Voto de cabresto

Voto de cabresto foi uma prática comum durante a Primeira República (ou República Velha), sendo o voto que era realizado mediante a intimidação ou compra por meio de favores.
Marionete sendo usada para depositar uma cédula de votação em uma urna, uma alusão ao voto de cabresto.

O voto de cabresto foi uma prática muito comum que é associada ao período da Primeira República (ou República Velha), sendo caracterizado como o voto que era obtido por meio da intimidação ou da compra. Nesse período, era comum que o coronel utilizasse da sua influência e poder para forçar as pessoas a votarem no candidato que ele apoiava.

Assim, as pessoas eram intimidadas a votar no candidato indicado ou então eram compradas, recebendo dinheiro ou outra forma de favor. Nessa época, o voto não era secreto, portanto os coronéis conseguiam ter o controle sobre quem as pessoas votavam. Caso a pessoa não votasse no candidato do coronel, ela sofreria represálias.

Leia também: Primeira República (ou República Velha) — o período da história brasileira no qual o voto de cabresto foi utilizado

Resumo sobre o voto de cabresto

  • O voto de cabresto era uma prática muito comum no período da Primeira República (ou República Velha).

  • O voto de cabresto é o voto que era exercido mediante intimidação ou concessão de algum favor.

  • Os eleitores eram coagidos por um coronel a votar em um candidato específico.

  • Os que desobedecessem a indicação do coronel poderiam sofrer represálias.

  • O voto de cabresto foi parte de uma série de práticas para fraudar as eleições na Primeira República (ou República Velha).

O que foi o voto de cabresto?

O voto de cabresto foi uma prática eleitoral muito comum do Brasil durante o período da Primeira República (ou República Velha), entre 1889 e 1930. Essa prática consistia na realização de ações para manipular o voto dos eleitores. Nessa prática, os coronéis, grandes proprietários de terra que detinham poder econômico e político, usavam desse poder para manipular as eleições.

Durante as eleições, os coronéis procuravam coagir os eleitores de maneira a forçá-los a votar no candidato que ele (o coronel) apoiava. Para garantir que os eleitores votassem no candidato indicado, o coronel poderia usar coerção para intimidar os eleitores a votarem no candidato desejado, mas poderia também utilizar outros meios para obter seu objetivo.

O voto de cabresto também poderia ser realizado mediante a troca de favores, envolvendo a concessão de um emprego público caso o candidato desejado vencesse, ou então essa prática poderia envolver alimentos, dinheiro ou outra forma de benefício. Outro ponto fundamental para que essa prática desse certo era o voto ser aberto.

Por voto aberto entende-se que ele não era secreto. Portanto, o voto de cada eleitor era público e aberto a todos os presentes no local de votação. Sendo assim, os coronéis tinham mais controle sobre os seus eleitores, permitindo que sua intimidação desse certo. O eleitor que não votasse no candidato que seu coronel indicou sofreria consequências.

Cada coronel usava sua influência e poder para controlar o seu curral eleitoral, isto é, a zona da qual ele era o responsável. Os jagunços dos coronéis eram figuras importantes, pois realizavam o papel de intimidação para garantir o voto dos eleitores do curral eleitoral do coronel.

Qual o contexto histórico do voto de cabresto?

O voto de cabresto foi uma prática popular no Brasil, sobretudo durante a Primeira República (ou República Velha). Esse período de nossa história se iniciou com a Proclamação da República, em 1889, estendendo-se até 1930, quando a Revolução de 1930 levou Getúlio Vargas ao poder do Brasil. Uma das marcas do nosso país nessa época era o poderio das oligarquias.

As oligarquias eram grupos políticos que possuíam grande poder econômico, controlando a política de seus estados por meio de sua influência. Essas oligarquias eram formadas pelos coronéis, que usavam todos os meios possíveis, incluindo o voto de cabresto, para manipular a política de acordo com os seus interesses.

A Primeira República (ou República Velha) foi inteiramente marcada por fraudes eleitorais. As oligarquias usavam não apenas o voto de cabresto, mas outras formas para fraudar eleições e garantir que seus candidatos fossem eleitos. Havia manipulação das atas eleitorais, pessoas que votavam no lugar de outras, pessoas que votavam usando o nome de pessoas já falecidas, etc.

Um dos acordos políticos mais tradicionais desse período era a política dos governadores, também chamada de política dos estados. Essa prática foi estabelecida durante o governo de Campos Sales, presidente entre 1898 e 1902, estabelecendo um acordo entre as oligarquias e o governo federal. Nesse acordo, as oligarquias deveriam eleger deputados que apoiassem as ações do governo federal no Legislativo. Por outro lado, se as oligarquias cumprissem sua porte, o governo federal daria a apoio a essa oligarquia no controle do seu estado.

O objetivo dessa prática era garantir apoio para que o governo federal conduzisse suas propostas, mas também garantir estabilidade política para os estados e municípios, reduzindo as disputas pelo controle político. O sucesso da política dos estados passava diretamente pelo coronel e por práticas como o voto de cabresto.

Relação do voto de cabresto e o coronelismo

Dentro da história do Brasil, principalmente no contexto da Primeira República (ou República Velha), o coronelismo é um conceito que se refere ao controle que os coronéis detinham na sociedade brasileira. Os coronéis eram grandes proprietários de terra que herdaram o título de coronel dos membros da antiga Guarda Nacional, surgida em 1831.

Os coronéis eram extremamente ricos pela quantidade de terras que possuíam, sendo que essa riqueza era também revertida em controle político, pois eles eram os chefes políticos de suas localidades, controlando o funcionamento da política em sua região. Sendo assim, cargos públicos, por exemplo, eram ocupados por pessoas indicadas pelos coronéis.

Os coronéis exploravam o trabalho de pessoas carentes para garantir sua riqueza e realizavam práticas como o voto de cabresto para manter o seu controle sobre a política. Sendo assim, os interesses das oligarquias estaduais e sua ação para atender ao governo federal precisava da atuação dos coronéis em sua localidade. Saiba mais detalhes sobre o coronelismo clicando aqui.

Quais as diferenças entre voto de cabresto e clientelismo?

O clientelismo é entendido como a relação entre dois atores políticos que trocam favores para garantir benefício mútuo. Nesse sentido, o voto de cabresto se relaciona com o clientelismo no caso de eleitores que eram convencidos a votar em determinado político para garantir algum favor de um coronel.

A concessão de empregos públicos (não havia concurso público nessa época) era uma forma tradicional de um coronel comprar o voto de alguém. Portanto, o voto de cabresto pode ser uma prática vinculada ao clientelismo.

Voto de cabresto na atualidade

O voto de cabresto é um conceito que se relaciona diretamente com o período da Primeira República (ou República Velha) e a atuação das oligarquias e dos coronéis. No entanto, atualmente existem práticas que são consideradas idênticas ou semelhantes a essas realizadas durante a Primeira República.

Uma dessas práticas é a compra de votos. A compra de votos se dá mediante o pagamento em dinheiro ou a concessão de algum outro benefício, como uma cesta básica, artigos de luxo, combustível, entre outros.

Outra dessas práticas é a coação e a ameaça. Durante a realização de eleições, as autoridades eleitorais recebem denúncias de pessoas que são coagidas e ameaçadas a votar em determinado local, principalmente em seus postos de trabalho.

Fraudes nas eleições e formas de coerção

O sistema eleitoral brasileiro durante o período da Primeira República era marcado por fraudes, sendo que elas aconteceram em todas as eleições, sendo prática comum a todas as oligarquias. O objetivo dessas fraudes, evidentemente, era controlar as eleições e garantir a eleição dos candidatos desejados. Entre as fraudes eleitorais que aconteciam no período, podemos destacar:

  • manipulação das atas eleitorais para modificar o total dos votos;

  • fazer com que algumas pessoas votassem duas vezes;

  • fazer pessoas se passarem por pessoas falecidas para conseguir votar no lugar delas;

  • ensinar pessoas analfabetas a escrever seu nome unicamente para conseguir votar (o voto era um direito exclusivo de homens alfabetizados nesse período);

  • pessoas que votavam no lugar de outras pessoas vivas, etc.

Além disso, havia a compra de votos, quando o coronel prometia algum favor a uma pessoa para que ela votasse no candidato indicado. Entre os favores estão a concessão de algum cargo público, pagamento em dinheiro, garantia de uma refeição, etc. Já as punições para quem não obedecia poderiam ser variadas, podendo ser, inclusive, agressões físicas, assassinatos, demissão de cargos públicos, etc.

Fontes

CARVALHO, José Murilo de. Mandonismo, coronelismo, clientelismo: uma discussão conceitual. Disponível em: https://www.scielo.br/j/dados/a/bTjFzwWgV9cxV8YWnYtMvrz/.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2013.

LESSA, Renato. A invenção republicana: Campos Sales, as bases e a decadência da Primeira República brasileira. Rio de Janeiro: Topbooks, 2015.

RESENDE, Maria Efigênia Lage de. O processo político na Primeira República e o liberalismo oligárquico. In.: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. Brasil republicano: o tempo do liberalismo oligárquico: da Proclamação da República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.

SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

Por Daniel Neves Silva