Manufatura

Manufatura é um sistema de produção de bens no qual cada trabalhador executa uma parte do processo produtivo. É a etapa intermediária entre o artesanato e a maquinofatura.
Homem costurando sapato em texto sobre manufatura.

Manufatura é um modo de produzir bens de consumo que teve grande importância na economia europeia no Período Moderno (1453-1789). As manufaturas utilizavam a divisão do trabalho, na qual cada trabalhador executava uma etapa da produção do bem. Isso possibilitou que a produção crescesse consideravelmente na Europa durante esse período, criando as condições necessárias para a Revolução Industrial.

A manufatura é uma fase de transição entre o sistema artesanal e o sistema maquinofatureiro. No início da Idade Moderna a maior parte das manufaturas contava com poucos trabalhadores, na maioria das vezes artesãos qualificados. Mas com a evolução das manufaturas a divisão do trabalho se amplificou e os trabalhadores passaram a realizar tarefas simples, que não precisavam de qualificação e consequentemente rendiam baixos salários.

Por outro lado, as manufaturas possibilitaram grande aumento da produção de bens na Europa, principalmente na Inglaterra, cujas principais manufaturas eram as têxteis.

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Resumo sobre manufatura

  • Manufatura é um sistema de produção bens no qual ocorre divisão do trabalho, produção de produtos padronizados e cuja principal energia utilizada é a humana.

  • Antes do predomínio das manufaturas os bens eram produzidos por artesãos, que executavam todo o processo produtivo do bem.

  • Para Adam Smith, a manufatura, com sua divisão do trabalho, era a mais eficiente forma de produção. Ele visitou diversas manufaturas antes de escrever seu clássico “A riqueza das nações”.

  • Karl Marx defendeu que as manufaturas, antes mesmo das fábricas, retiraram dos trabalhadores seus meios de produção, restando a eles somente sua força de trabalho.

  • Marx classificou as manufaturas em dois tipos, orgânicas e heterogêneas.

  • Apesar da maior parte dos bens consumidos por nós serem produzidos em fábricas, ainda existe o trabalho artesanal e manufatureiro no mundo contemporâneo.

O que é manufatura?

Manufatura, ou sistema manufatureiro, é um sistema de produção de bens no qual diversos artesãos trabalham em um mesmo local. Atualmente o sistema é pouco utilizado, mas durante a Idade Moderna ele era fundamental para a economia europeia e criou as bases para a edificação das primeiras fábricas. Uma característica do sistema manufatureiro é a divisão do trabalho, com cada trabalhador desenvolvendo etapas diferentes do processo produtivo.

Nas manufaturas do Período Moderno eram utilizadas ferramentas simples e não havia máquinas motorizadas, como ocorre no sistema de maquinofatura.

Funcionamento da manufatura

Em sua obra “A riqueza das nações”, Adam Smith descreveu com detalhes o funcionamento de uma manufatura que produzia alfinetes no final do século XVIII|1|:

Um operário desenrola o arame, um outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer uma cabeça de alfinete requerem-se 3 ou 4 operações diferentes; montar a cabeça já é uma atividade diferente, e alvejar os alfinetes é outra; a própria embalagem dos alfinetes também constitui uma atividade independente. Assim, a importante atividade de fabricar um alfinete está dividida em aproximadamente 18 operações distintas, as quais em algumas manufaturas são executadas por pessoas diferentes, ao passo que em outras o mesmo operário às vezes executa 2 ou 3 delas.

O relato de Adam Smith mostra o elemento fundamental de uma manufatura, a divisão de tarefas. Smith afirmou ainda que os trabalhadores dessas manufaturas tinham pouco conhecimento técnico da produção de alfinetes, mas conseguiam produzir grande quantidade de alfinetes. Em uma das manufaturas que ele visitou, dez funcionários, “não muito hábeis”, produziam por dia 48.000 alfinetes, 4.800 por operário.

Em algumas manufaturas, artesãos de diferentes ofícios eram contratos para produzir um bem, como manufaturas que produziam embarcações ou carruagens, por exemplo.

Exemplo de manufatura

Carruagem do século XVIII, produzida em uma manufatura.[2]

Em uma manufatura de carruagens trabalhavam seleiros, artesãos que produziam as selas que seriam utilizadas na carruagem; carpinteiros, que montavam parte da estrutura da carruagem; ferreiros, que fabricavam pregos e peças necessárias para a montagem da carruagem; costureiros, que trabalham com os tecidos da carruagem, como suas cortinas; artesãos, que trabalhavam com couro; envernizadores; pintores; douradores; entre tantos outros.

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Quais são os tipos de manufatura?

Assim como Adam Smith, Karl Marx também estudou as manufaturas. Em sua obra “O Capital”, Marx defende que existem dois tipos de manufaturas: as orgânicas e as heterogêneas.

As manufaturas heterogêneas são aquelas nas quais partes do bem fabricado são produzidas de forma independente, muitas vezes em setores diferentes da manufatura ou mesmo em locais diferentes. Isso ocorria, em geral, devido à complexidade do bem que era produzido. Como exemplo desse tipo de manufatura, Marx citou as que produziam relógios no Período Moderno.

Um relógio possuía centenas de peças, e elas eram produzidas por diferentes trabalhadores. Eles produziam os diversos componentes necessários para a montagem do relógio, como sua caixa, vidro, molas, engrenagens, ponteiros, coroa, mostrador, entre outros. As manufaturas de carruagens, citadas anteriormente neste artigo, também são um exemplo de manufatura heterogênea.

As manufaturas orgânicas eram aquelas nas quais todo o processo produtivo ocorria no mesmo local, em sequência.

Manufatura e a Revolução Industrial

Na Idade Moderna o trabalho artesanal foi gradativamente substituído pelo trabalho em manufaturas. Inicialmente as manufaturas contavam com poucos trabalhadores especializados, e eles produziam os bens com pouca divisão do trabalho.

Mas com o aumento da demanda e a concorrência entre as manufaturas do mesmo ramo, a divisão do trabalho se aprofundou e mais indivíduos passaram a trabalhar nas manufaturas, executando tarefas que exigiam cada vez menos habilidades. Como consequência os salários dos trabalhadores declinaram em proporção inversa ao aumento da divisão do trabalho.

As manufaturas criaram as bases para as fábricas, concentrando trabalhadores no mesmo local e introduzindo a divisão do trabalho no processo produtivo. Uma rápida mudança ocorreu no século XVIII, na Inglaterra, quando o motor a vapor e diversas máquinas passaram a ser utilizadas nas antigas manufaturas, iniciando o processo chamado Revolução Industrial.

Representação de motor de James Watt. O uso de motores na produção de bens marcou o início da Revolução Industrial.

Qual a importância da manufatura?

A manufatura foi uma etapa de transição entre o trabalho artesanal e o industrial, sendo importante na criação das bases do que se tornaram as fábricas. As manufaturas também foram responsáveis pelo aumento da produção de bens no Período Moderno, pelo barateamento desses bens e o consequente aumento do comércio global.

Na Inglaterra, no início do século XVIII, diversas manufaturas produziam tecidos, sendo estes um dos principais produtos exportados pelos ingleses para as suas colônias e diversos países da Europa. O comércio de tecidos tinha grande demanda mundial e foi muito lucrativo para a Inglaterra.

Em 1703, Portugal e Inglaterra assinaram o Tratado de Methuen, por meio do qual os portugueses passaram a não pagar impostos ao vender vinhos para a Inglaterra e os ingleses, a não pagar impostos sobre os tecidos vendidos para Portugal. O acordo foi um desastre para a economia portuguesa e muito vantajoso para os ingleses. A venda de tecidos para Portugal foi muito maior do que a venda de vinhos para a Inglaterra.

Parte da riqueza extraída do Brasil foi usada por Portugal para pagar as dívidas com os ingleses e parte desse capital foi investido no desenvolvimento tecnológico das manufaturas. De certa forma, os recursos extraídos do Brasil ajudaram a financiar a Revolução Industrial inglesa.

Manufatura x artesanato

Apesar de envolver o trabalho manual, ritmo e horário de trabalho são determinados pelos proprietários nas manufaturas.[3]

O artesanato foi o principal sistema produtivo utilizado pelo ser humano desde a Pré-História, quando as primeiras ferramentas de pedra passaram a ser fabricadas. No sistema artesanal o trabalhador, nomeado como artesão, desenvolvia todas as etapas do processo produtivo de um bem.

O artesão era responsável pela compra de matéria-prima, pela produção e pela comercialização dela. Além disso, o artesão era dono do seu tempo, escolhendo o horário no qual trabalhava e seu ritmo de trabalho. Também era o dono de todas as ferramentas necessárias para a produção de sua mercadoria.

Nas manufaturas a maior parte do trabalho ainda era manual, mas nelas cada trabalhador realizava uma parte do processo produtivo. Além disso, nas manufaturas a compra da matéria-prima e a venda do bem passaram a ser realizadas pelo proprietário da manufatura. Os indivíduos também passaram a trabalhar nos horários estabelecidos pelo proprietário e no ritmo exigido por ele.

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Manufatura x maquinofatura

A manufatura é um sistema de produção de bens no qual os trabalhadores exercem suas atividades no mesmo local, existe divisão do trabalho no processo produtivo e a energia humana é a principal utilizada no uso de ferramentas e máquinas simples.

Maquinofatura é o sistema de produção de bens em que diversos operários trabalham no mesmo local, onde existe grande divisão do trabalho e o uso de máquinas movidas por motores.

Exercícios resolvidos sobre manufatura

1 - (PUC-Campinas) Dentre as consequências sociais forjadas pela Revolução Industrial pode-se mencionar:

a) o desenvolvimento de uma camada social de trabalhadores, que, destituídos dos meios de produção, passaram a sobreviver apenas da venda de sua força de trabalho.
b) a melhoria das condições de habitação e sobrevivência para o operariado, proporcionada pelo surto de desenvolvimento econômico.
c) a ascensão social dos artesãos, que reuniram seus capitais e suas ferramentas em oficinas ou domicílios rurais dispersos, aumentando os núcleos domésticos de produção.
d) a criação do Banco da Inglaterra, com o objetivo de financiar a monarquia e ser, também, uma instituição geradora de empregos.
e) o desenvolvimento de indústrias petroquímicas, favorecendo a organização do mercado de trabalho, de maneira a assegurar emprego a todos os assalariados.

Alternativa A

No artesanato e no período inicial da manufatura os trabalhadores eram os donos dos meios de produção, sendo os proprietários das matérias-primas, das ferramentas de trabalho e do próprio tempo. Com a evolução do sistema manufatureiro e o desenvolvimento da maquinofatura, os trabalhadores deixaram de ser os donos dos meios de produção e do próprio tempo.

2 - (UPF 2018) Observe a charge a seguir.

A charge retrata uma situação decorrente da Revolução Industrial. Sobre essa situação, analise as seguintes afirmações:

I. No processo de produção, os operários foram submetidos a intensa divisão do trabalho.

II. Houve intensa exploração do trabalho artesanal, em um contexto no qual cada trabalhador não tinha o direito de conhecer todo o processo de produção.

III. Os operários, em cada seção da fábrica, controlavam tanto a qualidade da matéria-prima quanto do produto final que ia para o mercado consumidor.

IV. O produto da atividade industrial não dependia do conhecimento de todo o processo produtivo por parte do operário.

Está correto apenas o que se afirma em:

a) I e II.

b) II e III.

c) II e IV.

d) I e III.

e) I e IV.

Alternativa E

No processo industrial, chamado também de maquinofatura, os trabalhadores foram expostos a intensa divisão do trabalho, realizando uma pequena etapa de todo o processo produtivo. Na charge o trabalhador não sabe o que está produzindo justamente por isso.

Nota

|1| SMITH, Adams. A riqueza das nações. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2023.

Créditos das imagens

[1] ermess/ Shutterstock

[2] Wikimedia Commons

[3] Everett Collection/ Shutterstock

Fontes

HOBSBAWN, Erick. A Era das Revoluções. Editora Paz e Terra, São Paulo, 2012.

MARX, Karl. O capital. Editora Veneta, São Paulo, 2014.

MENEGUELLO, Cristina. DECCA, Edgar Salvadori. Fábricas e homens: Revolução Industrial e o cotidiano dos trabalhadores. Editora Atual, São Paulo, 2019.

TEIXEIRA, Francisco M. P. Revolução Industrial. Editora Ática, São Paulo, 2019.

SMITH, Adams. A riqueza das nações. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2023. 

Por Jair Messias Ferreira Junior