Aleijadinho

Aleijadinho foi um dos maiores artistas brasileiros e um dos grandes representantes da arte barroca que se fez no Brasil no século XVIII.
As principais esculturas de Aleijadinho estão no Santuário de Bom Jesus de Matosinho, situado na cidade de Congonhas, em Minas Gerais.[1]

Em seu livro de poemas O Romanceiro da Inconfidência, dedicado à história de Minas Gerais da época da Colonização até a Inconfidência, Cecília Meireles escreveu os seguintes versos:

[…] Cavalhadas, Luminárias.

Sinos, procissões, promessas.

Anjos e santos nascendo

em mãos de gangrena e lepra

Finas músicas broslando

as alfaias das capelas.

Todos os sonhos barrocos

deslizando em pedra. [...]”

Romance XXI ou das Ideias. In: Meireles, Cecília. Romanceiro da Inconfidência.

Nesses versos, o trecho destacado “Anjos e santos nascendo/ em mãos de gangrena e lepra” refere-se ao escultor Aleijadinho. Cecília Meireles mencionou o tipo de imagem que tipicamente era esculpido por esse artista, “anjos e santos”, bem como a característica física que lhe rendeu o apelido referido: as “mãos de gangrena e lepra”.

O nome verdadeiro de Aleijadinho era Antônio Francisco Lisboa, nascido em Ouro Preto-MG, em 29 de agosto de 1738, e morto na mesma cidade, em 1814. Aleijadinho era filho ilegítimo (bastardo) de um talentoso arquiteto português, chamado de Manoel Francisco Lisboa, com uma escrava africana. Por ser seu pai um português eminente, Aleijadinho não nasceu sob a condição de escravo e, ao longo de sua infância e juventude, conseguiu cursar uma educação bastante razoável para os padrões da época.

Grande parte da formação artística de Aleijadinho lhe foi dada pelo próprio pai arquiteto. Além disso, aprendeu muito de suas técnicas de escultura com seu tio, Antônio Francisco Pombal, que era entalhador. Além da formação artística, Aleijadinho viveu a atmosfera das ideias liberais que se propagaram em Minas Gerais no século XVIII e que deram o tom da Inconfidência.

Em 1777, quando contava 39 anos de idade, Aleijadinho foi vitimado pela doença que o deformou. Especula-se até os dias de hoje se essa doença era sífilis ou bouba (também conhecida como framboesia trópica), ou ainda reumatismo deformante ou lepra (como sugere o poema de Cecília Meireles). O certo é a que doença comprometeu-lhe os pés, as mãos e outras regiões do corpo e que, além da atrofia, também lhe povoou de feridas e pus.

Mesmo atacado por essa moléstia, Aleijadinho conseguiu prosseguir sua obra como escultor e arquiteto de grande envergadura, cuja importância é reconhecida pelos principais críticos de arte do mundo. O estilo de Aleijadinho inseriu-se no barroco, sobretudo na fase do Barroco Brasileiro que teve como expressão artística maior a poesia, a arquitetura e a escultura.

Entre as várias imagens que esculpiu, quase todas relacionadas com temas religiosos, a mais impressionante é o conjunto de estátuas conhecido como o Adro dos Profetas, situado na Igreja de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, Minas Gerais. No total são 12 estátuas representando os doze profetas judeus, desde Isaías até Habacuque e Naum, todas esculpidas em pedra-sabão.

Um dos profetas esculpidos por Aleijadinho em pedra-sabão

Aleijadinho contou ainda com a ajuda de escravos que ele mesmo comprava, que lhe adaptavam os instrumentos de escultura às mãos. Consta que, por vezes, a irritação do artista conduzia-o ao espancamento de seus escravos e a outras formas de maus-tratos. O escultor morreu em razão do agravamento de sua doença, que nos anos finais de sua vida deixou-o quase cego e praticamente sem se mexer.

Créditos da imagem

[1] T photography / Shutterstock

Por Cláudio Fernandes