Os ciclos econômicos do Brasil são uma teoria desenvolvida por intelectuais brasileiros e que trata da história do desenvolvimento econômico de nosso país. Essa teoria dividiu a história econômica brasileira em diversos ciclos que estabeleceram um produto como o dominante em nossa mercadoria ou que marcou um período em que essa mercadoria foi bastante lucrativa.
Ao longo de nossa história, foram estabelecidos nessa teoria quatro grandes ciclos:
- ciclo do pau-brasil;
- ciclo do açúcar;
- ciclo do ouro;
- ciclo do café.
Também houve outros ciclos importantes, porém secundários:
- ciclo do algodão;
- ciclo da borracha;
- ciclo do cacau.
Leia também: Como se deu a exploração do pau-brasil?
Resumo sobre os ciclos econômicos do Brasil
- Os ciclos econômicos do Brasil são uma teoria que explica a história do desenvolvimento econômico do nosso país.
- Essa teoria foi criada por intelectuais e muito utilizada na historiografia do século XX.
- Trabalha com a ideia de que a economia brasileira teve grandes ciclos em que um produto foi o mais lucrativo e importante ou teve um grande boom.
- Existiram quatro grandes ciclos: pau-brasil, açúcar, ouro e café.
- Outros ciclos importantes, mas secundários, foram: algodão, borracha e cacau.
O que são os ciclos econômicos do Brasil?
Os ciclos econômicos do Brasil são uma teoria da historiografia brasileira e que procura explicar o desenvolvimento de nossa economia com base em ciclos nos quais um produto foi o mais importante nela. Esses ciclos foram marcados por um boom de prosperidade, entraram em decadência e então foram substituídos por outro ciclo ou, ainda, existiram com outro ciclo.
A datação de cada ciclo leva em consideração o período em que determinado produto foi o mais importante de nossa economia ou então experimentou o seu auge de prosperidade. O fim de um ciclo econômico não marca necessariamente o fim dessa atividade econômica no Brasil, apenas quer dizer que outra mercadoria se estabeleceu como importante em nossa economia.
Esse modo de estudar a história da economia brasileira foi bastante popular entre os historiadores do século XX, mas perdeu um pouco de influência entre os do século XXI. Entre os intelectuais, sejam economistas, sejam historiadores, que difundiram essa teoria no século XX, estão: Caio Prado Jr., Celso Furtado, Nelson Werneck Sodré, entre outros.
A teoria dos ciclos econômicos evidencia o papel excessivamente agrário da economia brasileira, sendo que os principais produtos de nossa economia eram produzidos, principalmente, para atender ao mercado exterior. Essa dependência de commodities deixava (e ainda deixa) nossa economia vulnerável às flutuações de preços dessas mercadorias no mercado internacional.
Ciclos econômicos do Brasil e o período em que ocorreram
Neste texto serão abordados os ciclos econômicos que se estenderam em nossa história até a década de 1930, quando então a economia brasileira passou por uma industrialização, permitindo que se diversificasse. Apesar disso, a economia brasileira ainda é dependente das commodities no século XXI.
Sendo assim, os principais ciclos econômicos da história de nossa economia foram: ciclo do pau-brasil (século XVI), ciclo do açúcar (séculos XVI e XVII), ciclo do ouro (século XVIII) e ciclo do café (séculos XIX e XX).
Além desses quatro ciclos mais importantes, a história de nossa economia também ficou marcada pela existência de outros ciclos econômicos de menor duração mas que também geraram enorme riqueza. Esses ciclos foram: ciclo do algodão (séculos XVIII e XIX); ciclo do cacau (séculos XIX e XX); ciclo da borracha (séculos XIX e XX).
A seguir, vejamos algumas informações sobre os principais ciclos econômicos da história brasileira.
→ Ciclo do pau-brasil (século XVI)
A exploração do pau-brasil foi a primeira atividade econômica implantada pelos portugueses no Brasil após sua chegada. O pau-brasil é uma árvore típica da Mata Atlântica, sendo identificada pelos portugueses como um produto de potencial valor econômico. A árvore tem uma resina de cor vermelha que é extraída da madeira.
Essa resina era utilizada pelos portugueses para produzir um corante vermelho bastante vendido na Europa. Os portugueses exploraram o pau-brasil por meio do escambo com os indígenas, que derrubavam, cortavam e transportavam a madeira em troca de objetos que lhe seriam úteis, como machados.
Esse ciclo perdeu força quando os portugueses estabeleceram a produção de açúcar no Brasil. Apesar disso, o pau-brasil seguiu sendo explorado durante toda a colonização, sendo extraído até o século XIX. Isso, inclusive, quase resultou na extinção da árvore.
→ Ciclo do açúcar (séculos XVI e XVII)
O ciclo do açúcar se iniciou a partir da década de 1530, quando os portugueses decidiram estabelecer o cultivo da cana-de-açúcar para produzir açúcar aqui. Esse produto era uma mercadoria valiosa na Europa, e o Brasil tem o clima ideal para cultivo da planta. A partir da determinação portuguesa, começaram a ser construídos os primeiros engenhos.
Os principais engenhos foram construídos no Nordeste, em especial nas capitanias da Bahia e de Pernambuco; entretanto, existiram engenhos em todo o litoral nordestino e também no Sudeste. Foi devido à produção de açúcar que a presença portuguesa no Brasil aumentou de maneira significativa.
Nessa atividade econômica, indígenas e africanos foram explorados como trabalhadores escravizados, enquanto portugueses pobres realizavam alguns tipos de trabalho dentro do engenho. A grande autoridade no engenho era o senhor de engenho, que residia na Casa Grande. Essa mercadoria entrou em decadência depois que os holandeses se estabeleceram como concorrentes do açúcar português.
→ Ciclo do ouro (século XVIII)
Um dos grandes desejos dos portugueses em relação ao Brasil foi o encontro de minas de ouro. O desejo português se concretizou em 1695, quando bandeirantes descobriram ouro na região de Sabará, em Minas Gerais. As primeiras fontes de ouro foram encontradas no leito de rios (a chamada mineração de aluvião).
A descoberta do ouro atraiu milhares de pessoas para Minas Gerais, tornando a região o centro econômico, urbano, cultural e político do Brasil a partir do século XVIII. O ciclo do ouro também ocorreu em Goiás e no Mato Grosso, locais que também tinham minas de ouro, mas em quantidade inferior a Minas Gerais.
Com o tempo, os portugueses encontraram ouro na terra, sendo necessário escavá-la para realizar sua extração. A capitania de Minas Gerais tornou-se bastante próspera, sendo alvo de um grande controle por parte de Portugal. A riqueza e o controle tornaram a capitania também em um local de muitos conflitos.
Portugal cobrava altos impostos sobre o ouro extraído de Minas Gerais, sendo necessário pagar o quinto do ouro extraído, atender a uma meta anual de ouro que deveria ser entregue à administração régia, além de pagar outros impostos. Esses impostos motivaram revoltas, como a Revolta de Vila Rica e a Inconfidência Mineira. A partir da década de 1750, a economia mineradora entrou em crise na medida em que o ouro se tornava escasso.
→ Ciclo do café (séculos XIX e XX)
O café foi o último grande produto da economia brasileira antes de ela passar por uma industrialização mais consistente. Esse produto foi introduzido no Rio de Janeiro, sendo posteriormente levado para São Paulo e para Minas Gerais. O café foi um dos produtos mais importantes da história da economia brasileira e explica bastante porque São Paulo é o estado mais rico do Brasil.
O café foi inicialmente introduzido no Vale do Paraíba, expandindo-se para o Oeste Paulista e então chegando à Zona da Mata, em Minas Gerais. Foi o produto mais importante de nossa economia, e o Brasil foi o maior produtor de café do mundo por um longo período. O trabalho, inicialmente, era realizado por africanos escravizados, mas estes foram sendo lentamente substituídos por imigrantes assalariados ao longo do século XIX.
A prosperidade do café também contribuiu para o desenvolvimento industrial do estado de São Paulo e espalhou estradas de ferro para facilitar o escoamento da produção. A produção de café era feita em larga escala, e os preços sofriam com a flutuação no mercado internacional. A superprodução de café levou à crise dessa atividade econômica, e, a partir da década de 1930, o crescimento industrial retirou o café do protagonismo de nossa economia.
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Importância dos ciclos econômicos do Brasil
A teoria dos ciclos econômicos teve sua importância, pois ajudou a pensar, refletir e formular a história do Brasil. Muitos trabalhos realizados por historiadores se basearam nessa teoria, e ela ainda tem seu valor, embora tenha menos importância na historiografia do século XXI. Muitos historiadores atualmente são críticos a ela, considerando-a simplista e muito linear.
No viés econômico, os ciclos de nossa economia contribuíram, cada um à sua maneira, para o desenvolvimento do Brasil. Eles também contribuíram em outros aspectos, como o social, o político e o cultural, porém não deixaram de apresentar problemas.
Os ciclos econômicos evidenciam o caráter extrativista de nossa história, assim como demonstram a extrema dependência do Brasil da exportação de commodities para o mercado exterior. Esses ciclos econômicos contribuíram para o enriquecimento do Brasil, mas não foram acompanhados por iniciativas de distribuição de renda, fazendo dele um país muito desigual.
Exercícios resolvidos sobre os ciclos econômicos do Brasil
Questão 1
A Guerra dos Emboabas foi um conflito travado entre 1707 e 1709, estando diretamente ligado a qual ciclo econômico:
A) ciclo do café
B) ciclo do açúcar
C) ciclo da borracha
D) ciclo do ouro
E) ciclo do cacau
Resolução:
Alternativa D
A Guerra dos Emboabas foi um conflito travado entre 1707 e 1709, em Minas Gerais, sendo motivado pela disputa entre paulistas e forasteiros (chamados de emboabas) pelo controle das minas de ouro e do comércio de mercadorias nas zonas de mineração. Os paulistas foram derrotados e expulsos de Minas Gerais.
Questão 2
Qual dos locais abaixo não teve nenhuma relação com os engenhos que produziam açúcar em nosso país:
A) Moenda
B) Casa das caldeiras
C) Casa de purgar
D) Casa de fundição
E) Canavial
Resolução:
Alternativa D
A Casa de Fundição não teve nenhuma relação com os engenhos e a produção de açúcar, sendo, na verdade, onde a administração portuguesa fazia a devida cobrança do ouro extraído de Minas Gerais. Nesse local, o ouro era pesado, 20% eram retirados como imposto (quinto), e então o restante era devolvido em barras com um selo real que demonstrava que aquele era um ouro legal.
Fontes
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2013.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: Uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.