Mais-valia

A mais-valia é um conceito da teoria marxista utilizado para explicar o funcionamento do lucro dentro do sistema capitalista.
Ilustração de uma fila de homens; o primeiro está segurando muito dinheiro, os homens atrás dele têm um prato vazio nas mãos.

Mais-valia é um conceito que faz parte da teoria marxista — formulada por Karl Marx e Friedrich Engels — e é utilizado para explicar o funcionamento do lucro dentro do sistema capitalista. Na prática, a mais-valia é todo o trabalho não pago ao trabalhador, pois este produz uma riqueza muito superior ao que recebe como trabalho. Essa diferença é embolsada pelo patrão como lucro.

Karl Marx estabeleceu também a existência de formas de ampliar a extração de mais-valia, no que ele chama de mais-valia absoluta e mais-valia relativa. A primeira é obtida por meio do aumento da jornada de trabalho, e a segunda é obtida com base na modernização ou reorganização da produção, com o intuito de aumentar a produtividade dos trabalhadores.

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Resumo sobre mais-valia

  • Mais-valia é um conceito da teoria marxista usado para explicar o funcionamento do lucro no capitalismo.
  • A teoria marxista entende que o capitalismo necessita de trabalhadores que produzam mais-valia.
  • O trabalho exercido pelo proletariado é dividido em trabalho necessário e trabalho excedente.
  • Pode haver extração de mais-valia fora de um sistema de produção material.
  • Existem dois tipos de mais-valia: absoluta e relativa.

Videoaula sobre mais-valia

O que é mais-valia?

A mais-valia, também chamada de mais-valor, é um dos conceitos mais importantes do marxismo — a teoria política e econômica desenvolvida pelo alemão Karl Marx que é parte fundamental do que é conhecido como socialismo científico. Dentro do marxismo, a mais-valia é a forma como se define a lógica do lucro dentro do sistema capitalista.

De uma maneira bem simples, Karl Marx definiu que o salário pago aos trabalhadores nunca é exatamente aquilo que esses mesmos trabalhadores produziram em riqueza para o seu patrão. Essa diferença de trabalho não pago é embolsada pelo patrão como lucro. Assim, na lógica marxista, a mais-valia é fruto da exploração do trabalho do proletariado (trabalhadores).

Marx entendeu que a mais-valia é essencial para a manutenção do capitalismo, pois este é um sistema que não necessita apenas de trabalhadores produtivos, mas de trabalhadores que produzam lucro. O conceito de mais-valor estabelece que existem dois tipos de trabalho: o trabalho necessário e o trabalho excedente.

De maneira bem simples, o trabalho necessário é aquele que o trabalhador realiza para conseguir pagar o próprio salário. Assim que ele produziu o suficiente para pagar o seu salário, todo o trabalho restante é considerado como excedente. O mais-valor é obtido por meio do trabalho excedente porque a riqueza produzida nesse tipo não fica com o trabalhador, mas sim com o patrão como lucro.

Como surgiu a mais-valia?

O conceito de mais-valia foi formulado dentro do contexto do surgimento da indústria por meio da Revolução Industrial. Sua ideia foi essencialmente pensada para ser aplicada na lógica de produção industrial. Entretanto, Karl Marx não resumiu a mais-valia a trabalhos industriais, permitindo que o conceito possa ser aplicado a outros meios de trabalho.

Karl Marx entendeu que a mais-valia depende de um trabalhador produtivo e que, na lógica capitalista, o trabalho produtivo é aquele que produz lucro. O trabalhador que não se encaixa em uma lógica de produção material (de mercadorias) pode contribuir para o fortalecimento de ideia de mais-valia desde que trabalhe até o próprio esgotamento, contribuindo para o enriquecimento de seu patrão, e desde que o seu trabalho garanta a valorização do capital.

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Exemplo da lógica da mais-valia

  • Uma trabalhadora produz 850 reais em mercadorias durante uma jornada de trabalho (8h).
  • Essa trabalhadora realiza sua jornada semanal de segunda a sexta, portanto, dentro de um mês, trabalhará um total de 22 dias úteis (caso não haja nenhum feriado).
  • Ao final do mês (22 dias de trabalho), essa trabalhadora terá produzido cerca de 18.700 reais em mercadorias com o seu trabalho.
  • O salário dela, no entanto, é de apenas 2500 reais.
  • Entre o que essa trabalhadora produziu e o que ela recebeu de salário, sobrou uma quantia de 16.200 reais.
  • Esse valor é entendido como mais-valor porque não retorna a essa trabalhadora, sendo considerado trabalho não pago e embolsado como lucro pelo patrão.

É importante considerarmos que esse exemplo é uma lógica simplista que se contextualiza com a época em que foi formulado o conceito de mais-valor (século XIX). A contextualização desse conceito nos dias atuais precisa levar em consideração que a política trabalhista mudou consideravelmente do século XIX até o momento.

Nesse sentido, essa trabalhadora do exemplo teria um salário bruto de 2500 reais, mas seu patrão teria uma série de encargos trabalhistas a serem pagos. Evidentemente esses encargos não alteram a lógica do mais-valor, pois ainda haveria exploração do trabalho e trabalho não pago.

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Mais-valia absoluta e mais-valia relativa

O conceito de mais-valia, conforme formulado por Marx, possui uma classificação que define a existência de uma mais-valia absoluta e uma mais-valia relativa. Esses dois tipos estabelecem diferenças nas formas pelas quais a mais-valia pode ser extraída pelos patrões no processo de exploração dos trabalhadores.

A mais-valia absoluta é bastante simples e foi definida por Karl Marx como aquela que se obtinha com base na extensão da jornada de trabalho. Assim, um trabalhador que trabalhava 8 h por dia passaria a trabalhar 9 h por dia para que esse aumento da jornada de trabalho fosse convertido em aumento de produção e, consequentemente, em aumento do lucro.

A mais-valia relativa, por sua vez, é aquela que se manifesta por meio de ações patronais que desejam modernizar o trabalho ou reorganizam a produção para que a produtividade de seus trabalhadores aumente sem que haja aumento na carga diária de trabalho. Por meio dessa modernização ou reorganização, os trabalhadores gastariam menos tempo para realizar o trabalho necessário e ampliariam a quantidade de trabalho excedente exercido.

Por Daniel Neves Silva