Tiradentes

Tiradentes foi um dos principais personagens do período colonial do Brasil e tornou-se um emblema da Inconfidência Mineira. Ele foi enforcado no dia 21 de abril de 1792.
Rosto da estátua de Tiradentes com um chapéu de alferes, exposta em Minas Gerais.

Tiradentes, cujo verdadeiro nome era Joaquim José da Silva Xavier, foi um militar brasileiro conhecido por seu envolvimento na Inconfidência Mineira. Ele foi alferes dos Dragões Reais de Minas e responsável por monitorar o Caminho Novo. Ficou marcado por ter sido executado a mando da Coroa portuguesa, sendo enforcado e esquartejado.

Tiradentes atuou como propagandista da Inconfidência Mineira, viajando e conquistando apoiadores para a conspiração. Denunciados, Tiradentes e outros foram presos pelas autoridades portuguesas. Sua morte aconteceu em 21 de abril de 1792, e tal dia é considerado feriado nacional.

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Resumo sobre Tiradentes

  • Tiradentes foi um militar que participou da Inconfidência Mineira.

  • Seu nome era Joaquim José da Silva Xavier.

  • Foi alferes nos Dragões Reais de Minas e o comandante da tropa que guardava o Caminho Novo.

  • Foi o propagandista da Inconfidência Mineira e um de seus participantes mais fervorosos.

  • Foi enforcado em 21 de abril de 1792 por seu envolvimento com a conspiração. Seu corpo foi esquartejado.

Quem foi Tiradentes?

Tiradentes era o apelido de Joaquim José da Silva Xavier, famoso por ter sido um dos participantes da Inconfidência Mineira e o único, entre os inconfidentes, a receber a pena capital, isto é, a pena de morte, pela forca.

Nascido em 12 de novembro de 1746, na então capitania de Minas Gerais, durante o Brasil colonial, José Joaquim da Silva Xavier desempenhou várias profissões. Entre elas, estava a de dentista amador, por isso foi apelidado como Tiradentes. Além de dentista, Tiradentes tentou a sorte como tropeiro (condutor de tropas de animais transportadoras de mercadorias), minerador e mascate (mercador ambulante), mas fracassou em todas.

A única profissão que lhe rendeu estabilidade foi a de alferes (patente abaixo da de tenente) da cavalaria de Dragões Reais de Minas, a força militar atuante na capitania de Minas Geras e subordinada à Coroa portuguesa. Ele chegou a comandar a tropa que monitorava o Caminho Novo, estrada que ligava Vila Rica ao Rio de Janeiro.

Antecedentes da morte de Tiradentes

Tiradentes, apesar de não ser um intelectual, interessava-se por escritos políticos, como as leis constitucionais dos Estados Unidos, país que havia conquistado a sua independência em 1776, quando o alferes tinha 30 anos de idade. Seus interesses políticos aos poucos foram se divergindo dos interesses de outros habitantes de Vila Rica, o centro da atividade mineradora do Brasil na época.

Intelectuais como Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, ambos poetas e conhecedores das ideias filosóficas do iluminismo francês, foram algumas das personalidades importantes com as quais Tiradentes se juntou com o objetivo de retirar do poder o então governador da capitania de Minas Gerais, nomeado pela Coroa portuguesa, Visconde de Barbacena. Mas qual era o motivo para tal revolta?

O motivo principal que animava Tiradentes e os outros envolvidos na Inconfidência a se levantarem contra o governo de Visconde de Barbacena e o Império Português era a constante retirada das riquezas da região por meio de impostos excessivos. Do ouro produzido na capitania de Minas de Gerais, a Coroa portuguesa cobrava o quinto, isto é, o equivalente a 20% do total extraído.

Ocorreu que, a partir da década de 1760, a extração de ouro regrediu consideravelmente, mas não o valor do imposto. A taxa do quinto continuou a ser exigida dos mineradores locais, e o governador Barbacena, para fazer valer a lei, chegava até a impor agressões físicas. Além disso, Portugal exigia uma cota anual de ouro no total de 1500 quilos. Com a redução na extração do ouro, uma grande dívida começou a ser formada pelos colonos em relação à Coroa.

O problema agravou-se mais ainda quando, para reverter a margem defasada dos impostos recolhidos, a Coroa portuguesa autorizou a implementação da chamada derrama. A derrama obrigava os mineradores a cobrirem suas dívidas com suas posses, isto é, tudo aquilo que lhes pertencia como objeto de valor, o que faltava na quantia do quinto.

Isso significava que o rombo provocado no pagamento do imposto à Coroa, resultante do declínio da mineração, teria que ser pago com outras formas de obtenção de dinheiro, como por pedágios cobrados sobre o uso das estradas, com escravizados etc. Todos eram forçados a pagar a derrama. A convocação de uma derrama deu força a uma conspiração contra Portugal, e Tiradentes uniu-se a esse movimento.

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Participação de Tiradentes na Inconfidência Mineira

A conspiração dos inconfidentes começou a ser preparada em 1788 para que as ações passassem a se realizar no ano seguinte. Tiradentes, por sua personalidade agitada, ficou conhecido como o mais radical dos inconfidentes, como diz o pesquisador Lucas Figueiredo, em seu livro Boa Ventura!, A corrida do ouro no Brasil (1697-1810):

Um radical entre moderados, um franco entre dissimulados, ele defendia — publicamente e em qualquer lugar (de bordéis a residências de ricos mercadores) — uma revolução que tornasse Minas Gerais independente de Portugal. “Era pena”, dizia o alferes, “que uns países tão ricos como estes [as Minas Gerais] estivessem reduzidos à maior miséria, só porque a Europa, como esponja, lhe estivesse chupando toda a substância”.|1|

Tiradentes chegou a tramar a morte do Visconde de Barbacena, e isso só não foi concretizado porque Barbacena, por meio da confissão de um dos inconfidentes, Joaquim Silvério dos Reis, desmantelou a trama e prendeu todos os envolvidos. Além disso, Tiradentes atuou como propagandista, procurando conquistar apoiadores para a conspiração.

Videoaula sobre Tiradentes e a Inconfidência Mineira

Por que Tiradentes foi condenado à morte?

Muitos dos inconfidentes presos, temendo severas punições, não confessaram seus crimes. O único a assumir sua participação na conspiração foi Tiradentes, que, por isso mesmo, recebeu a pena mais dura, em um processo transcorrido na cidade do Rio de Janeiro que só teve fim em 21 de abril de 1792.

Tiradentes “foi enforcado, decapitado e esquartejado. Para que os súditos da Coroa nunca se esquecessem da lição, a cabeça de Tiradentes foi encravada em uma estaca e exposta em praça pública em Vila Rica, e seus membros, espalhados pela estrada que levava ao Rio de Janeiro.”|2|

Tiradentes foi um herói nacional?

A partir da segunda metade do século XIX, a imagem de Tiradentes foi resgatada e ele passou a ser divulgado como um herói. Esse resgate aconteceu no interior do movimento republicano, interessado em construir heróis que dessem alguma validade histórica para o republicanismo no Brasil.

Com a Proclamação da República, em 1889, esse movimento se tornou mais intenso, uma vez que os republicanos estavam no poder e, agora, precisavam de ter personalidades históricas que os representassem. Por conta disso, uma série de pinturas de Tiradentes começaram a ser feitas, muitos associando o militar com Jesus Cristo fisicamente e transmitindo a ideia de que ele foi um mártir.

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Criação do feriado do Dia de Tiradentes

O resgate da figura de Tiradentes fez com que o dia 21 de abril, dia da sua morte, fosse transformado em feriado nacional. Isso aconteceu por meio de um decreto estabelecido durante o governo de Deodoro da Fonseca. O decreto nº 155-B, de 14 de janeiro de 1890, anunciava que o dia 21 de abril seria considerado dia dos “precursores da independência brasileira, resumidos em Tiradentes”.

Outras leis reafirmaram o caráter festivo do dia 21 de abril, determinando que ele seria feriado nacional. Nesse sentido, foram decretadas leis em 1933, 1949 e 1965. No último caso, Tiradentes foi transformado em patrono cívico do Brasil. Atualmente, por força da lei nº 10.607, de 19 de dezembro de 2002, o dia 21 de abril é feriado nacional.

Notas

|1| FIGUEIREDO, Lucas. Boa Ventura! A corrida do ouro no Brasil (1697-1810). Rio de Janeiro: Record, 2011. p. 295.

|2| Idem. p. 297.

Créditos da imagem

[1] Renan Marteli da Rosa/ Shutterstock

Por Cláudio Fernandes