Com a abdicação de Napoleão Bonaparte em 1814 e o consequente fim da Era Napoleônica, as potências que se envolveram nas guerras empreendidas pelo imperador francês articularam-se na capital da Áustria, Viena, para traçar os rumos que a Europa tomaria a partir daquele momento. A essa articulação deu-se o nome de Congresso de Viena.
Além da Áustria, que sediou o congresso, as outras potências participantes foram a França, a Prússia, a Rússia e a Grã-Bretanha. Os representantes que participaram do congresso foram o príncipe austríaco Klemens Metternich, o diplomata francês Charles Talleyrand, o czar russo Alexandre I, o primeiro-ministro inglês Visconde de Castlereagh e Frederico Guilherme III, da Prússia.
O objetivo principal do Congresso de Viena era retomar o modelo político que ordenava a Europa antes das guerras napoleônicas, isto é, objetivava-se retomar as estruturas do Antigo Regime, com repressão às ideias liberais e às manifestações revolucionárias das quais a França foi o principal “cavalo de batalha”. Matternich, da Áustria, preconizou a defesa do retorno do poder às antigas famílias aristocráticas para que essas resguardassem a paz da Europa e impedissem a proliferação das ideias revolucionárias.
Os líderes participantes do Congresso de Viena ainda propuseram a defesa de dois princípios gerais: o princípio da legitimidade e o equilíbrio do poder. O primeiro determinava que as dinastias que detinham o poder no período anterior ao processo revolucionário francês deveriam reassumir seus tronos e territórios. O segundo pregava que as potências que ganharam a guerra contra a França teriam o direito sobre territórios fora do continente europeu e poderiam permanecer com aqueles que já lhes pertenciam por merecimento pela participação na luta contra Napoleão Bonaparte. Entre os países que se articularam no Congresso de Viena, a Inglaterra foi o que mais se beneficiou a longo prazo, pois conseguiu garantir a hegemonia militar e comercial nos oceanos, além de grande influência política e econômica no continente.
Entretanto, esse retorno à antiga ordem que caracterizou as propostas das potências vencedoras também implicava uma redefinição do mapa geopolítico da Europa, que havia sido profundamente afetado pelo império napoleônico. Para tanto, o czar russo, Alexandre I, propôs a criação de uma aliança. Formada por Rússia, Prússia e Áustria, a Santa Aliança, como ficou conhecida, objetivava garantir a hegemonia desses três países, bem como combater focos de revoluções impulsionados pelas ideias liberais. O primeiro artigo da Santa Aliança pode ser lido abaixo:
Art. 1º De acordo com as palavras das Santas Escrituras que ordenam a todos os homens olharem-se como irmãos, os três monarcas contratantes permanecerão unidos pelos laços de uma fraternidade verdadeira e indissolúvel e, considerando-se como compatriotas, se prestarão, em qualquer ocasião ou lugar, assistência, ajuda e socorro; julgando-se, em relação aos seus súditos e exércitos, como pais de família, eles os dirigirão no mesmo espírito de fraternidade de que se acham animados para proteger a religião, a paz e a justiça. (“Tratado da Santa Aliança”. Trad. Luiz Arnault. Dep. Hist. Contemporânea. UFMG.)
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Por Me. Cláudio Fernandes