A escravidão e o mercado mundial

A escravidão e o tráfico de africanos para a América auxiliaram na construção do mercado mundial capitalista.

Por Tales Pinto

Uma das características principais do comércio executado no oceano Atlântico, durante a época moderna, incidiu sobre a troca de trabalhadores escravos africanos com as colônias europeias nas Américas. A escravidão moderna se baseava na troca desses trabalhadores por mercadorias produzidas nas colônias e representou uma importante fonte de lucro e de acumulação de capital para os capitalistas europeus, além de criar as condições de desenvolvimento do mercado mundial capitalista.

A escravidão moderna era, em alguns aspectos, diferente da praticada na Antiguidade (Grécia, Roma e Egito, por exemplo), que se pautava diretamente na apreensão de contingentes populacionais aprisionados em decorrência de guerras e/ou dívidas entre pessoas.


O tráfico de escravos africanos constituiu as bases do comércio no Oceano Atlântico e auxiliou na formação do mercado mundial

A adoção da força de trabalho escrava marcou profundamente as sociedades em relação aos aspectos culturais, econômicos e sociais. Este foi o caso do Brasil e dos EUA, por exemplo, em que uma parcela grande de suas populações foi formada por pessoas de origem africana, cujos ascendentes foram deslocados para os territórios na América e marcaram sua presença na música, culinária etc.

Levando em consideração que sem trabalhadores não há produção, o tráfico de escravos foi um componente essencial na utilização do Oceano Atlântico para a construção de uma rede mundial de comércio. Dependente desta mão de obra para a produção agrícola e para a extração mineral nas colônias americanas, os investidores europeus utilizaram uma comércio triangular entre os continentes africano, europeu e americano, escoando a produção colonial e suprindo de mão de obra as localidades que dela necessitavam. Para manter constantes essas trocas, foram construídos portos, cidades e rotas de navegação que até os dias de hoje são utilizados para o comércio internacional. Além disso, gerou altos lucros aos comerciantes, garantindo investimentos industriais que foram fundamentais para o desenvolvimento do modo de produção capitalista.

Porém, o uso desse tipo de força de trabalho diferenciou-se das demais formas de uso de mão de obra, pois não era baseado em relações de parentesco, não estava ligado ao ambiente doméstico familiar (como no caso da servidão medieval) e nem era pautado na contratação individual mediante um salário. Essa diferença em relação ao trabalho assalariado foi de suma importância para os esforços de extinção de sua utilização, principalmente por pressão da Inglaterra.

Principal país industrializado do século XIX, a Inglaterra precisava alargar o mercado consumidor de seus produtos. No entanto, a manutenção de grandes contingentes de trabalhadores que não eram assalariados impedia esse crescimento. Este foi o principal motivo para as várias tentativas de proibição do tráfico de escravos no oceano Atlântico, o que acabou ocorrendo a partir da segunda metade do século XIX. Apesar de seu fim, o comércio de trabalhadores escravos da África garantiu a consolidação de uma importante rota comercial utilizada até hoje e que foi de suma importância para a construção do mercado mundial capitalista.

Por Tales Pinto