Revolução Puritana

A Revolução Puritana (1640-1660) foi um conflito entre a monarquia inglesa e o Parlamento e resultou na destituição do rei e na proclamação da república.
Quadro “A Batalha de Marston Moor”, de John Baker, retratando um dos conflitos da Revolução Puritana (1640-1660).

A Revolução Puritana (1640-1660) foi o conflito entre a monarquia inglesa e o Parlamento, que culminou com a alteração da forma de governo monárquica para a republicana, sob a liderança do puritano Oliver Cromwell. Foi a primeira fase da Revolução Inglesa (um dos principais acontecimentos da Idade Moderna), que consolidou o sistema de governo parlamentar na Inglaterra, cujas características persistem até os dias de hoje.

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Resumo sobre a Revolução Puritana

  • Foi um conflito entre a monarquia inglesa e o Parlamento ocorrido entre 1640 e 1660.
  • Teve como antecedentes as transformações econômicas e sociais da Inglaterra, sobretudo a ascensão social da camada burguesa enobrecida chamada Gentry.
  • Suas causas envolvem política e religião.
  • Do lado político, havia as tensões entre rei e Parlamento, sendo os parlamentares adeptos à maior representatividade no governo; do lado religioso, a expansão do puritanismo e sua tentativa de reforma teológica do anglicanismo.
  • Os conflitos da revolução opuseram o exército real ao exército parlamentar. Como resultado, este saiu vitorioso e foi proclamada a república na Inglaterra.
  • O governo republicano nesse período foi comandado por Oliver Cromwell, que governou entre 1649 e 1653.
  • As consequências da revolução foram, de forma imediata, a proclamação da república e o governo de Oliver Cromwell e, de forma mediata, os desdobramentos da Revolução Gloriosa e a consolidação do sistema de governo parlamentarista na Inglaterra.
  • A Revolução Gloriosa (1688) consolidou o sistema de governo parlamentarista inglês, estabelecendo a supremacia parlamentar na chefia de governo.

Antecedentes históricos da Revolução Puritana

Os antecedentes históricos da Revolução Puritana remontam aos séculos XVI e XVII e têm aspectos econômicos, políticos e sociais. Nesse período, a colonização da América trouxe um grande fluxo de riquezas, sobretudo o algodão cru, matéria-prima para as tecelagens inglesas. Houve ainda a expansão dos marcados de tecidos de lã pelas rotas comerciais europeias, a expansão da criação de ovelhas para a obtenção de lã e o crescimento das cidades e suas populações.

Do ponto de vista político e social, a ascensão da camada social composta por novos nobres aburguesados, definidos como capitalistas ambiciosos, chamada Gentry, determinou os rumos da condução política inglesa da época. Por protagonizarem o desenvolvimento econômico, os gentlemen — nomenclatura dada aos membros da Gentry — ansiavam por participação política e prestígio social.

Quais são as causas da Revolução Puritana?

A Revolução Puritana ocorreu entre 1640 e 1660 e foi causada pelos conflitos travados entre os reis e o Parlamento, em específico os reis Jaime I, que governou de 1603 a 1625, e seu sucessor, Carlos I, que governou de 1625 a 1649. Por um lado, a monarquia tentou ampliar seus poderes, inspirada pelo modelo absolutista francês; por outro, o Parlamento não aceitava a diminuição de sua importância política e sofria com disputas internas entre as câmaras dos Lordes e dos Comuns.

O quadro Carlos I em três posições, de Anthony Van Dyck, retrata um dos reis que entraram em conflito com o Parlamento.

Até essa época, o Parlamento britânico era controlado pela Câmara dos Lordes, composta por membros da nobreza tradicional. Esse grupo sofria forte oposição da Câmara dos Comuns, composta pela Gentry, que, com ascensão econômica e social, ambicionava maior participação política.

Revolução Puritana (1640-1660)

A Revolução Puritana recebeu esse nome por conta de um conflito religioso (paralelo às discussões políticas) entre puritanos e anglicanos que permeou suas pautas. Os protestantes ingleses tradicionalmente estavam ligados ao anglicanismo, caracterizado por sincretizar elementos da teologia católica e da tradição reformada calvinista, enquanto os puritanos pretendiam remover os elementos católicos da religião reformada, reforçando seu caráter calvinista.

O pensador francês Alexis de Tocqueville (1805-1859), em sua obra A democracia na América (1835), definiu o puritanismo como uma teoria política e uma doutrina religiosa: politicamente avesso à ideia absolutista e socialmente ligado às camadas burguesas da Inglaterra, o puritanismo mesclou ideais políticos de governos representativos aos ideais religiosos calvinistas, que pretendiam afastar o anglicanismo de suas características católicas.

Nessa época, a ligação entre Estado e religião era profunda, e assuntos das duas áreas se misturavam constantemente. Durante os conflitos militares da Revolução Puritana, os exércitos liderados por Oliver Cromwell, um puritano, tinham apoio da Assembleia de Westminster (1643-1653), um órgão religioso (formado por 121 pastores, 20 membros da Câmara dos Comuns e 10 membros da Câmara dos Lordes) que reformou a fé protestante inglesa e garantiu apoio político para Cromwell.

A série de conflitos conhecida como Revolução Puritana (1640-1660) teve início com uma revolta escocesa. A fim de controlá-la, o rei precisou de recursos econômicos, o que só poderia ser possível com a aprovação do Parlamento, com quem estava indisposto. A convocação do Parlamento em 1640 levou ao aumento das tensões, que resultaram na fuga do rei Carlos I de Londres em janeiro de 1642, marco inicial da guerra civil.

A partir desse episódio, opuseram-se duas instituições inglesas: o exército real, composto pela nobreza cavaleira, experiente e bem equipada; e o exército parlamentar, composto por plebeus inexperientes. Apesar da situação desfavorável, o exército parlamentar conseguiu galgar vitórias sob a liderança de Oliver Cromwell, um gentleman, deputado que assumiu o comando do exército.

→ Oliver Cromwell na Revolução Puritana

O quadro A Batalha de Naseby retrata uma das principais batalhas da Revolução Puritana.

Oliver Cromwell criou o New Model Army, “novo modelo de exército”, que se caracterizou pela discussão de estratégias de maneira conjunta, promoção por mérito e tolerância religiosa. Como resultado, o novo exército parlamentar foi vitorioso sobre as tropas reais em 1645 na Batalha de Naseby.

Com prestígio e poder crescentes, Oliver Cromwell assumiu o protagonismo político da situação. Assim, ordenou a execução do rei Carlos I e, em 1649, proclamou a república na Inglaterra, assumindo como governante.

Quais foram as consequências da Revolução Puritana?

As consequências imediatas da Revolução Puritana foram a organização de uma nova forma de governo, a republicana, e de seu primeiro governo, o de Cromwell, entre 1649 e 1653. Durante esse período, o governo republicano sufocou revoltas na Irlanda e Escócia, além de desenvolver legislações que priorizaram a expansão do comércio britânico, como o Ato de Navegação de 1651, que proibia o comércio externo feito com navios estrangeiros, priorizando a marinha mercante inglesa em relações comerciais internacionais.

Revolução Puritana e Revolução Gloriosa

O governo de Cromwell acabou com sua morte, em 1658, época a partir da qual as convulsões revolucionárias recomeçam na Inglaterra. Incapazes de formar um novo governo, os aliados puritanos de Cromwell restauram a monarquia sob a Dinastia Stuart, com o rei Carlos II, que reinou entre 1660 e 1685. No entanto, seu sucessor, Jaime II, que governou entre 1685 e 1688, mais uma vez distendeu a relação com o Parlamento, tentando aumentar seus poderes políticos.

Com isso, os trabalhos revolucionários iniciados com a Revolução Puritana culminaram com a Revolução Gloriosa de 1688, a partir da qual o Parlamento, com base no Bill of Rights de 1689, foi declarado o centro da organização do governo inglês, assumindo o Poder Legislativo e a chefia de governo por meio da escolha do primeiro-ministro e do Executivo, enquanto o rei passou a ocupar o posto de chefe de Estado, com funções diplomáticas e alheias à condução da política interna nacional.

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Exercícios resolvidos sobre a Revolução Puritana

Questão 1

(Unesp) A Revolução Puritana (1640) e a Revolução Gloriosa (1688) transformaram a Inglaterra do século XVII. Sobre o conjunto de suas realizações, pode-se dizer que

A) determinaram o declínio da hegemonia inglesa no comércio marítimo, pois os conflitos internos provocaram forte redução da produção e exportação de manufaturados.

B) resultaram na vitória política dos projetos populares e radicais dos cavadores e dos niveladores, que defendiam o fim da monarquia e dos privilégios dos nobres.

C) envolveram conflitos religiosos que, juntamente com as disputas políticas e sociais, desembocaram na retomada do poder pelos católicos e em perseguições contra protestantes.

D) geraram um Estado monárquico em que o poder real devia se submeter aos limites estabelecidos pela legislação e respeitar as decisões tomadas pelo Parlamento.

E) precederam as revoluções sociais que, nos dois séculos seguintes, abalaram França, Portugal e as colônias na América, provocando a ascensão política do proletariado industrial.

Resolução:

Alternativa D

As revoluções Puritana e Gloriosa consolidaram o sistema de governo parlamentar na Inglaterra, que exercia a chefia de governo, cabendo à monarquia a chefia da Estado.

Questão 2

(Unicentro) As duas classes fundamentais da sociedade capitalista definiram-se a partir da Revolução Industrial inglesa do final do século XVIII.

Foram elas,

A) o clero e a nobreza.

B) a burguesia e o proletariado.

C) a classe média e o campesinato.

D) os proprietários rurais e a burguesia.

Resolução:

Alternativa B

A partir da Revolução Puritana e da Gloriosa, a burguesia enobrecida (Gentry) passou a controlar o Parlamento e ascendeu ao poder. Com isso, a indústria encontrou um contexto político favorável para seu desenvolvimento posterior, criando uma grande camada de proletários na Inglaterra.

Fontes

ARRUDA, José Jobson de Andrade. A Revolução Inglesa. São Paulo: Brasiliense, 1990.

ARRUDA, José Jobson de Andrade. Nova História Moderna e Contemporânea. Bauru: Edusc, 2006.

FLORENZANO, Modesto. As Revoluções Burguesas. São Paulo: Brasiliense, 2005.

Por Tiago Soares Campos