José do Patrocínio foi um jornalista, escritor, político e abolicionista nas décadas finais do Segundo Império e período inicial da República. Conhecido como o Tigre da Abolição, dedicou parte da sua vida à luta pela abolição da escravidão, sendo uma das principais lideranças da Confederação Abolicionista.
Filho de um clérigo com uma liberta, formou-se em Farmácia, mas pouco atuou nessa área. Na década de 1870 passou a trabalhar em jornais do Rio de Janeiro, passando por vários deles durante sua vida e sendo o proprietário de dois deles. Ficou conhecido pela sua inteligência, pela erudição e como um grande orador.
Em 1886 foi eleito vereador no Rio de Janeiro, ocupando o cargo durante a Proclamação da República e sendo um dos primeiros políticos, senão o primeiro, a decretar que a República havia sido estabelecida no Brasil. Durante a República da Espada foi acusado de ser monarquista, teve seu jornal fechado pelo governo, foi preso e degredado para a Amazônia. Voltou para o Rio de Janeiro, onde passou seus últimos anos, e faleceu em 29 de janeiro de 1905.
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Resumo sobre José do Patrocínio
- José do Patrocínio foi um dos principais membros do movimento abolicionista brasileiro durante o Segundo Reinado.
- Seu pai era um vigário da Igreja Católica e sua mãe, uma escrava alforriada.
- Foi criado em uma fazenda que utilizava mão de obra escrava.
- Foi casado com Maria Henriqueta, com a qual teve cinco filhos, dois se tornaram jornalistas.
- Seus textos discorriam sobre diversos assuntos, sendo os principais deles a abolição da escravidão e a proclamação de uma república no Brasil.
- Fez diversos discursos em comícios abolicionistas durante as décadas de 1870 e 1880.
- Participou de vários grupos abolicionistas, sendo uma liderança da Confederação Abolicionista.
- Foi um dos primeiros políticos a decretar que a República havia sido estabelecida no Brasil, além de um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.
- Durante os últimos anos de sua vida se dedicou à aviação, iniciando a construção de um dirigível.
Biografia de José do Patrocínio
→ Nascimento de José do Patrocínio
José do Patrocínio nasceu em 9 de outubro de 1853, em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. Ele era filho de Justina Maria do Espírito Santo, quitandeira e escrava liberta de apenas 15 anos, e do vigário José Carlos Monteiro.
Apesar de não assumir em cartório a paternidade do filho, José Carlos Monteiro abrigou o menino e financiou sua educação até o início da sua vida adulta. José do Patrocínio passou a sua infância na fazenda de seu pai, localizada na Lagoa de Cima, hoje município de Campo dos Goytacazes. Na fazenda existiam muitos escravos, e José do Patrocínio viu de perto as violências da escravidão, embora fosse um negro liberto.
Aos 14 anos se mudou para o Rio de Janeiro e passou a trabalhar como aprendiz na Santa Casa de Misericórdia da cidade. Na época ele ganhava a vida dando aulas particulares como professor e recebia uma mesada do pai. Ele estudou no curso preparatório para a faculdade de Medicina e Farmácia no externato de João Pedro de Aquino, conhecido como “Colégio Aquino”. Foi aprovado no curso de Farmácia da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, formando-se em 1874.
José do Patrocínio trabalhou por pouco tempo na área da saúde e, após formado na faculdade de Farmácia, trabalhou como jornalista, romancista e professor, além de dedicar boa parte do seu tempo ao abolicionismo.
→ Casamento de José do Patrocínio
Após se formar na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, José do Patrocínio foi contratado pelo Capitão Emiliano Rosa Sena para ser o professor de suas filhas. Patrocínio acabou se apaixonando por uma de suas alunas, Maria Henriqueta, que era carinhosamente chamada pelos familiares de Bibi. A paixão foi correspondida e, no início, não aceita pelo capitão, mas com o tempo ele aceitou o namoro e passou a apoiar Patrocínio em suas empreitadas políticas e profissionais.
José do Patrocínio e Maria Henriqueta se casaram em 1881 e tiveram cinco filhos, dos quais somente dois chegaram à vida adulta.
→ Formação acadêmica de José do Patrocínio
José do Patrocínio iniciou sua formação acadêmica no Externato Aquino, instituição educacional fundada em 1864 pelo professor João Pedro de Aquino. Ele estudou no externato nos seus anos iniciais, no curso preparatório para a faculdade de Farmácia.
Aprovado na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro para o curso pretendido, José do Patrocínio se formou em 1874, atuando por pouco tempo na área da saúde e dedicando-se ao jornalismo e ao abolicionismo.
→ Filhos de José do Patrocínio
José do Patrocinio teve cinco filhos com Maria Henriqueta, duas meninas, que faleceram ainda bebês, e três meninos, dos quais dois chegaram à vida adulta, chamados Maceu e Zeca; ambos se tornaram jornalistas. O terceiro filho desapareceu nas ruas do Rio de Janeiro quando criança e nunca mais foi encontrado pelos pais nem se soube seu paradeiro.
O filho mais ilustre de José do Patrocínio foi José do Patrocínio Filho, conhecido como Zeca Patrocínio e cujo padrinho foi André Rebouças, célebre engenheiro e abolicionista. Zeca foi jornalista em diversos periódicos do Rio de Janeiro, entre eles a Gazeta de Notícias, um dos jornais mais vendidos no período. Em 1917, Zeca passou a trabalhar na embaixada brasileira na Holanda e viajou para a Inglaterra no mesmo ano. A Europa vivia o auge da Primeira Guerra Mundial e, por um motivo que não conhecemos, Zeca foi acusado de ser um espião alemão e acabou preso na Inglaterra. Ele passou mais de um ano na prisão e foi deportado para o Brasil após o fim do conflito.
Outro descendente conhecido de José do Patrocínio foi o soldado Carlos Nuno Patrocínio, seu neto. Nuno foi um dos membros da Força Expedicionária Brasileira, enviado para a Itália como soldado em 1944 e lutando em importantes batalhas na Península Itálica. Nuno foi diagnosticado com “neurose de guerra”, retornando ao Brasil ainda durante o conflito mundial e suicidando-se em 1946.
→ Morte de José do Patrocínio
Nos últimos anos de vida José do Patrocínio sofreu com a tuberculose, indo a óbito por causa da doença em 29 de janeiro de 1905, na cidade do Rio de Janeiro, aos 51 anos de idade. Em sua casa, sobre sua escrivaninha, foi encontrado um texto incompleto onde José do Patrocínio escrevia um artigo criticando a forma cruel como animais de carga eram tratados, sendo o autor considerado um dos primeiros defensores dos direitos dos animais no Brasil.
Papel de José do Patrocínio na Proclamação da República
José do Patrocínio foi, além de abolicionista, um defensor da República, pelo menos desde a década de 1870. O Capitão Emiliano Rosa Sena, sogro de José do Patrocínio, era membro do Clube Republicano do Rio de Janeiro, assim como sua filha Maria Henriqueta; os biógrafos defendem que os dois tiveram grande influência no pensamento político de Patrocínio. Durante os anos em que morou na casa do futuro sogro ele entrou em contato com diversas lideranças republicanas, entre elas Quintino Bocaiúva e Lopes Trovão.
Somente o Marechal Deodoro da Fonseca é lembrado quando falamos na Proclamação da República, mas José do Patrocínio teve papel primordial nesse contexto. No dia 15 de novembro de 1889, após derrubar o ministério de Dom Pedro II, Deodoro da Fonseca promoveu um desfile militar pelas ruas do Rio sem, de fato, proclamar a República.
Enquanto o desfile ocorria, o escritor e político Aníbal Falcão foi até o jornal de José do Patrocínio para que uma moção pública fosse escrita extinguindo a monarquia no Brasil e proclamando a República. O documento foi feito e lido no início da noite por José do Patrocínio na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, e para muitos esse foi o momento no qual houve a Proclamação da República.
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Carreira de José do Patrocínio
José do Patrocínio cursou Farmácia na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro entre 1871 e 1874, período no qual residiu em uma república de estudantes onde fez diversos amigos. Após se formar, em conjunto com Demerval da Fonseca, passou a publicar o quinzenário Os Ferrões, do qual foram publicados dez números entre junho e outubro de 1875. Os dois jornalistas assinavam com os pseudônimos de Notus Ferrão e Eurus Ferrão.
Em 1877 passou a trabalhar na Gazeta de Notícias, um dos jornais mais populares da capital do império. Ele manteve uma seção, chamada “Semana parlamentar”, onde dava as principais notícias do Legislativo brasileiro. Dois anos depois iniciou no mesmo jornal suas publicações sobre a abolição, que o tornaram uma figura popular no Rio. Também realizou diversos discursos em comícios abolicionistas e republicanos, sendo considerado um exímio orador, com grande capacidade de prender a atenção do público.
José do Patrocínio conseguiu um empréstimo de seu sogro e comprou o jornal Gazeta da Tarde em 1881, após o falecimento de Ferreira de Meneses, proprietário do jornal. Na época ele fundou a Confederação Abolicionista e redigiu seu manifesto, que também foi assinado por André Rebouças e Aristides Lobo.
Em 1887 iniciou a publicação de um novo periódico, Cidade do Rio. Após a abolição da escravidão o jornal passou a publicar diversas matérias exaltando a Princesa Isabel, o que levou parte da opinião pública a associar José do Patrocínio à monarquia. Durante o governo de Floriano Peixoto o jornal foi fechado e Patrocínio, exilado.
Entre 1896 e 1897, Patrocínio participou da maioria das reuniões preparatórias para a fundação da Academia Brasileira de Letras, sendo um dos seus membros-fundadores e o primeiro a ocupar a cadeira de número 21 da ABL.
Obras de José do Patrocínio
- Os ferrões. Quinzenário satírico – 10 volumes (1875)
- Mota Coqueiro ou A pena de morte (romance, 1877)
- Os retirantes (romance, 1879)
- Pedro Espanhol (romance, 1884)
Ativismo político de José do Patrocínio
Foi no final da década de 1870 que José do Patrocínio se tornou um dos mais proeminentes abolicionistas do Brasil, primeiro através de seus textos jornalísticos e, depois, participando de comícios onde era sempre um dos principais oradores.
Juntamente com André Rebouças e Joaquim Nabuco, José do Patrocínio fundou a Confederação Abolicionista em 1883, que almejava unir as diversas entidades nacionais que lutavam pela abolição da escravidão.
Entre as principais estratégias utilizadas pela confederação estavam a publicação de artigos em periódicos, a realização de comícios, de reuniões, palestras e eventos para arrecadação de fundos, como bailes e a venda de rifas.
José do Patrocínio também sabia como dar visibilidade a sua causa. Um exemplo disso foi o que ocorreu em 1886, quando a cantora lírica russa Nadina Bulicioff apresentava a ópera Aida no Teatro Lírico do Rio de Janeiro para uma multidão. Ela parou a ópera no meio e alguns escravos entraram no palco e receberam de suas mãos cartas de alforria verdadeiras, sendo aplaudida pela maior parte do público presente. A ideia partiu de José do Patrocínio e de outros membros da Confederação Abolicionista, que no dia anterior combinaram com Nadina o ato. Após a ópera membros do movimento angariaram fundos para a compra de alforrias junto ao público.
Qual a importância de José do Patrocínio?
José do Patrocínio é considerado um dos maiores abolicionistas do Brasil, tendo dedicado grande parte da sua vida a essa causa. Nas décadas de 1870 e 1880, Patrocínio publicou diversos artigos defendendo a abolição, além de participar de diversos atos políticos em prol da causa.
Sua luta, assim como de outros negros como André Rebouças e Luís Gama, mostra que a abolição da escravidão foi fruto de uma longa luta do povo negro, que se iniciou séculos antes com Zumbi dos Palmares e outros ex-escravos que não aceitaram o cativeiro pacificamente.
Além disso, José do Patrocínio também teve grande destaque na Proclamação da República, sendo um dos primeiros políticos, senão o primeiro, a decretar que a República havia sido estabelecida no Brasil.
Crédito de imagem
[1] Wikimedia Commons (reprodução)
Fontes
PATROCÍNIO, José. A Campanha abolicionista – Coletânea de textos. Editora DCL, São Paulo, 2013.
PATROCÍNIO, José. NABUCO, Joaquim. REBOUÇAS, André. Panfletos abolicionistas. Penguin-Companhia das Letras, São Paulo, 2024.