Raça ariana

Raça ariana foi um conceito, criado no século XIX, ligado à existência de uma raça humana superior na qual a pessoa seria branca e de estatura elevada e teria olhos e cabelos claros.
Capa de uma revista nazista mostrando como seria o ideal de uma família composta por membros da raça ariana.
Capa da revista nazista Um Novo Povo, publicação do Partido Nazista. Na imagem, é representado o ideal nazista de família ariana. [1]
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Raça ariana foi um conceito criado na Europa no século XIX e ligado à existência de uma raça humana superior na qual a pessoa seria branca e de estatura elevada e teria olhos e cabelos claros. A criação desse conceito se baseou em estudos linguísticos do período. Segundo a teoria linguística, aceita ainda hoje, o tronco linguístico indo-europeu, originário provavelmente na Ásia Central, foi o ancestral das línguas germânicas, latinas, eslavas e celtas. Os defensores da raça ariana utilizaram esse modelo e chamaram os povos falantes do indo-europeu de arianos. A palavra “ariano” era utilizada na Antiga Índia para se referir à nobreza e foi de forma errada aplicada para nomear um povo.

Nos anos iniciais do nazismo a ideia de raça ariana foi largamente difundida, e povos não arianos, como árabes e judeus, passaram a ser perseguidos por serem considerados pelos nazistas membros de raças inferiores. Mesmo os nazistas tiveram dificuldades em classificar quem era ou não ariano, pois, considerando as características físicas, muitos judeus podiam ser classificados como arianos e muitos alemães não seriam classificados como tal. Devido a isso, no decorrer do governo nazista, o termo foi substituído por outros. Na atualidade grupos de supremacistas brancos ainda adotam a ideia de raça ariana.

Leia também: Nazismo — ideologia que surgiu na Alemanha após a Primeira Guerra Mundial e que foi responsável pelo Holocausto

Resumo sobre raça ariana

  • Raça ariana foi um conceito que estava ligado à existência de uma raça humana superior na qual a pessoa seria branca e de estatura elevada e teria olhos e cabelos claros.
  • A ideia de que parte dos europeus fazem parte da raça ariana começou a ganhar força a partir da metade do século XIX.
  • Os nazistas acreditavam que os alemães faziam parte da raça ariana, considerada por eles uma raça superior, física e intelectualmente, às demais.
  • Na concepção nazista os judeus pertenciam à raça semita, considerada por eles inferior.
  • As chamadas Leis de Nuremberg, aprovadas em 1935, tinham por principal objetivo preservar a pureza da raça ariana, não permitindo o casamento entre judeus e alemães.
  • Na atualidade somente grupos supremacistas e neonazistas utilizam o conceito de raça ariana.

O que é a raça ariana?

Raça ariana foi um conceito criado na Europa no século XIX e que estava ligado à existência de uma raça humana superior na qual a pessoa seria branca e de estatura elevada e teria olhos e cabelos claros. A ideia de raça ariana foi fortemente influenciada por teorias linguísticas, pelo romantismo, pelo darwinismo social e por teorias relacionadas à eugenia.

Para os nazistas, a raça ariana seria uma das três raças humanas existentes. As outras duas raças que formariam a humanidade seriam a raça semita e a raça camita. A raça semita recebeu esse nome porque ela seria formada pelos descendentes de Sem, um dos filhos de Noé. Os judeus e árabes seriam os principais povos semitas. Da raça camita fariam parte os povos africanos, a pseudo-raça recebeu esse nome pois os africanos seriam descendentes de Cam, outro filho de Noé.

Para os nazistas os arianos seriam originários da Ásia Central, migrando para a Europa, Irã e Índia. Considerando isso, o povo alemão, assim como outros do Norte da Europa, seria aquele que herdou a maior parte das características arianas, pois não teria passado por processo de miscigenação com outras raças, preservando as características arianas. Para Adolf Hitler, indianos e iranianos, que foram originalmente arianos, cometeram o grande erro da miscigenação, por isso seriam nações decadentes.

Os nazistas chegaram a realizar uma expedição para o Himalaia, composta por especialistas em arqueologia e história, para encontrarem o local de origem do povo germânico. Um dos locais de origem do povo ariano, ainda segundo a crença nazista, seria a lendária cidade de Atlântida. A expedição não encontrou o local de origem, mas coletou dados biométricos de dezenas de pessoas da região para compará-los com os dados da suposta raça ariana.

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Origem do termo “ariano”

O termo “ariano” nomeava uma alta classe social, não um povo, como acreditavam os defensores da raça ariana. A palavra ariano em sânscrito significa algo como “senhor” ou “nobre”.

Características da raça ariana

Algumas das principais características de alguém pertencente à raça ariana era ser uma pessoa branca, de estatura elevada e com olhos e cabelos claros. Também existiam, em algumas interpretações, dois tipos de arianos: os nórdicos, predominantemente louros de olhos claros, e os latinos, de cabelo e olhos escuros.

A classificação de um indivíduo como ariano era imprecisa, ampla e não científica. Dessa forma, ela variou muito as principais características que um ariano e um não ariano tinham. Em muitas das classificações utilizadas, muitos dos membros da cúpula do Partido Nazista não seriam considerados arianos, entre eles o próprio Hitler.

Os próprios nazistas tiveram dificuldades em classificar arianos e não arianos apenas pelas características físicas, de modo que muitos judeus podiam claramente ser classificados como arianos e muitos alemães não seriam classificados como tal. Após as Leis de Nuremberg o Partido Nazista passou a utilizar outros termos, como “de sangue alemão” e “aparentados” (em tradução livre), “judeu” e “não judeu”, “alemão” e “não alemão”, entre outros.

Um caso simbólico foi o de Hessy Taft, que em 1935 era uma bebê judia que vivia na Alemanha Nazista. Sua mãe a levou para um estúdio onde foram feitas diversas fotografias da menina pelo fotógrafo Hans Ballin. Sem que a família soubesse, o fotógrafo fez cópias de algumas fotografias e as enviou para um concurso de escolha do “bebê ariano perfeito”, promovido pelo Ministério da Propaganda e chefiado por Joseph Goebbels.

Fotografia de Hessy Taft, eleita por Joseph Goebbels como um exemplo de bebê perfeito pertencente à raça ariana.
Hessy Taft foi eleita como a bebê ariana perfeita por Joseph Goebbels, que não sabia que ela era judia, em virtude de suas “características arianas”.

Alguns meses depois a família recebeu a notícia de que Hessy Taft estava na capa da revista Sonne ins Haus, uma das publicações do Partido Nazista. Ela foi eleita pelo próprio Goebbels como a bebê ariana perfeita, obviamente sem ele imaginar que a menina era judia. A fotografia de Hessy foi utilizada outras vezes pelos nazistas, em cartazes, folhetos e diversas publicações que valorizavam a raça ariana.

Segundo Hessy Taft, hoje uma senhora octogenária, inicialmente o fotógrafo Hans Ballin não informou os nazistas sobre a identidade da criança e afirmou para sua mãe que enviou a fotografia de Hessy para o concurso como uma forma de ridicularizar os nazistas.

Após a divulgação da revista, a família de Hessy fugiu da Alemanha, vivendo em diversos países e passando a residir permanentemente nos Estados Unidos, onde Hessy vive ainda hoje.

Uso do termo “raça ariana” na Alemanha Nazista

Na Alemanha Nazista o termo “raça ariana” era utilizado para se referir a uma raça considerada uma raça superior às demais raças e que seria a ancestral do povo alemão, que teria sido o povo que mais preservou as características arianas originais.

Arthur Gobineau e Houston Stewart Chamberlian foram alguns dos teóricos que defenderam que a raça ariana seria superior cultural, física e intelectualmente às demais raças existentes. Desde a fundação do Partido Nazista, no início da década de 1920, essa ideia de que a raça ariana era superior estava presente no discurso do partido.

Ao mesmo tempo estava presente um forte discurso antissemita, no qual os semitas, sobretudo os judeus que tinham uma população considerável na Europa, eram uma raça inferior, que se reproduziu de forma mais rápida do que a raça ariana e que, dessa forma, um dia iria se sobrepor à população alemã. O discurso nazista ainda defendia que os casamentos entre arianos e semitas contaminavam a raça ariana.

Após os nazistas começarem a governar a Alemanha, em 1933, o termo “raça ariana” passou a ser largamente utilizado, na legislação, no sistema de ensino, nas propagandas do governo, manifestações artísticas financiadas pelo Reich, entre outros meios. Em 7 de abril de 1933 os nazistas aprovaram a “Lei para a restauração do serviço civil profissional”. Um dos parágrafos dessa lei, chamado de arierparagraph (parágrafo ariano), excluía do serviço público todas as pessoas que não fossem arianas. Diversas empresas, clubes, igrejas e outras entidades adotaram medidas semelhantes. Com a lei os judeus foram excluídos dos serviços públicos, universidades e escolas.

Para provar que era ariana a pessoa deveria reunir diversos documentos, comprovando sua ascendência livre de judeus desde 1800. Quando todos os documentos eram reunidos a pessoa os enviava para um departamento do governo nazista, que verificava a veracidade dos documentos e emitia um “Certificado de ascendência ariana”, assinado por um juiz. Ciganos, negros e árabes também não eram considerados arianos.

Ademais, na Alemanha Nazista existiu a arisierung, ou arianização, nome do processo no qual uma propriedade era transferida de um não ariano, geralmente um judeu, para a propriedade de um ariano. A arianização ocorreu em toda a Alemanha e em todo o território controlado pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Anúncio de 1938, do Armazém Herzmansky, informando que o dono e seus funcionários são todos de raça ariana.
Anúncio do Armazém Herzmansky informando: “Herzmansky é novamente puramente ariano”. O armazém passou pelo processo de arianização em 1938. [2]

Acesse também: Neonazismo — ideologia que resgata ideais e práticas do nazismo alemão e os aplica ao contexto atual

Uso do termo “raça ariana” na atualidade

Atualmente o termo “raça ariana” é utilizado por grupos neonazistas e grupos de supremacistas brancos em diversos países no mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Southern Poverty Law Center, ONG que pesquisa grupos supremacistas, apontou que em 2022 nos Estados Unidos existiam mais de 1.000 grupos em atuação. Esses grupos defendem a superioridade da raça ariana e discriminam judeus, latinos, chineses, negros, homossexuais, entre diversos outros grupos.

No Brasil, segundo a antropóloga Adriana Dias, existem atualmente no Brasil aproximadamente 530 núcleos extremistas que defendem a superioridade ariana e discriminam grupos como negros, nordestinos, imigrantes, entre outros. |1|

O termo “ariano” também está relacionado ao nome Irã. A palavra que deu origem ao nome do país do Oriente Médio é aryanam, ou “terra dos arianos”. Mas, nesse caso, a palavra possui o significado original, Irã significa a “terra dos nobres”.

Notas

|1|  GRUPOS neonazistas crescem 270% no Brasil em 3 anos; estudiosos temem que presença online transborde para ataques violentos. Fantástico, 16 jan. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2022/01/16/grupos-neonazistas-crescem-270percent-no-brasil-em-3-anos-estudiosos-temem-que-presenca-online-transborde-para-ataques-violentos.ghtml.

Créditos de imagem

[1]  Wikimedia Commons (reprodução)

[2]  Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

GRUPOS neonazistas crescem 270% no Brasil em 3 anos; estudiosos temem que presença online transborde para ataques violentos. Fantástico, 16 jan. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2022/01/16/grupos-neonazistas-crescem-270percent-no-brasil-em-3-anos-estudiosos-temem-que-presenca-online-transborde-para-ataques-violentos.ghtml.

PINNA, Javier Martínez. Os exploradores de Hitler: Heinrich Himmler, a SS-Ahnenerbe e a busca insana pelas origens da raça ariana. São Paulo: Cultrix, 2022.

SZKLARZ, Eduardo. Nazismo – Como isso pôde acontecer? São Paulo: Jandaíra, 2022.

Por Jair Messias Ferreira Junior