Por Me. Cláudio Fernandes
A cidade de Paris (capital da França) viveu uma noite de terror no dia 13 de novembro de 2015. Oito terroristas ligados à organização Estado Islâmico promoveram ataques, com fuzis AK-47, metralhadoras e bombas contra civis franceses e de outras nacionalidades em seis pontos diferentes da cidade. No total, 129 pessoas morreram e cerca de 350 ficaram feridas. Esses atentados de 13 de novembro entraram para o rol dos mais sangrentos já perpetrados por grupos radicais islâmicos, ficando atrás apenas dos atentados de 11 de setembro de 2001 contra os Estados Unidos, promovidos pela rede terrorista Al-Qaeda, à época comandada por Osama Bin Laden.
Os ataques aconteceram entre as 21h16 e a primeira hora da madrugada do dia 14. O primeiro ato foi a explosão de um homem-bomba nos arredores do Stade de France, situado em Saint-Denis, ao norte de Paris. O Stade de France é o estádio de futebol que sediou a abertura e o jogo final da Copa do Mundo de 1998. No momento da explosão, ocorria no estádio uma partida entre as seleções francesa e inglesa, assistida por milhares de expectadores, dentre eles o presidente da França, François Holland.
A esse primeiro ato de terror, sobreveio, às 21h20, um ataque a tiros de fuzil e metralhadora contra dois restaurantes em uma das regiões mais movimentadas de Paris. Os estabelecimentos Le Carillon e Le Petit Cambodge encontravam-se repleto de pessoas. Dezenas delas morreram imediatamente, outras tantas ficaram feridas. Cerca de dez minutos depois uma nova explosão ocorreu próximo ao Stade de France: mais um homem-bomba detonou um cinto com explosivos. A essa altura a polícia parisiense já tinha ciência de que a cidade estava sendo alvo de atentados. O presidente francês foi retirado do estádio por seguranças e policias, e as milhares de pessoas que assistiam ao jogo tiveram que se dirigir ao centro do campo para buscar segurança e receber mais informações a respeito do que estava ocorrendo na cidade.
Minutos depois, os mesmo terroristas que dispararam contra os restaurantes citados acima vitimaram mais dezenas de pessoas em outros dois pontos muito movimentados de Paris: os restaurantes Casa Nostra e La Belle Équipe. Os terroristas abriram fogo indiscriminadamente e depois fugiram em um carro com placa belga, segundo relatam algumas testemunhas. O alvo seguinte dos terroristas foi a casa de espetáculos Bataclan, onde estava sendo realizada a apresentação de uma banda de rock americana.
A invasão do Bataclan pelos terroristas ocorreu por volta das 21h45. Do mesmo modo que fizeram nos quatro estabelecimentos citados, quatro terroristas fortemente armados entraram na casa de espetáculos e abriram fogo contra os presentes. A maior parte do público conseguiu escapar, mas os terroristas ainda mantiveram cerca de 80 reféns. Ao mesmo tempo em que o terror se instalava no Bataclan, uma terceira explosão ocorria nas imediações do Stade de France. Toda a cidade de Paris ficou em alerta e caótica.
A polícia parisiense dirigiu-se ao Bataclan, cercou a casa de espetáculos e preparou-se para invadir o local e libertar os reféns, haja vista que nenhuma negociação era possível. A tentativa de invasão ocorreu depois de 00h30. Quando perceberam que um possível confronto com os policiais era iminente, os quatros terroristas detonaram seus cintos de explosivos, matando a todos os que se encontravam no interior do Bataclan. As investigações que ocorreram nos dias seguintes ao atentado comprovaram que os oito terroristas eram europeus (belgas e franceses) que haviam recebido treinamento na Síria e voltado para a Europa a fim de executarem os atentados.
Ao menos dois dos oito envolvidos haviam morado no bairro Molenbeek, em Bruxelas, na Bélgica. Esse bairro é considerado por especialistas em contraterrorismo um reduto de células de grupos extremistas islâmicos. Além disso, a polícia parisiense descobriu que o mentor dos atentados, o belga Abdelhamid Abaaoud, estava em Saint-Denis, próximo ao Stade de France. No dia 18 de novembro, a polícia invadiu o local onde estava Abaaoud e matou-o. No mesmo local, uma mulher-bomba morreu após acionar o seu cinto de explosivos. É importante ressaltar que Abaaoud, que ficou por volta de dois anos na Síria combatendo com o Estado Islâmico, cresceu em Molenbeek e provavelmente aliciou, ou ajudou a aliciar, os outros terroristas que participaram do atentado de Paris.
O Estado Islâmico reivindicou a autoria dos atentados por meio de uma carta no dia 15 de novembro. Nessa carta, há o seguinte trecho:
“Alá abençoou nossos irmãos e concedeu a eles o que eles desejavam. Eles detonaram os cintos explosivos nas massas de descrentes depois de esgotar suas munições. Que Alá os aceite entre os mártires e permita que nos juntemos a eles. Que a França e todos que seguem o seu caminho saibam que continuarão sendo os principais alvos do Estado Islâmico e que continuarão a sentir o cheiro da morte enquanto seguirem o caminho das cruzadas, enquanto se atreverem a insultar nosso Profeta, e enquanto se vangloriarem de sua guerra contra o Islã na França e de suas ofensivas aéreas contra os muçulmanos na terra do Califado. Este é apenas o começo. E é também um aviso para aqueles que queiram meditar e tirar lições.”
Nesse trecho podemos perceber o teor do extremismo do Estado Islâmico, que, ao se referir às nações ocidentais (e aos mortos), utilizam o termo “cruzadas”, fazendo referência às Cruzadas da Idade Média, isto é, ao passado em que os reinos cristãos lutaram contra a expansão muçulmana pelo território europeu. Fica claro o objetivo de uma guerra de “concepções civilizacionais” que o Califado do Estado Islâmico tenta levar a cabo.