Incas

A civilização inca ocupou, inicialmente, o Peru e depois expandiu seu vasto império. Suas grandiosas construções causam fascínio até hoje.
Vista da antiga cidade inca, Machu Picchu, no Peru.
Vista da antiga cidade inca, Machu Picchu, no Peru.
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Os incas foram povos ameríndios, pré-colombianos, originários da região de Cusco, no Peru. Seu império foi muito importante, um dos mais desenvolvidos das Américas no período de sua existência, junto aos maias e astecas. Tinham uma sociedade dividida em classes e muito hierarquizada.

Eram pautados na agricultura, mas também criavam animais e cultivavam plantas que não eram destinadas à alimentação. Sua arte e cultura eram ricas em técnicas, com objetos coloridos, adornados a ouro, cerâmica e outras pedras. A arquitetura era bem desenvolvida, feita primordialmente com pedras. Foram responsáveis pela criação de grandes monumentos, como Machu Picchu.

Eram um povo politeísta, com deuses embasados nos fenômenos da natureza e nos astros. Os incas eram um povo imperial e teocrático, ou seja, possuíam um imperador com amplos poderes e o tinham como um verdadeiro deus encarnado.

Apesar de terem sido uma sociedade extremamente desenvolvida, numerosa e territorialmente grande, tiveram sua decadência devido ao enfraquecimento por brigas internas pelo cargo de imperador e pelo ataque oportunista dos colonizadores espanhóis.

Leia também: Como os espanhóis conseguiram colonizar a América?

Resumo sobre os incas

  • Os incas eram povos ameríndios, originários de Cusco, na região do Peru.
  • A sociedade inca era dividida em classes, hierárquica.
  • A economia inca era pautada na agricultura.
  • A arte e a cultura eram bastante técnicas, com muitos detalhes e cores. Utilizava-se muito ouro e cerâmica em suas peças, e os objetos eram sofisticados. Realizavam-se festas e cultos de caráter religioso.
  • A arquitetura inca era feita principalmente com pedras. Eles criaram obras grandiosas e de imenso fascínio atualmente, como Machu Picchu, uma cidade-fortaleza no alto da Cordilheira dos Andes, uma das sete maravilhas do mundo.
  • A religião inca era politeísta, com deuses baseados nos elementos da natureza.
  • A política inca era imperial e teocrática. O imperador era tido como descendente direto do deus Sol, Inti, o que lhe garantia poderes absolutos e caráter divino.
  • A decadência do império inca aconteceu devido ao enfraquecimento por guerras internas pelo poder e por conta dos colonizadores espanhóis, que se aproveitaram do momento de fraqueza para assassinar os líderes e conquistar os povos.
  • Os incas, os maias e os astecas foram as sociedades pré-colombianas mais desenvolvidas e bem-sucedidas que ocuparam a América em diversos períodos.

Videoaula sobre os incas

Características dos incas

A civilização dos incas foi, junto à dos maias e astecas, uma das mais relevantes da América pré-colombiana e do mundo. Eles chegaram a construir um grande império em 100 a.C. a 1100 d.C., com diversas fases e características específicas, que veremos no subtópicos seguintes.

  • Política inca

A política inca era imperial, com uma forma de governo teocrático, ou seja, um “sistema de governo em que o poder político se encontra fundamentado no poder religioso, pela encarnação da divindade no governante, como no Egito dos faraós, ou por sua escolha direta, como nas monarquias absolutas”.|1|

Assim, o chefe de Estado era diretamente influenciado pela crença religiosa. Nessa civilização, especificamente, esses governantes eram chamados de Sapa Inca e eram tidos como provenientes diretos do deus do Sol, chamado de Inti, o que lhes garantia largos poderes. Eles podiam arbitrar, inclusive, sobre as vidas das pessoas, decidindo questões amplas e também íntimas, como sobre viagens, mudanças e até casamentos.

  • Sociedade inca

A sociedade inca era dividida em classes, ou seja, profundamente hierárquica. Como vimos, o imperador mandava em tudo, já que era um representante direto do Sol, assim como uma de suas irmãs, com quem geralmente se casava, era descendente da principal deusa mulher, a Mama Quilla.

A família toda do imperador era considerada como nobre, mesmo parentes mais distantes, mas existia também a nobreza para além dos parentes, que era nomeada diretamente por ele para administrar partes ou temas do império, como sacerdotes, militares, juízes e governadores de províncias.

Depois da nobreza, vinham os trabalhadores especializados e os funcionários públicos. E, mais abaixo, os agricultores, que trabalhavam na terra, que era toda de propriedade do imperador, que os submetia a regimes de trabalho, tais como a mita, um regime de trabalho forçado e obrigatório a que cada homem do império inca deveria se submeter em alguma época do ano, quando o imperador convocasse. O nome dado a esse trabalho em quéchua (sua língua oficial) ao pé da letra significava “turno”. Esse regime era adotado principalmente para que fossem feitas obras públicas do império, como templos e estradas, por exemplo.

Outra forma de trabalho e outra classe na sociedade inca era a dos escravos, que eram enviados para trabalhar em regiões perigosas. Eles eram capturados em guerras e aprisionados quando não aceitavam a submissão ao império inca.

  • Economia inca

Os incas tinham uma economia pautada na agricultura. Por meio dela, se alimentavam com batatas e milho, principalmente. As terras eram ou se tornavam férteis com a aplicação de uma técnica fundada por eles, chamada de “curvas de nível”. Consistiam em linhas imaginárias em determinados terrenos que atravessam de uma altitude a outra semelhante. Tais linhas não eram uniformes e acabavam se tornando uma curva — daí o nome. Dessa forma, conseguiram adaptar a prática às regiões de montanha, como nos Andes.

Além da agricultura voltada para a alimentação, cultivavam algodão e pimenta, com trabalhos coletivos e baseados na idade de cada um e cada uma. Criavam lhamas, vicunhas e alpacas. As duas últimas são parecidas com a primeira. São camelídeos, ou seja, animais que guardam certo parentesco com camelos, e todos forneciam carne e lãs de diferentes formas. A lhama servia também ao transporte. Já nos territórios litorâneos, praticava-se a pesca para alimentação.

A produção era controlada pelos funcionários do imperador, que aplicavam impostos da seguinte maneira: havia uma corda, e nela eram presas diversas outras cordas curtas e de várias cores. Esse era o quipu: “nó”, em quéchua, e cada um desses pequenos cordões eram impostos que deveriam ser pagos pelas pessoas.

Tais tributos eram organizados pelo kuraya, chefe de um ayllu, que eram pequenos pedaços de terras onde determinado grupo realizava seus cultivos para a sobrevivência. O kuraya não apenas cobrava impostos, mas também era o responsável por ajudar integrantes do ayllu que porventura estivessem em dificuldade, além de ser o encarregado por dividir igualitariamente os alimentos.

  • Arquitetura inca

A arquitetura inca era feita principalmente com pedras. Esse método é, ainda hoje, alvo de fascínio de pesquisadores e turistas, especialmente em Machu Picchu, uma das sete maravilhas do mundo.

Como o império inca foi muito extenso, ele precisava se defender, por isso as construções mais notáveis eram as de grandes muralhas e fortalezas. Uma das mais famosas é a de Sacsayhuaman (foto abaixo), construída de modo a se parecer com o crânio de um puma.

Vista aérea superior das ruínas incas de Sacsayhuaman, nos arredores de Cusco, Peru.
Vista aérea superior das ruínas incas de Sacsayhuaman, nos arredores de Cusco, Peru.

O corte de pedras nas construções era preciso, o que demonstra que foram limadas intencionalmente para serem encaixadas milimetricamente, mesmo que as peças fossem de grande tamanho. O fascínio e as dúvidas de pesquisadores são sobre de que maneira foram unidas e como era feito o limo. Há hipóteses de que os incas dominavam técnicas também de mineração e fundição, fazendo com que as pedras se tornassem muros por meio de minérios fundidos. Outra teoria é sobre o encaixe, que teria sido feito com tamanha precisão que sobreviveu até os dias atuais.  

São impressionantes também os locais dessas obras. Machu Picchu, por exemplo, que é uma cidade-fortaleza, fica no alto da Cordilheira dos Andes. Pesquisas foram — e ainda são — feitas sobre o transporte de tamanhas pedras até o pico da montanha.

Para demonstrar a força do império, essas eram construções enormes, e, como visto, todo trabalhador tinha um tempo de sua força de trabalho para executar obras do governo. Fora dessas obras, as casas comuns eram feitas de barro, tijolos, outras pedras não tão nobres e com telhados de palha.

Muro de Sacsayhuaman, uma construção inca, no Peru.
Muro de Sacsayhuaman. O encaixe de pedras em monumentos incas é um dos encantos por causa de suas técnicas arquitetônicas, além do tamanho das construções.

Religião inca

Os incas praticavam o politeísmo, ou seja, acreditavam em vários deuses e deusas. Tal prática era comum na América pré-colombiana. Por meio dessas divindades e seus mitos, tentavam explicar o mundo, desde a origem da Terra a pequenos fatos do cotidiano.

Uma dessas histórias mitológicas — que podem ou não serem dos incas, mas há também a possibilidade de algumas serem de origem espanhola; há um debate historiográfico a respeito — dizia sobre o Sol, que estava encarnado no imperador. A lenda conta que a grande estrela se compadeceu da humanidade, considerada não civilizada, e lhes enviou representantes que deveriam ser adorados e obedecidos, pois eram detentores de sabedoria e instrução necessárias para fazerem surgir a civilização. Esses enviados foram chamados de “irmãos cósmicos”.

No entanto, diferentes lendas incas asseveravam que a humanidade foi concebida da argila de uma deusa inca soberana, chamada Viracocha. Essa era a suprema divindade inca, porém o Sol, Inti, era o mais adorado. Além desses, existiam muitos outros e outras, para diferentes elementos naturais, como a deusa da Lua, o deus da chuva e assim por diante.

Dentro da hierarquia religiosa, existiam sacerdotisas e sacerdotes, que passavam toda a sua existência destinados à adoração das inúmeras divindades, e curandeiras e curandeiros, que faziam rezas e sacrifícios. Outra hierarquia dava-se entre as sacerdotisas. As mais bonitas ou eram destinadas a serem amantes do imperador, já que adoravam o deus Sol, ou a jurarem castidade por toda a vida. Essas eram as chamadas acllas.

Além dos sacrifícios realizados pelas curandeiras, existiam os que eram feitos por toda a população em momentos de nomeações de imperadores, guerras e demais períodos importantes. Entre os sacrifícios, existiram, inclusive, os de crianças, que eram mortas e oferecidas às divindades. Para saber mais sobre a religião inca, leia: Religião inca.

  • Arte e cultura inca

Assim como a arquitetura, a arte inca era precisa, ou seja, eram aplicadas técnicas, muitos detalhes e cores. Em suas peças, era comum encontrar bastante ouro e cerâmica. Os objetos eram sofisticados. Culturalmente, os incas não desenvolveram a escrita, mas transmitiam conhecimentos por desenhos ou oralmente. Suas festas e cultos tinham caráter religioso, de adoração aos deuses, que sempre representavam elementos da natureza.

História dos incas

Os incas foram uma das civilizações mais importantes do mundo. Inicialmente, ocupavam a região de Cusco, no Peru. A partir do século XII, realizaram uma expansão que chegou a ocupar as terras que hoje são Equador, Colômbia, parte da Argentina, Bolívia e Chile.

Um império propriamente dito foi formado. Com Cusco enquanto capital de sua região, construíram um forte exército, uma agricultura avançada e uma economia muito rica.

Contudo, os incas não foram os primeiros habitantes dessas regiões. Séculos antes, desde 4500 a.C., a região já era habitada por diversos povos com suas próprias culturas e sociedades avançadas. Entre esses povos, pode-se citar: chimu, chinchas, mochicas, nazca, chavin, manabi, tiahuanacotas e vários outros.

Os poderes militar e de negociação dos incas foram responsáveis pela conquista dessas outras regiões e povos. O processo de expansão do império foi iniciado com a guerra e vitória contra o povo chanca, em 1438, fazendo com que as regiões conquistadas fossem anexadas ao inca, realizando a taxação de impostos sobre os derrotados e criação de estradas para tais locais. Dessa forma, os incas conseguiram um território vasto, com mais de 4 mil quilômetros de extensão.

Leia também: Pontes incas — umas das construções de engenharia mais impressionantes da América pré-colombiana

Decadência do império inca

A queda do império inca se inicia com batalhas e revoltas internas, principalmente a batalha entre os irmãos Huáscar e Atahualpa, filhos de Huayna Capac, pela sucessão do trono inca. Com a súbita morte do imperador Capac, por varíola, sem uma linha de sucessão definida, os irmãos iniciaram uma verdadeira guerra dentro do reino para ver quem seria o próximo imperador, o que acabou por fragmentar o governo depois de cinco anos de luta.

Ao observar a fragmentação do gigantesco império inca, com cerca de 12 milhões de pessoas em sua população, os colonizadores espanhóis, que à essa altura já tinham chegado, aliaram-se aos inimigos dos incas, os destituíram e colocaram fim ao império mais organizado e vasto das Américas. Os espanhóis inferiorizaram o povo e a cultura ameríndia, mesmo com toda sua sociedade avançada em vários aspectos.

Finalmente, em 1533, com cerca de apenas 170 soldados sob seu comando, os espanhóis conseguiram capturar e assassinar o então imperador Atahualpa. Após sua morte, os incas se refugiaram nas montanhas e resistiram por quase mais 20 anos, quando seu último líder, Tupac Amaru, também foi capturado e morto.

Liderados pelo diplomata Francisco Pizarro e com a execução dos chefes incas, os espanhóis dominaram o local e tomaram seu comando, instituindo o vice-reinado do Peru.

Incas, maias e astecas

Além dos incas, existiram outras sociedades pré-colombianas, sendo as mais famosas os maias e os astecas, os quais conheceremos, resumidamente, a seguir.  

  • Maias

A civilização maia formou-se por meio de uma sociedade de cidades-Estados e centros urbanos importantes. Avalia-se que a população pode ter chegado a 1 milhão e meio de pessoas. Os maias nasceram no México, mas também ocuparam as regiões da Península de Yucatán, Belize, Guatemala e Honduras. Eles foram os que resistiram por mais tempo: do século VI a.C. ao X d.C.

De maneira semelhante, o topo da pirâmide social era ocupado por governantes, sacerdotes e funcionários públicos. Toda festa e/ou sacrifício religioso deveria contar com a presença desses que também exerciam liderança não só política, mas também religiosa. Ainda similarmente a outras civilizações pré-colombianas, na base social estavam agricultores e artesãos. Porém, há uma diferenciação: os maias não tiveram impérios unificados, por conta das cidades-Estados, já mencionadas. No entanto, compartilhavam costumes em comum, bem como idioma, arquitetura etc.

Tal civilização existiu por 15 séculos, entre VI a.C. e X d.C., de tal modo que já tinham desaparecido quando colonizadores espanhóis aportaram nas Américas, deixando monumentos importantes, como suas enormes pirâmides. Seus descendentes ainda perseveraram com sua religião e cultura. A base da alimentação maia era o que plantavam — milho (principalmente) e mandioca — e aves que criavam, como patos e perus. Girassol e algodão eram outros itens da agricultura maia.

 Por conta da atividade agrícola, criaram um calendário circular bastante avançado, que os auxiliava para os momentos de plantio, colheita e demais tempos da terra. A religião era politeísta, e as pirâmides, templos.

  • Astecas

Os astecas foram um povo cuja civilização, no período entre 1325 e 1519, se fundou no México e foi até a Guatemala. Estima-se que chegaram a contar com uma população de 15 milhões de pessoas. Ao contrário dos incas e dos maias, que vimos anteriormente, os astecas não achavam que os imperadores fossem reencarnações de deuses, e sim intermediários. De maneira parecida, eles governavam junto a sacerdotes e nobres.

As etnias rebeldes eram duramente reprimidas pelo exército, que tinha muita importância na sociedade asteca. Essa sociedade era organizada por laços de sangue e familiares, ou seja, com ancestrais em comum.

A base da pirâmide social era constituída por artesãos e muitos camponeses, que cultivavam cacau, tomate, abóbora, milho e feijão. Desenvolveram a técnica agrícola chamada de chinampas, pequenas ilhas artificiais onde podiam semear os alimentos de que precisavam. Tinham rotas de comércio na costa do oceano Pacífico e no Golfo do México. Também praticavam sacrifícios para as divindades. Na arte, trabalhavam com estruturas geométricas em cerâmicas, além de penas de aves em coroas para o imperador.

Leia também: Derrota asteca — a ofensiva dos espanhóis que levou essa civilização à ruína

Curiosidades sobre os incas

  • Os incas usavam enormes alargadores nas orelhas, de certa forma, semelhantes aos que existem hoje. Por conta disso, relata-se que os espanhóis chegaram a chamá-los de orejones — “orelhões”, em espanhol.
  • Construíram diversas pontes em seu território. Estima-se que havia mais de 200 pontes suspensas.
  • Os soldados incas casavam-se antes dos 20 anos.
  • As lideranças incas tinham o direito de ter mais de uma esposa.

Notas

|1| Oxford Languages. Disponível aqui. Acesso em: 19 out. 2022.

Por Mariana de Oliveira Lopes Barbosa
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