Reforma Protestante
Reforma Protestante é o nome dado ao movimento reformista que surgiu no cristianismo em 1517 por meio do monge agostiniano Martinho Lutero.
Por Daniel Neves Silva
Reforma Protestante é o movimento reformista que surgiu no cristianismo no século XVI. Esse movimento deu origem a novas doutrinas cristãs, sendo iniciado por Martinho Lutero, um monge católico que estava insatisfeito com algumas práticas e questões teológicas defendidas pela Igreja Católica.
A atuação de Lutero teve como ponto de partida a divulgação das 95 Teses, que rapidamente se espalharam pela Europa e deram origem ao reformismo no seio da Igreja Católica. Da atuação de Lutero, surgiu o protestantismo com suas diferentes doutrinas. A Igreja Católica, por sua vez, procurou barrar o avanço da Reforma Protestante por meio da Contrarreforma.
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Resumo sobre a Reforma Protestante
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A Reforma Protestante foi um movimento religioso que aconteceu no cristianismo europeu no século XVI.
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Por meio desse movimento surgiram novas doutrinas cristãs: luteranismo, calvinismo, anglicanismo etc.
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A Reforma Protestante aconteceu em um contexto de insatisfação com o poder da Igreja Católica e sua corrupção.
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Martinho Lutero foi o reformador que deu início a esse processo, em 1517.
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A Igreja Católica buscou barrar o avanço do protestantismo por meio da Contrarreforma.
O que foi a Reforma Protestante?
A Reforma Protestante foi um movimento religioso que aconteceu no interior do cristianismo na Europa Ocidental a partir do século XVI e que deu origem a novas doutrinas cristãs. Essa reforma se iniciou enquanto um movimento que questionava algumas práticas da Igreja Católica e a autoridade papal, mas se tornou um momento de ruptura.
Essa ruptura deu origem a novas doutrinas cristãs e, consequentemente, a novas igrejas, como a luterana, a calvinista e a anglicana. As doutrinas protestantes se espalharam pelo continente europeu, conquistando milhões de fiéis e enfraquecendo o poderio da Igreja Católica no continente. Esse movimento se iniciou com Martinho Lutero, embora os historiadores apontem que críticos à Santa Sé já existiam antes dele.
As críticas de Lutero conquistaram apoiadores, mas também foram vistas como uma oportunidade por muitos monarcas e nobres, que viram no fato uma chance para enfraquecer a Igreja Católica e conquistar mais poder político e econômico. Depois de Lutero outros pregadores surgiram, como Calvino.
A Igreja Católica reagiu ao surgimento do protestantismo e às críticas realizadas via Contrarreforma. Por meio da Contrarreforma, a Igreja Católica estabeleceu uma série de medidas para impedir o fortalecimento do protestantismo.
Contexto histórico da Reforma Protestante
No século XVI, a Igreja Católica era uma instituição poderosa política, religiosa e economicamente. Tamanho poder gerava críticas ao excesso de influência política e ao acúmulo de riquezas da instituição. Além disso, muitas críticas eram feitas a práticas da instituição no período. Essa situação da Igreja Católica e as críticas foram as grandes causadoras da Reforma Protestante.
A Reforma Protestante teve causas relacionadas a aspectos políticos, econômicos e teológicos e resultou da corrupção existente na Igreja Católica. Além disso, foi resultado de interesses políticos oriundos de nobres que viram na reforma uma possibilidade de romper o vínculo de autoridade com o papa. Por fim, foi imposta a questão dos interesses econômicos, uma vez que a Igreja estipulava a cobrança de impostos de todos seus fiéis.
No aspecto teológico, o ponto imediato a ser destacado é a insatisfação de Martinho Lutero com as práticas da Igreja Católica. A Igreja de Roma era, naquele período, a maior autoridade da Europa Ocidental e detinha um imenso poder, uma vez que era dona de terras e riquezas imensuráveis.
Além disso, a autoridade do papa impunha-se para além do campo religioso, alcançando o campo secular (político). Os reis da Europa tinham seu poder sustentado pela autoridade da Igreja, uma vez que era praticamente impossível manter-se no comando sem a aprovação do papa. Sendo assim, a Igreja possuía o monopólio da vida política e religiosa europeia.
Focando no aspecto teológico, muitos começaram a questionar as posições da Igreja. Antes mesmo de Lutero, já havia existido na Europa movimentos religiosos e figuras do clero católico que questionavam determinados princípios do catolicismo. No longo prazo, pode-se ressaltar, por exemplo, os valdenses, que surgiram na França no final do século XII.
Poucos anos antes do início da reforma, existiram os pré-reformadores na Europa, que teceram críticas à Igreja de Roma. Dois nomes que se destacaram nesse contexto foram John Wycliffe e Jan Hus. O primeiro criticava o acúmulo de poder político e os desvios da Igreja dos verdadeiros ensinamentos de Jesus. O segundo tecia críticas parecidas contra o enriquecimento da Igreja e a venda de indulgências.
Em relação às questões políticas, existia uma série de reis, nobres e autoridades em geral que estavam interessados em separar o poder secular do religioso. Isso significa que muitos viam o rompimento como uma forma de consolidar ou de assegurar mais poder sem a necessidade de ter que se sujeitar a outra autoridade; no caso, o papa.
Nas questões econômicas, há de se destacar que, na região norte da Europa, havia uma insatisfação muito grande com a quantidade de impostos que deveriam ser repassados para a Igreja. Tal questão intensificava-se em um contexto em que as penínsulas Itálica e Ibérica estavam em franco desenvolvimento e enriquecimento, enquanto regiões como a que corresponde à atual Alemanha eram pobres e enfrentavam dificuldades econômicas.
Por que Lutero se revoltou contra a Igreja?
Martinho Lutero era um monge e uma figura importante do clero alemão. Ele se incomodava profundamente com a cobrança das indulgências, uma prática vista por ele como imoral e pecaminosa, pois condicionava o perdão dos pecados e a garantia da salvação dos fiéis ao pagamento com dinheiro.
Lutero entendia que essa mercantilização da fé era inadequada, acreditando que as indulgências não tinham validade real na salvação das pessoas. O monge entendia que a Bíblia era a fonte única de inspiração da fé cristã e, com base na leitura bíblica, ele concluía que as indulgências tinham valor nenhum para a garantia dos cristãos.
Lutero entendia que os fiéis eram justificados por meio da fé e que ela unicamente era o meio de garantir a salvação deles. No contexto do início da Reforma, Lutero estava indignado com a venda de uma indulgência realizada em Wittenberg por João de Tetzel a mando do Arcebispo de Mainz e do papa Leão X. Essa indulgência financiaria a construção da Basílica de São Pedro.
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Quais os objetivos da Reforma Protestante?
Quando Lutero se levantou contra as práticas da Igreja Católica, ele não queria romper com a Igreja, mas promover um debate interno para que reformas dentro dela acontecessem. O objetivo de Lutero, portanto, não era sair da Igreja, mas reformá-la para que ela pudesse ser aprimorada.
Entretanto, a disputa iniciada entre Lutero e Santa Sé acabou na origem de outra doutrina cristã na medida em que Lutero se afastava da Igreja Católica teologicamente. Assim, os objetivos de Lutero eram criticar e combater a corrupção e outras práticas da Igreja Católica, mas, com o tempo, ele foi se afastando teologicamente do catolicismo.
Além disso, como mencionado, muitos nobres viram na Reforma Protestante um caminho para o enfraquecimento da Igreja, permitindo a separação entre o poder secular e o poder religioso, além de garantir acesso às posses da Igreja e permitir que o enfraquecimento da Santa Sé resultasse no fim das cobranças impostas pela Igreja aos reinos europeus.
Teses de Lutero
As 95 Teses foram uma carta escrita por Lutero criticando as indulgências e outras práticas da Igreja Católica. Esse documento foi escrito no contexto de cobrança da indulgência para a construção da Basílica de São Pedro. Foi escrito e enviado para o Arcebispo de Mainz, chamado Alberto de Brandemburgo, em 31 de outubro de 1517, sendo um marco e dando início à Reforma Protestante.
Martinho Lutero defendia, basicamente, que a Bíblia era a única referência para os fiéis e que as pessoas conseguiriam ser salvas sem a mediação de intermediários e sem precisar dar indulgências. A base teológica de Lutero era um versículo bíblico que afirmava que “o justo viverá pela fé”. Aqui, Lutero passou a defender a ideia de que não eram as boas ações que salvariam uma pessoa, mas sim a fé.
A construção teológica iniciada por Martinho Lutero deu origem a um princípio conhecido como Cinco Solas:
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Sola fide (somente a fé)
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Sola scriptura (somente a Escritura)
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Solus Christus (somente Cristo)
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Sola gratia (somente a graça)
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Soli Deo gloria (glória somente a Deus)
As 95 Teses espalharam-se com rapidez pela Europa por conta da imprensa (criada em 1430, por Johann Gutenberg), a qual permitia a cópia e a impressão de livros em uma velocidade inédita para a época. Com isso, as ideias de Lutero propagaram-se e conquistaram seguidores em toda a Europa.
Um registro importante é a famosa imagem de Martinho Lutero pregando as 95 Teses na porta da igreja do Castelo de Wittenberg. Muitos consideram esse o ponto de partida da Reforma Protestante, mas os historiadores nunca conseguiram comprovar se esse episódio de fato aconteceu. Portanto, os historiadores consideram o evento como uma lenda.
Calvinismo e Reforma Protestante
A disseminação da Reforma Protestante deu origem a novas doutrinas cristãs, sendo que uma delas foi o calvinismo. Essa doutrina surgiu na Suíça por meio das pregações do reformador João Calvino. Esse reformador encontrou como pregar sua doutrina no ambiente de tolerância religiosa que se estabeleceu na Suíça com a Paz de Kappel.
O ponto central da doutrina calvinista é a crença na ideia de predestinação, também conhecida como eleição incondicional. Nessa ideia, os calvinistas argumentam que aqueles que serão salvos, chamados de eleitos, foram escolhidos por Deus para esse destino antes mesmo da criação da humanidade.
O calvinismo também foi utilizado como instrumento para defesa de interesses econômicos, uma vez que os calvinistas defendiam a acumulação de riqueza, argumentando que ser rico era um sinal do favor de Deus; logo, passou-se a ser considerado que a pessoa rica era uma eleita por Deus para ser salva.
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Consequências da Reforma Protestante
O protestantismo gerou inúmeras consequências no curto e longo prazo, como:
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surgimento de novas doutrinas cristãs;
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enfraquecimento da Igreja Católica;
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combate de práticas corruptas no interior da Igreja Católica;
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violência religiosa etc.
Contrarreforma
As doutrinas protestantes tiveram um crescimento expressivo a partir da década de 1520, sobretudo nos países da Europa Central e do norte do continente europeu. A Igreja Católica, preocupada com o seu enfraquecimento, estabeleceu uma série de medidas que visavam enfraquecer o crescimento do protestantismo e impedir que a Santa Sé perdesse mais fiéis.
Esse esforço da Igreja Católica para barrar o avanço do protestantismo ficou conhecido como Contrarreforma, contanto com uma série de iniciativas da Igreja Católica, como:
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criação da ordem dos jesuítas para expandir o catolicismo via padres missionários;
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criação de seminários para garantir melhor formação aos sacerdotes;
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proibição da venda de indulgências;
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reforço da atuação do Tribunal da Santa Inquisição;
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proibição de livros escritos por autores protestantes etc.
Acontecimentos marcantes da Reforma Protestante
Entre os acontecimentos mais marcantes da Reforma Protestante, destacam-se:
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a elaboração das 95 Teses de Lutero (1517);
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excomunhão de Lutero (1521);
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dieta de Worms (1521);
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tradução da Bíblia para o alemão por Martinho Lutero (1522);
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Revolta dos Camponeses (1524-1525);
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surgimento do anglicanismo e calvinismo (década de 1530);
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Concílio de Trento (1545-1563);
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Guerra dos 30 anos (1618-1648);
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Paz de Vestfália (1648) etc.
Exercícios sobre Reforma Protestante
Questão 01
A respeito da Reforma Protestante, selecione a alternativa INCORRETA:
a) Lutero questionou a cobrança das indulgências por meio das 95 Teses.
b) Lutero acreditava que a fé era o único meio para ser salvo.
c) O calvinismo surgiu na Suíça na década de 1530, influenciado pelo luteranismo.
d) Lutero apoiou as revoltas camponesas na Alemanha na década de 1520.
e) A Igreja Católica buscou conter o protestantismo por meio da Contrarreforma.
Resposta: Letra D
Os anos de 1524-1525 foram marcados na Alemanha pela realização de revoltas de camponeses que aderiram ao protestantismo. Essas revoltas demonstravam a insatisfação dos camponeses com a corrupção da Igreja Católica, mas também com a exploração que sofriam dos nobres locais. Lutero criticou a Revolta dos Camponeses, apoiando a repressão dos camponeses.
Questão 02
A respeito das causas da Reforma Protestante, selecione a alternativa correta:
a) foi motivada pela insatisfação de Lutero com a cobrança das indulgências.
b) foi incentivada pela nobreza alemã como forma de enfraquecer o poder da Igreja Católica no norte da Europa.
c) foi motivada pela insatisfação com práticas da Igreja Católica.
d) foi resultado do excesso de poder da Igreja Católica e por divergências teológicas de Lutero com algumas doutrinas do catolicismo.
e) todas as alternativas estão corretas.
Resposta: Letra E
Todas as alternativas apresentam fatores do início da Reforma Protestante na Europa, no começo do século XVI.
Fontes
MICELI, Paulo. História Moderna. São Paulo: Contexto, 2020.
VEIGA, Edison. Lutero, o monge católico que abriu portas para surgimento de igrejas evangélicas. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cvglpydr58go
MATOS, Alderi Souza de. A Reforma Protestante do século XVI. Disponível em: http://www.faifa.edu.br/revista/index.php/voxfaifae/article/view/24