisivas com o consumo de genitálias de bode ou carne de lagarto regada com vinho branco.
Na Idade Média, com o predomínio da visão pecaminosa do sexo, a cobrança dos papéis masculinos na cama se restringia à procriação e o autodomínio. Quando acometido por grave impotência, as forças demoníacas eram usualmente culpabilizadas. As bruxas também eram acusadas de prepararem feitiços que impediam a prática normal do sexo. Em alguns casos, o tratamento médico medieval recomendava alimentos que causassem grande acúmulo de gases, pois se acreditava que os mesmos eram responsáveis pela ereção do pênis.
No século XVII, com a explosão dos estudos no campo das ciências naturais, novas teorias começaram a ser formuladas para a cura do mal. Alguns teóricos formulavam tratados onde apontavam a masturbação como uma prática que, em longo prazo, poderia deixar o homem impotente. Um polêmico tratamento desenvolvido nessa época prescrevia a aplicação de estímulos elétricos (choques) no pênis.
Outros relatos do século XIX, marcado por uma forte idealização das relações afetivas, contam que o culto extremo à imagem feminina desestimulava alguns homens a “macular” a sua amada com a prática do sexo. No início do século XX, as teorias psicológicas ganharam grande destaque no estudo dos problemas e comportamentos sexuais. A repressão familiar, a ansiedade e a depressão começaram ser colocados como novos responsáveis pela disfunção erétil masculina.
No entanto, as experiências médicas continuavam a florescer nos campos da medicina contemporânea. O cirurgião russo Serge Voronoff propôs que o enxerto de partes de um testículo (humano ou animal) na bolsa escrotal poderia ampliar a produção de testosterona. Entre os métodos mais invasivos, a prótese de silicone foi a que mais angariou resultados.
Somente no final deste século que as primeiras medicações contra a ereção começaram a resolver o problema. Viagra, Uprima, Cialis e Levitra tornaram-se nomes santos no combate à disfunção erétil. Ao mesmo tempo em que matou o “x” da questão, essas medicações afetaram as práticas de jovens e idosos. Os últimos deixaram de encarar a terceira idade como idéia contrária a uma vida sexual regular, os primeiros se deslumbram com a possibilidade de oferecer um desempenho incomum a suas parceiras.
Do abuso, surgiram infelizes casos de pessoas que perderam suas próprias vidas na ânsia de resolver um problema íntimo. Saímos do problema da falta, pagando as conseqüências pelo excesso. O poder instantâneo do remédio, em alguns casos, tende a afastar o afeto e a preocupação com a saúde no alcance de uma “invejável” performance sexual.