Ciclo do açúcar

O ciclo do açúcar foi um ciclo da economia brasileira entre os séculos XVI e XVII. Entrou em crise no final do século XVII e foi substituído pelo ciclo do ouro.
Gravura retratando escravos trabalhando em um engenho usado no ciclo do açúcar.
Os primeiros engenhos de açúcar foram construídos no Brasil em 1532.[1]
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O ciclo do açúcar foi um dos ciclos da economia brasileira, sendo marcado como o período da história em que o açúcar foi o produto predominante em nossa economia. A produção do açúcar foi introduzida no Brasil pelos portugueses na década de 1530, e esse ciclo econômico se estendeu durante os séculos XVI e XVII.

No ciclo do açúcar, foi cultivada a cana-de-açúcar para que fosse utilizada na produção do açúcar, produzido para ser exportado para a Europa. O local de produção era o engenho, havendo uma larga utilização da mão de obra escravizada, sobretudo de africanos. Esse ciclo entrou em decadência após as invasões holandesas, sendo substituído pelo ciclo do ouro.

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Resumo sobre ciclo do açúcar

  • O ciclo do açúcar foi um dos ciclos da economia brasileira durante o Período Colonial.
  • Nesse ciclo, a economia brasileira era baseada na produção do açúcar por meio do cultivo da cana-de-açúcar.
  • A produção do açúcar foi introduzida no Brasil por Portugal na década de 1530.
  • A produção do açúcar incluía etapas como: plantio, colheita, moenda, casa das fornalhas, casa de purgar e exportação.
  • Esse ciclo entrou em decadência depois das invasões holandesas, sendo substituído pelo ciclo do ouro.

Videoaula sobre o ciclo do açúcar (economia açucareira)

O que foi o ciclo do açúcar?

O ciclo do açúcar foi um dos ciclos da economia brasileira, ocorrendo durante o Período Colonial. Foi caracterizado como o período em que a produção de açúcar ocorreu enquanto primeira atividade econômica no Brasil. Essa atividade foi introduzida aqui pelos portugueses no século XVI, tendo seu auge até o final do século XVII.

O açúcar produzido aqui era enviado para a Europa para atender a demanda por essa mercadoria. Foi uma atividade que contribuiu para a ocupação do território brasileiro, predominantemente das regiões litorâneas. A atividade se baseou na exploração da mão de obra escravizada e gerou grandes lucros a Portugal.

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Antecedentes históricos do ciclo do açúcar

A produção do açúcar foi uma das principais atividades econômicas implantadas pelos portugueses durante a colonização do Brasil. Portugal decidiu instalar essa atividade aqui, durante a década de 1530, como forma de intensificar a ocupação da colônia, garantir o controle das terras expulsando a ameaça francesa, e aumentar o lucro sobre o Brasil.

A necessidade de ocupar a terra se dava porque era preciso promovê-la a fim de aumentar a lucratividade da colônia brasileira, e isso só aconteceria com maior aproveitamento territorial. Além disso, Portugal sabia que inúmeras terras no Brasil eram ocupadas pelos franceses, sendo necessário preenchê-las com portugueses para afastar a ameaça estrangeira.

Do ponto de vista econômico, Portugal encarava o declínio do comércio de especiarias na Índia e considerava a exploração do pau-brasil pouco lucrativa. A escolha do açúcar se deu para solucionar essa busca por uma atividade econômica que pudesse ser efetivamente lucrativa. Além disso, Portugal tinha uma grande experiência na produção do açúcar.

Os portugueses já produziam açúcar na Ilha da Madeira, nos Açores, em Cabo Verde e em São Tomé e Príncipe. A experiência foi útil para trazer essa atividade econômica ao Brasil em uma escala maior. Por meio da produção de açúcar, o Brasil tornou-se a prioridade portuguesa, passando por inúmeras transformações.

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Como funcionava o ciclo do açúcar?

A produção do açúcar foi introduzida no Brasil na década de 1530, e as primeiras mudas de cana-de-açúcar e os primeiros engenhos foram de 1532. As capitanias que abrigaram os primeiros engenhos foram São Vicente, Pernambuco, Porto Seguro e Ilhéus. A instalação inicial dos engenhos era, no entanto, algo complexo.

Essa complexidade se explica, principalmente, por conta dos altos custos para se construir um engenho no Brasil. Muitos portugueses não tinham como financiar a construção de um engenho, e por isso recorriam a empréstimos em instituições bancárias italianas ou flamengas.

As duas regiões onde a produção de açúcar prosperou rapidamente com o início do ciclo do açúcar foram São Vicente e Pernambuco. Os engenhos tinham o local de plantio da cana-de-açúcar e as estruturas necessárias para realizar a produção do açúcar. Além disso, os engenhos possuíam a casa-grande, residência do senhor de engenho, e a senzala, o alojamento dos escravizados.

Gravura representando escravos trabalhando em engenho durante o ciclo do açúcar no Brasil.
Indígenas e africanos trabalharam como escravizados na produção de açúcar no Brasil durante o Período Colonial.[2]

A mão de obra escravizada, tanto a de indígenas quanto a africana, foi utilizada em grande quantidade nos engenhos. A presença dos africanos escravizados se tornou predominante no Brasil a partir da década de 1620. É importante pontuar que os holandeses foram um importante parceiro econômico Portugal no ciclo do açúcar, atuando, muitas vezes, no transporte e comercialização do produto na Europa.

Havia dois tipos de engenho no Brasil colonial:

  • engenho real, que possuía as estruturas completas e uma moenda movida por água;
  • engenhoca, de estrutura mais simples e com uma moenda que era movida pela força animal.

Produção de açúcar no Brasil Colonial

A produção do açúcar no Brasil se dava nos engenhos, como já mencionado. Os primeiros passos nessa atividade eram a preparação do solo e o plantio da cana-de-açúcar. Entre o plantio da cana-de-açúcar e o seu corte, passavam-se de 12 a 18 meses, o período necessário para que a planta crescesse.

Na colheita, era realizado o corte da cana-de-açúcar e, em seguida, essa cana era transportada até a moenda. Nesse local, ela era moída para que seu caldo fosse extraído. Depois, o caldo era transportado para a casa das caldeiras ou casa das fornalhas, onde era cozido até se transformar em melaço.

Depois do cozimento, o melaço era levado para a casa de purgar para que lá passasse por um processo de purificação e branqueamento que se estendia por 40 dias. Por último, o açúcar de melhor qualidade era separado, encaixotado e enviado para a exportação. Na Europa, o açúcar cristalizado era mais valorizado pelos consumidores, gerando mais lucro.

Os engenhos também produziam cachaça da cana-de-açúcar. Essa aguardente era uma bebida alcoólica mais barata que o vinho, sendo bastante utilizada para a aquisição de africanos escravizados.

Crise do ciclo do açúcar

O ciclo do açúcar entrou em decadência no Brasil em meados do século XVII. Essa crise teve relação direta com as invasões holandeses, promovidas em Salvador e depois em Recife. Os holandeses entraram em conflito com Portugal por conta da União Ibérica, invadindo a região para dominar a produção de açúcar do Brasil.

Os conflitos entre holandeses e portugueses afetaram a economia açucareira, fazendo com que a produção diminuísse. Além disso, depois da expulsão dos holandeses, o açúcar brasileiro passou a sofrer com a concorrência do açúcar holandês, produzido no Caribe. Os holandeses, após terem sido expulsos, levaram mudas de cana-de-açúcar para que fossem plantadas no Caribe.

A concorrência holandesa prejudicou o açúcar brasileiro, mas, além disso, a saturação do mercado europeu também afetou a lucratividade dessa atividade.

Fim do ciclo do açúcar

O açúcar seguiu sendo produzido no Brasil ao longo dos séculos XVIII e XIX, sobretudo no Nordeste. O ciclo do açúcar, por sua vez, se encerrou no final do século XVII, quando os bandeirantes encontraram ouro em Minas Gerais. A descoberta de ouro em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás deu início a outro ciclo em nossa história: o ciclo do ouro.

Consequências do ciclo do açúcar

Entre as consequências do ciclo do açúcar no Brasil, podem ser destacadas:

  • consolidação do Brasil como uma sociedade escravista;
  • fortalecimento do tráfico negreiro;
  • crescimento da ocupação portuguesa e consolidação da colonização;
  • crises de abastecimento em decorrência da monocultura;
  • estabelecimento do senhor de engenho como autoridade econômica e política do Brasil.

Saiba mais: Drogas do sertão — outros produtos amazônicos explorados pelos portugueses no Período Colonial

Exercícios sobre o ciclo do açúcar

Questão 01

A crise do ciclo do açúcar está relacionada a qual acontecimento:

a) formação da França Antártica.

b) derrota da Armada Espanhola.

c) terremoto de Lisboa de 1755.

d) invasões holandesas no Nordeste.

e) encerramento do Período Pombalino.

Resposta: Letra D

As invasões holandesas e as décadas de conflito com Portugal pelo domínio do Nordeste enfraqueceram a produção açucareira no Brasil e abriram o caminho para a concorrência holandesa no Caribe.

Questão 02

O engenho real era um tipo de engenho caracterizado por:

a) ter uma moenda movida pela força animal.

b) usar uma técnica de cozimento do caldo mais sofisticada.

c) ser formado por mais de 150 escravos.

d) ter uma moenda movida pela força da água.

e) ser diretamente posse do rei de Portugal.

Resposta: Letra D

O engenho real era um dos tipos de engenho, sendo aquele que possuía uma estrutura mais completa, incluindo uma moenda movida pela força da água.

Créditos das imagens

[1] Wikimedia Commons

[2] Wikimedia Commons

Fontes

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

Por Daniel Neves Silva